DIA DA CULTURA MARAJOARA - 20 de Novembro - DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

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num país de escassa memória carece ter dia para tudo. Já vimos quantas datas para lembrar até coisas triviais? Temos até o tradicional dia da mentira (1º de abril), como se por acaso os demais fossem dias da verdade. 

entretanto, não existe ainda um dia para lembrar da mais antiga cultura complexa do Brasil. Por que não? Primeiro,  porque só se ama o que se conhece. No Brasil, nem mesmo os marajoaras contemporâneos conhecem a antiga cultura de seus célebres antepassados; exceto poucos estudiosos donde a maior parte é de estrangeiros encantados com a originalidade dos "engenheiros", "arquitetos" e artistas dos tesos (sítios arqueógicos da ilha do Marajó).  Estes, naturalmente, estão prontos a dizer que a Cultura Marajoara é patrimônio da humanidade, enquanto os brasileiros esquecem o fato de que antes de Cabral; outros europeus passaram aqui. Que Marajó e Amapá eram de Espanha, conforme o "testamento de Adão" e que Pinzón, em 1500, arrancou da ilha grande dos Aruãs (Marinatambalo ou Marajó) os primeiros 36 "negros da terra" (escravos indígenas) da América do Sul.


vejam bem que a escravidão começou em Marajó antes da chegada de escravos trazidos da África Negra! Se as provas do ENEM, por exemplo, testassem conhecimento sobre Cultura Marajoara, sem dúvida, avassaladora maioria de candidatos levaria "bomba"... A culpa, todavia, seria dos ministérios da Educação e Cultura, que não ensinam nem difundem estas coisas, temas fundamentais para defesa dos direitos históricos da Amazônia brasileira. 

devido à citada causa do desconhecimento induzido da Cultura Marajoara pelas elites, a gente do povo não sabe que os povos das ilhas lutavam para ocupar a Terra-Firme (continente) e que este fato histórico fundamental está na gênese da "pacificação" dos Nheengaíbas (marajoaras), em 1659; e da Adesão do Pará ao Império do Brasil (Muaná, 28 de Maio de 1823). 

mutatis mutantis, a teoria da recepção explicará no que concerne à falta de conhecimento nacional da obra de Dalcídio Jurandir, premiada com o "Machado de Assis" de 1972, o mesmo vício do desterro do gueto "regionalista" de que padecem os sertões e a distância amazônica das coisas fora do eixo Rio-São Paulo. Como academias de letras não podem ignorar obras premiadas pela ABL, também o mundo da ciência não poderia desconhecer pesquisas de naturalistas, antropólogos e arqueólogos distintos, na ilha do Marajó, que vão de Alexandre Rodrigues Ferreira (1783) e dos trabalhos empíricos de Ferreira Penna, em fins do séc. XIX, até Denise Schaan na atualidade, passando por Betty Meggers, Anna Roosevelt e outros mais.

sobre Marajó perdura pois, inegavelmente, um mal-estar elitista que vem da década de 1930/40, com a queda de braço entre o Museu Nacional e o SPHAN. Porém, antes que se declare guerra contra Brasília, Rio e São Paulo; convém ser justos e acusar primeiro a Belém do Grão-Pará, cidade senhorial que cresceu de costas para o rio e despreza os subúrbios. A orgulhosa Cidade sempre teve Marajó, primeiramente em conta de inimiga, depois como terra ocupada e fundo de quintal condenada a pescar, lavrar e criar para sustento do Ver O Peso e da boa mesa dos brancos.

segundo, ainda não existe um DIA DA CULTURA MARAJOARA, porque nesta data se poderia talvez contrariar a desmedida mentira que diz ter começado a história do Brasil a partir do "descobrimento" de 1500, pelo fidalgo português dom Pedro Álvares Cabral, cavaleiro da Ordem de Cristo, etc... Não dizem por aí que a Carta de Pero Vaz de Caminha é a certidão de nascimento do Brasil? Não é verdade! A certidão de nascimento do gigante Brasil pode ser a cerâmica marajoara ou talvez a invenção da "Terra sem males" avant la lettre o Pais do Futuro...


política e historicamente, é triste que termine o governo Lula e Ana Júlia sem que a CULTURA MARAJOARA, tal como exposta na arquelogia amazônica; tenha obtido o destaque que merece. Embora o Plano Marajó e programa Territórios da Cidadania, notadamente com o Projeto Nossa Várzea de regularização fundiária, tenham escutado a voz do povo as autoridades não entenderam ainda o principal do recado:

"...se tem achado muitos Pacovaes, mas nunca nenhum maior, que o que se descubrio em 20 de Novembro de 1756, o qual tem o comprimento de 200 braças e 30 de largo...". ("Notícia da Ilha Grande de Joannes dos rios e igarapés que tem na sua circumferencia...", autor anônimo, metade do séc. XVIII).

 datações científicas, segundo Denise Schaan; situam os inícios da Cultura Marajoara cerca do ano 400 da era cristã: não se sabe exatamente quem eram os "marajoaras" inventores dos tesos de camutins. A opção pela data em que os colonizadores acharam o primeiro sítio arqueólógico de cultura marajoara (sítio Pacoval), tem o significado jurídico de uma posse (tal qual de resto, a ilha e toda a região). Com base no relato do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, conclui-se que o agente do governo colonial do Grão-Pará e Maranhão, Florentino da Silveira Frade, foi quem achou o teso do Pacoval.


deste monumento natural (dilapidado) ainda não declarado pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e o IPHAN como devia, falam o Barão de Marajó ("As regiões amazônicas") e Denise Schaan ("Cultura Marajoara", ed. SENAC-SP, 2010). Mas, o Plano Nacional de Cultura e a UNESCO estão pavimentando o caminho... Aos paraenses cabe agora tomar consciência e agir!
  
“O passado é sempre escrito e interpretado a partir do presente. Diz Henrietta Moore (1995, p. 51): “nossas representações criativas do passado são moldadas não pelo que sabemos ser verdade sobre o passado, mas pelo que acreditamos ser verdade sobre o presente”. A ressignificação da iconografia marajoara em contextos contemporâneos serve às necessidades do presente. Pode ser usada, é claro, de maneira positiva para sensibilizar as pessoas sobre a importância de aprendermos e conhecermos o passado e, nesse sentido, sobre a importância de protegermos e preservarmos o patrimônio arqueológico. Através da preservação, garantimos que muitas interpretações ainda serão possíveis nos séculos vindouros e que o passado seja constantemente reatualizado e utilizado de maneira construtiva para criar identidade, cidadania e história.”
Denise Schaan, arqueóloga brasileira.


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