2013 #Ocupe Ver O Peso! (3)

Composição do novo grupo diretor da CMB para o biênio 2012-2013. (Foto: Luana Laboissiere/G1)
sob presidência do vereador Paulo Queiroz (segundo à esquerda), nova diretoria da CMB


O novo presidente da Câmara Municipal de Belém, para o biênio 2013/2014, é o vereador Paulo Queiroz (PSDB), pastor evangélico, político moderado aliado ao governador Simão Jatene e prefeito Zenaldo Coutinho, ambos do mesmo partido que governa o Pará com ampla coligação neoliberal incluindo PMDB, PPS, PSB, DEM e outros partidos. 

Os tucanos do Pará conseguiram retornar ao poder donde haviam caído por descuido. Causa de rompimento de velha amizade entre os conterrâneos e descendentes libaneses Almir Gabriel e Jatene; quando o primeiro poderia ter sido eleito em primeiro turno e deixou escapar o apoio de Jader Barbalho e a vitória para Ana Júlia com apoio do controvertido cacique do PMDB que voltou a se aliar aos tucanos depois de aposentar compulsoriamente o ex-governador Almir e virar as costas aos petistas do Pará, regendo a banda regional como nunca... 

Aos olhos de alguns que enxergam política em noite fechada e quando não veem nada inventam fantasmas, a queda dos tucanos àquela altura resultou simplesmente de puro maquiavelismo da dupla Jader & Jatene tendo Mario Couto no papel de coadjuvante; para outros o acidente foi uma briga de caciques, com Jader se vingando de constantes estocadas de Almir querendo se eternizar no trono em nome da moralidade e da modernidade do estado à la Mario Covas.

Talvez alguns observadores, raciocinando em termos de manual de ciência política; não acreditassem na possibilidade da fiel massa eleitoral do PMDB paraense - herdeira do baratismo tardio -, cambar tão completamente a favor da bela Ana Júlia, estrela vermelha dos palanques. Que nem, outrora, senhores donos de terra no interior deixaram o velho cacique Lemos a pé para eleger de repente o insuportável republicano Lauro Sodré, na decadência da Belle Époque da borracha...

Mutatis mutantis, foi o que se viu na queda de Almir, embora a incontornável presença de José Sarney no governo Lula e Dilma até aposentadoria compulsória de José Serra, o atropelador da candidatura Roseane Sarney à presidência da República; esteja ainda a olhos vistos para escarmento de apreciadores das diferenças, não tão sutis assim; entre teoria europeia e pratica tupiniquim.

Em tempos idos e vividos alguém disse ao romancista Dalcídio Jurandir que Marajó é um feudo da província do Pará. O que o autor de "Chove nos campos de Cachoeira" retrucou: Ledo engano! Nas ilhas nós ainda não chegamos ao feudalismo... Explicando, no feudalismo os barões se unem contra o absolutismo do rei; no Marajó o que vige é reizado, cada fazenda é um reino contra outra com sua pequena corte, vassalos e a plebe rude formada pela criaturada grande do lugar.

Como se eu fosse visitante, ontem por acaso assisti ao espetáculo impressionante de instalação de mais uma legislatura da primeira câmara de Vereadores da Amazônia e não pude deixar de pensar em todas estas coisas. Com certeza, nenhum dos novos eleitos estaria em condições de responder a duas os três perguntas sobre a história do "legislativo mirim". No resto dos municípios amazônicos se algum historiador falar no célebre "Diretório dos Índios" (matriz do nosso municipalismo) será como falar grego...

Difícil a um trabalhador de baixa renda e pouca instrução, como por exemplo, um responsável pelas condições de vida de uma das 4000 famílias ou cerca de 12 mil pessoas entre adultos e crianças; que dependem diretamente da feira do Ver O Peso; se lembrar do nome do candidato em quem votou nas eleições anteriores a 2012. Quanto mais a prestar atenção à dança das cadeiras que seu voto determinou e resultou, inclusive, na defenestração da esquerda paraense a qual supostamente deveria cuidar com prioridade das questões sociais e econômica para erradicação da pobreza conforme compromissos políticos assumidos pelo Brasil em plano mundial. 

Pouco importa agora procurar bodes expiatórios, mas a verdade manda dizer que nossa esperançosa esquerda que nunca foi lá uma muralha, acabou fendida por divergências internas durante os quatro anos de governo de centro-esquerda chefiado pelo PT-PA, fazendo, entre 2007 e 2010, apenas breve hiato à longa hegemonia conservadora na região desde sempre. Com exceção, é claro, dos oito anos de mandato do ex-prefeito da capital Edmilson Rodrigues ainda na legenda do PT, quando algumas mudanças democráticas foram implantadas com relativo sucesso.

Mas, infelizmente, Edmilson rompeu com o PT ou o PT rompeu com Edmilson e ele saiu para fazer parte da dissidência que fundou o PSOL. Está visto que isto foi um erro político, como é erro ainda o PSOL fazer coro ao antilulismo conservador.  O povo brasileiro tem neste momento dois graves problemas políticos: o primeiro é comparável a um pecado venial, a idolatria ao Lula; e o segundo, o ódio irracional ao Lula acaba sendo mortal para as pretensões de nossa gente escapar às garras do imperialismo seja ele qualquer que seja, vindo de onde vier. Até mesmo do centro hegemônico brasileiro hospedado no Sudeste e alinhado ao capitalismo transnacional.

Edmilson ausentou-se taticamente do Pará por algum tempo, talvez até para evitar aumentar o racha esquerdista. Porém ao retornar a casa foi eleito como o deputado estadual mais votado das últimas eleições e assim concorreu ao cargo de prefeito de Belém no ano passado. 

Seguramente a chapa Edmilson Rodrigues (PSOL) - Jorge Panzera (PCdoB) teria sido eleita em primeiro turno, caso a taxa bruta de personalismo baixasse entre formadores de opinião com amor às classes trabalhadoras e a herança do racha da crise do PT (síndrome do "mensalão") não tivesse inviabilizado a aliança tardia e a contragosto entre PSOL e PT no segundo turno, que deveria colocar Afredo Costa como candidato a vice-prefeito; e priorizar a eleição de Panzera como primeiro vereador do PCdoB antre dois ou três eleitos do partido, quiçá presidente da Câmara hoje. 

Desta maneira, não só a esquerda paraense teria recuperado terreno, mas  aproximando-se do Amapá onde o PSB governa e o PSOL conquistou a prefeitura da capital Macapá; uma tentativa de reaproximação difícil mas possível poderia ser tentada para reeleição, nada fácil; da Presidenta Dilma Rousseff a começar do Oiapoque até o Chuí; preservando o processo democrático de crescimento econômico com inclusão social em curso. Justo numa hora perigosa em todo mundo.

O novo presidente da CMB, pastor Paulo Queiroz, foi eleito em chapa única aprovada por 24 votos, tendo 8 votos contra e 3 abstenções do colegiado municipal formado de 35 vereadores. Tem ampla maioria diante de uma minoria visivelmente abatida e dividida entre egos mais sensíveis à própria imagem do que voltadas para a coletividade do mundo em que vivem.

Em meio à crise é que nascem as verdadeiras lideranças. Pouco se espera do prefeito Zenaldo Coutinho e do presidente da câmara Paulo Queiroz. Tampouco se pode acreditar que reine paz e bom entendimento nas hostes do PSDB e seus aliados. Para o cidadão comum o melhor será que o governo governe e que a oposição faça oposição, sem que ambos lados se esqueçam que afinal de contas nenhum lado é dono do Povo e muito menos dos votos dos eleitores: ainda quando estes últimos em maior parte ignorem o poder que lhes confere o estado democrático de direito.

Os onze votos que não disseram "sim" ao rolo compressor governista na Câmara Municipal de Belém perderam oportunidade de marcar o 1º de janeiro 2013, com um gesto histórico a poucos dias do aniversário da Cabanagem e da fundação de Belém. Que seria o lançamento de uma chapa anti-consenso de Washington capaz de acender um farol de navegação daquilo que desejamos ver acontecer em meio a crise global: a saída possível da crise. E que não é outra que aquela que a Presidenta Dilma foi demostrar na França ao lado de seu colega francês François Hollande, previamente aprovada pelo Coletivo Roosevelt (lançado em Paris em março de 2012, em memória do Presidente Roosevelt do Estados Unidos, que, em 1929; tirou o mundo da recessão).

A Amazônia é a bola da vez e Belém do Pará, prestes a festejar seus 400 anos de fundação; terá seu centro histórico com o Ver O Peso reconhecido com título de paisagem cultural do Brasil junto com igual título ao Rio de Janeiro.

Se a oposição podia prever a inevitável eleição do candidato do partido do governo, como ficou provado, então havia duas escolhas aceitáveis pelo distinto eleitorado: (1) dialogar, legitimamente, com Paulo Queiroz desde que até a famosa Pedra dos peixeiros do Ver O Peso sabia que seria ele o escolhido do prefeito Zenaldo Coutinho e do governador Jatene; a fim da tal chapa única significar um gesto de boa-vontade rumo aos 400 anos de Belém; (2) fechar questão em torno de chapa de unidade oposicionista, sabendo antecipadamente do insucesso; mas restaria dar ao gesto um símbolo político capaz de sensibilizar o público.

Este anti-candidato, está visto agora, poderia ter sido o vereador operário Cleber Rabelo (PSTU), que aliás deu o melhor recado numa tarde chuvosa e mal saída da ressaca de virada de ano. Faltou coordenação à esquerda, faltou análise política mais profunda da real situação e, sobretudo, humildade entre os atores do interessante espetáculo quando a administração passada se despediu sem bilhete e sem foguete. Mas, não se pode tapar o sol com peneira, se a direita carece de brilho; por outra parte a esquerda começou o ano, com "pé esquerdo" como diz o ditado popular.

Façamos votos de pronto restabelecimento para uma parte e outra, afinal 2013 está só começando e o caminho é longo.



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