pro-Criação da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARAJÓ












No último dia 7 do corrente, completou nove anos da pranteada morte de Giovanni Gallo (Turim, Itália, 27 de abril de 1927 - Belém do Pará, Amazônia Brasil, 7 de março de 2003), o pirandeliano criador do Museu do Marajó - www.museudomarajo.com.br e autor do livro-reportagem "Marajó, a ditadura da água": "o marajoara que veio de longe", na sentida expressão de Camillo Viana...  Com testemunho de Maria de Belém Menezes, filha do memorável reitor da Academia do Peixe Frito e correspondente do premiado autor marajoara de "Chove nos campos de Cachoeira" foi Dalcídio Jurandir quem incentivou o padre italiano dos pescadores do Lago Arari - padre insubmisso, como se lê na autobiografia "O homem que implodiu" - a fazer seleção de seus artigos semanais na imprensa do Pará e publicar em livro. Começou assim a literatura do Gallo arariuara que, se por completo azar da Criaturada grande de Dalcídio, as autoridades responsáveis, um dia deixarem ir abaixo o museu ao qual o padre deixou a carreira de missionário para dedicar a sua vida aos que não tem história nem futuro; como foi o caso lastimável da ruína e destruição do chalé do ciclo literário dalcidiano; tal como este a escrita do padre excluído perdurará sobre a ruína de todos os tesos e do ecoMuseu que ele organizou com os cabocos, como fosse uma acusação à inconsciência da Cultura Marajoara vagando pela primeira noite do mundo nos campos que nem os olhos mortos do personagem Eutanazio...

QUAL O SENTIDO MAIOR DE UMA UNIVERSIDADE MARAJOARA?

Se apenas fosse para promover o ensino superior e a extensão universitária numa população pouco acima de 400 mil habitantes dispersos entre 1700 ilhas, campos e matas equatoriais; bastaria aumentar a verba pública aos campi já em atividade na mesorregião do Marajó desde, 1986, com a implantação do Campus da UFPA em Soure até, recentemente, os campi da UFRA em Gurupá e do IFPA em Breves, sem esquecer ainda a UEPA em Salvaterra. Além destes estabelecimentos de ensino superior, contam-se também como núcleos do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável (ICMBio) em Breves e Soure; Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), com sua Estação Científica Ferreira Penna (ECFP) enclavada na Floresta Nacional Caxiuanã que, por sua vez, já é um enclave dentro do suposto território dos municípios de Portel e Melgaço. E a EMBRAPA que tem uma fazendo sub-aproveitada em Salvaterra há tanto tempo...

Neste caso, o que se tem de melhor a fazer é rezar muito a todos os santos padroeiros dos municípios, invocar os caruanas ou bater tambor para despertar a consciência dos nobres representantes do povo a fim de pressionarem eles a União, o Estado do Pará e as dezesseis Prefeituras Municipais, associadas à defasada AMAM; para tirar do papel a letra morta do Parágrafo 2º, alínea VI, do Artigo 13 da Constituição Estadual revitalizando o dispositivo constitucional. Para que a APA-Marajó mais o ZEE, de verdade, se tornem o coração pulsante do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó (PLANO MARAJÓ). E, com este último levado a sério, a candidatura da Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia deixe de ser potoca a distrair os menos preocupados com a questão marajoara, seu IDH de fome sendo remediado, a malária idem, regularização fundiária prosseguindo em paz e salvamento, analfabetismo sendo drasticamente reduzido...

Mas tudo isto é o que, normalmente deveria ser. e não carece criar uma Universidade para resolver aquilo que as pessoas não querem fazer... Então, o caso é outro.

  C&T TROPICAL COM MAIS RESPEITO AO CONHECIMENTO TRADICIONAL

O desmembramento da Universidade Federal do Pará - UFPA, com exemplo do Oeste do Pará, para criação de uma universidade pública na região do Marajó, localizada no delta-estuário da maior bacia fluvial da Terra; só se justifica como uma aposta brasileira no resgate da primeira cultura complexa da Amazônia – a Cultura Marajoara – de 1500 anos. Logo, isto deveria ser uma pauta prioritária para a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) com o concurso de agências da ONU, tal como o Programa "O Homem e a Biosfera" (MaB/UNESCO).


O primeiro grito oficial poderia ser logo em junho do corrente, na Rio+20. Sem uma demonstração de sensibilidade por parte das autoridades competentes, as populações ribeirinhas e amigos da Criaturada grande (inclusive no exterior...) poderão interpretar, pela longa experiência do passado; que toda esta tempestade de sonhos e ideias não passa de fantasia e que tudo acaba indo para as calendas gregas...

De fato, o que a UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARAJÓ tem a fazer é formalizar em ato político e jurídico perfeito aquilo que já existe de maneira informal há muito tempo. A história do Marajó começa antes do descobrimento do Brasil e sua original arqueologia aponta ao povoamento pré-colombiano das Guianas e Baixo Amazonas. Notável pela disputa entre potências coloniais no final do século XVI e início do XVII, o antigo Povo Marajoara teve participação em acontecimentos históricos importantes na construção territorial da Amazônia Brasileira além da linha de Tordesilhas, notadamente a tomada de Gurupá (1623) aos holandeses instalados no Xingu e Baixo Amazonas desde cerca de 1599... Com a pacificação das populações indígenas do Marajó, em 1659, pelos Jesuítas foi criada a Capitania hereditária de Joanes (1665-1757) que está à origem do sistema de sesmarias e da pecuária a partir de 1680. Com o regime do Diretório dos Índios (1755-1798), as aldeias missionárias foram elevadas a vilas e lugares. Na Adesão do Pará à Independência Marajó se destacou no movimento nacionalista de 1823, e desde então a municipalização se consolidou até o presente com 16 municípios em três microrregiões somando 104 mil km² e mais de 400 mil habitantes distribuídos pelos seguintes municípios: Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Cachoeira do Arari, Chaves, Curralinho, Gurupá, Melgaço, Muaná, Ponta de Pedras, Portel, Salvaterra, São Sebastião da Boa Vista, Santa Cruz do Arari e Soure. Embora o IBGE não o inclua na mesorregião do Marajó, a história e cultura do município de Oeiras do Pará o recomenda como co-participe da comunidade intermunicipal marajoara.

A insularidade desta que é a maior região fluviomarinha do mundo explica a insuficiência de estudos sobre suas potencialidades e peculiaridades, bem como as dificuldades de transporte e comunicação que fizeram com que seu desenvolvimento fosse muito retardado. O programa de interiorização da Universidade Federal do Pará – UFPA com instalação do Campus Universitário do Marajó-Soure, em 1986, e seu núcleo de Breves cumpriu importante papel que agora precisa ser acelerado com a criação da Universidade Federal do Marajó – UnM a fim de induzir novo impulso ao desenvolvimento sustentável e resgate histórico da região insular marcada pelo isolamento geográfico e a marginalização social. Como revela a premiada obra do romancista do Marajó, Dalcídio Jurandir; e o sui generis Museu do Marajó fundado por Giovanni Gallo em 1972, chamando atenção do Brasil e do mundo para o rico patrimônio arqueológico saqueado e disperso até no estrangeiro.

O modelo institucional e acadêmico a ser adotado para a implantação da UnM deverá ser multicampi, o que permitirá a exploração do potencial socioambiental de cada município e interior da região insular formada por arquipélago de 1700 ilhas e parte continental na microrregião de Portel, servindo, ao mesmo tempo, de pólos de integração do território com mais de 500 comunidades locais e unidades de conservação tais como a Flona Caxiuaná, RDS Itatupã-Baquiá, Resex Mapuá, Gurupá-Melgaço, Terra Grande-Pracuúba e Resex Marinha de Soure.

A estrutura organizacional proposta assemelha-se a estruturas organizacionais de diversas universidades públicas federais e estaduais. Acreditamos que a criação da Universidade Federal do Marajó – UnM trará efetivos benefícios a Amazônia Oriental e ao corpo acadêmico brasileiro como um todo na área do conhecimento do Trópico Úmido planetário, mediante aumento de oferta de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica do desenvolvimento sustentável, gerando prosperidade e bem-estar da população da região, inclusive seu entorno repercutindo positivamente sobre a área metropolitana de Belém e ZPE Macapá-Santana e o resto do mundo através do intercâmpio universitário e a cooperação internacional. Sobretudo, projetos como este deveria ser pilotos para o já sumido Plano Amazônia Sustentável (PAS), que como outras coisas, vão e vem ao sabor da maré das conveniências pessoais de certos gênios da modo.


Sem a sustentabilidade da cultura popular tudo isto terminará em marquetingue raso como voo de galinha. Mas, o Museu do Marajó e a casa de Dalcídio Jurandir poderão ser alicerces do que falta para que o Brasil e o mundo saiba daquela primitiva "universidade pés-descalços" que ainda os ritos da pajelança insistem em dar mostras de resiliência do elemento Água.

Comentários

  1. imagine que dá certo e se cria, sim, a UnM como universidade multicampi e sede no município de melhor infra-estrutura urbana, Breves.

    então, que nome dar ao Campus central? Eu se apitasse alguma coisa mais do que bancar tatucaba em perseguição de quem mexe com quem não deve na beira de rio da Criaturada grande de Dalcídio, ia querer batizar esse tal de Campus Cacique Piié Mapuá.

    recuperação da memória d dia histórico de 27 de Agosto de 1659: quando o lider marajoara do rio Mapuá foi destacado pelo Padre Antônio Vieira como o mais notável e perspicaz dos Sete Caciques que negociaram o fim de 44 anos de guerra da conquista do "rio das Amazonas" desde a tomada de S.Luís-MA, em 1615.

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  2. por conseguinte, seguindo o mesmo princípio eu proporia aos dezesseis campi integrados, os seguinte nomes incluindo Oeiras do Pará à comunidade de municípios universitários marajoara para a mesma decidir democraticamente:

    1 - Breves: Campus Cacique Piié Mapuá;
    2 - Oeiras do Pará: Campus Araticum;
    3 - Bagre: (a ser apontado em pesquisa local);
    4 - Portel: Campus Aracaru;
    5 - Melgaço: Campus Aricará;
    6 - Gurupá: Campus Mariocai;
    7 - Afuá: Campus Afuá (topo in Vicente Salles);
    8 - Chaves: Campus Aruãs;
    9 - Anajás: Campus Anajás (povo histórico);
    10 - Santa Cruz: Campus Arari;
    11 - Soure: Campus Maruaná [Maruanaes];
    12 - Salvaterra: Campus Sacaca;
    13 - Cachoeira: Campus Arariuna;
    14 - Ponta de Pedras: Campus Itaguari;
    15 - Muaná: Campus Muaná;
    16 - S. Sebastião: Campus Pracuúba;
    17 - Curralinho: Campus Maruaru.

    é claro que isto é só uma provocação para fomentar o debate: todas sugestões tem em comum o resgate étnico e topográfico da grande região insular do estuário amazônico.

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