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LÁ E CÁ MÁS FADAS HÁ

Município de OeirasBem-vindo!






Abaixo texto do amigo Fernando Silva, incansável buscador de tesouros da história e cultura portuguesa, ele que é um tipo da minha grei. Apaixonado pelos Açores fez tudo que pôde para estabelecer intercâmbio com o Pará a partir da geminação das duas Barcarenas (Brasil e Portugal). Não preciso dizer que também eu aí estive lavrando a terra ingrata das relações luso-brasileiras. Mas não se vá dizer que é só por falta de interesse das respectivas autoridades, na verdade tirando à parte interesses próprios de uma ou duas pessoas, as duas sociedades nascidas da mesma história não estão lá para estas coisas empoeiradas pelo tempo.

O fato é que o interesse econômico voltado, quase que exclusivamente, aos grandes negócios; mesmo quando em nome da história, cultura e da língua; perde de vista muitas destas coisas que dão substância à comunidade lusófona internacional. Por exemplo, quem sabe hoje que o nome Brasil antes que aqui fosse o "país do pau-brasil" foi em Portugal uma desconhecida e imaginária terra onde se acharia o "brazyl", matéria-prima tintorial fornecida à Europa pela a velha Eyre (Irlanda)? Nesse espaço fabuloso estaria o país de São Brandão, as Ilhas Afortunadas e Antilhas... Por fim, as ilhas dos Açores materializaram a ilha Brasil antes do descobrimento de Pindorama... Casais açorianos povoaram o antigo estado-colônia do Maranhão e Grão-Pará, Santa Catarina e Porto Alegre dos Casais (Rio Grande do Sul).

Outro traço marcante da memória ligando as duas margens do Mar-Oceano atravessou do sítio da Nazaré (Portugal) até Belém do Pará e agora vamos para mais um Círio cuja devoção, bem mais modesta porém com a força perene da lenda, nasceu nas praias atlânticas lusitanas aonde primitivas emigrações cristãs da Galiléia foram parar. Veja logo adiante as notícias açorianas do amigo Fernando Silva e verá como muito mais coisas comuns vieram ter cá com a gente.


Praia da Nazaré

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Elevador da Nazaré

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Sítio da Nazaré

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Porto da Nazaré



DIÁRIO DE UM JORNALISTA

AÇORES UM MANANCIAL DE CULTURA


por Fernando Silva,
do Museu Etnográfico de Tercena [Barcarena], Portugal

As ilhas portuguesas, nomeadamente do arquipélago
açoriano, têm um grande número de referências de índole
cultural, concentradas nos seus museus, no seu património
edificado, nas tradições que se mantêm vivas há centenas de
anos e afinal nos seus desígnios, religioso e festivo, como a
Festa do Espírito Santo, as suas empolgantes touradas à corda, as
festividades “Sanjoaninas”, as emocionantes procissões, assim
como os “bailinhos” e “danças de pandeiro” levadas a cabo pelo
Carnaval.
Tradições e recolhas que produzem um grande impacto junto
de quem visita essas encantadas ilhas atlânticas, gente vinda
de outros países e até mesmo do continente português, pois a
principal procura, são sem dúvida os seus bem estruturados
museus existentes praticamente em todas as ilhas onde
encontramos espaços dedicados à vida de seu povo e ilha e
é precisamente nesses locais que os curiosos descobrem a
verdadeira essência da razão de viver daquele povo que tão
sacrificado tem sido, pelo horror dos terramotos, manifestações
vulcânicas e formas de vida onde a emigração os obrigou para
poderem sobreviver .
Num périplo que demorou cerca de sete anos, destacamos
o Museu da Graciosa, onde o Dr. Jorge Cunha, seu director,
nos explanou com grande conhecimento o que tem exposto no
seu espaço, não esquecendo as lanchas que corriam os mares
açorianos na caça à baleia, os seus aprestos, os moinhos de vento
e afinal tudo quanto envolveu a vida dos habitantes daquela ilha,
como as adegas, a feitura do vinho e todos os obsoletos utensílios
utilizados em tempos mais recuados.
Na ilha do Faial, foi importante e bem esclarecedora a visita
efectuada ao “Museu da Baleia”, onde em anos atrás se recebiam
os crustáceos e os transformavam em óleos e farinhas, museu
criado dentro da própria fábrica que deixou de laborar, devido à
extinção daquela arte que era fértil, famosa e o principal ganha

pão de quase todas as famílias das ilhas do arquipélago.
O “Museu dos Baleeiros” na ilha do Pico, que mostra em
pormenor, não só os utensílios utilizados pelas armações, como
toda a dura vivência dos pescadores, seus sacrifícios e afinal as
suas conquistas que tantas vezes lhes roubaram a vida.
No Faial não podemos esquecer ainda as memórias do
devastador vulcão dos Capelinhos, onde numa localidade bem
perto dele, se mostra, embora sucintamente, os destroços dessa
grande desgraça, e ainda, mesmo no centro da cidade da Horta
se pode apreciar o museu da cidade, grandioso e bem explicito
das artes e ofícios daquele povo, assim como mesmo à beira do
cais, o bem conhecido “Peter”, que no seu famoso café expõe
um extenso espólio dos trabalhos artesanais dos pescadores e
marinheiros que passavam pela ilha e a ela aportavam na procura
do seu “pão quotidiano”, nas rudes lides do mar.
O “Peter” que era visitado por marinheiros de todo o mundo,
estes, passando pela cidade da Horta, deixavam as suas cartas
para que as mesmas dali seguissem para os seus destinos,
casa que ainda hoje é considerada uma das mais famosas do
arquipélago, pois não há ninguém que se desloque à ilha que a
não visite porque a curiosidade das histórias contadas em todo
o mundo, sobre aquele local são de facto muito empolgantes e
curiosas.
A importância desse tão simples facto era tão lato no conceito
social, pelo menos no conhecimento de novidades por parte
das famílias dos pescadores e marinheiros que andavam meses
no mar, que hoje, passados tantos anos, muitos ainda querem
conhecer esse local e lá está no primeiro andar todo o espólio
conseguido pela família, sendo de destacar os magníficos
trabalhos executados nos marfins das baleias.
Na ilha Terceira os museus e espaços museológicos são
imensos, pois um dos mais significativos, é o “Museu do Vinho”
na vila de Biscoitos, que mesmo na própria adega onde se
produz esse precioso néctar, no primeiro andar existe um núcleo
museológico que os seus responsáveis fazem questão de o mostrar
a quem por li passa e os turistas são muitos, pois os Biscoitos,
para além de uma excelente zona balnear, devido ás suas piscinas
naturais, mostra todo esse acervo vinícola, e no Museu lá se

encontram os seus adereços e todos os apetrechos ligados à
indústria do vinho.
A mini, mas esclarecedora sala museu de S. Mateus na ilha
Terceira, onde se concentram ainda duas das lanchas motoras,
chamadas “gasolinas” da caça à baleia, também é muito
procurada pelos turistas que ali aparecem.
O Palácio dos “Capitães Generais” em Angra do Heroísmo,
com todo o requintado espólio da época onde ainda hoje serve
para pernoitar as figuras ilustres que visitam aquela ilha, mostra
um mobiliário riquíssimo e bem tratado, incluindo alguns
objectos que nos fazem lembrar histórias famosas ocorridas na
ilha e que a tornaram famosa, como a expulsão dos espanhóis,
durante a estada dos reis filipinos no século XVI, na sangrenta
batalha da Salga.
Brianda Pereira, uma corajosa mulher que soltou o seu gado
bravo dizimando o exército de nossos “irmanos” que ainda hoje
exibe o simples, mas significativo monumento em pedra negra
em S. Sebastião, mesmo junto ao mar, matando centenas de
espanhóis que pretendiam tomar a ilha por assalto.
Mais tarde a Terceira assistiu e recolheu os revoltosos das
guerrilhas provocadas pelo movimento “miguelista” e que deu
uma vez mais a honra de Angra do Heroísmo voltar a ser capital
da nação, factos que se podem analisar no salão nobre do edifício
da Câmara Municipal, na Praça Velha e que valorizam muito a
ilha e o seu povo, que a dado momento passou a estar de costas
voltadas com S. Miguel.
A visita guiada a pé pela cidade, mostra o rico património
edificado de Angra do Heroísmo, com a subida ao Monte Brasil
onde ainda se encontram as peças de artilharia que defenderam
sempre a ilha por diversas vezes, durante alguns ataques àquela
importante cidade que por duas vezes, teimosamente, não se
deixou vencer pelos inimigos, vendendo assim, cara a sua
rendição.
A visita ao Museu de Angra do Heroísmo, trata-se de uma
mostra indesmentível da situação e história geográfica, biofísica
e humana das ilhas, onde muitas coisas do passado nos desnuda,
entre elas a recordação da importante fábrica de tabaco, e ainda
uma grande colecção de coches e liteiras, transportes do passado

utilizados pelos açorianos e alguns do continente, entre muitas e
valiosas lembranças do passado que acabaram por sustentar a viva
e importante cultura do povo açoriano.
Tem especial destaque o “Charanã” do século XIX, o “Cupé”,
o “Vitória” e o “Milorde” assim como uma grande exposição
sobre várias armas, entre elas, metralhadoras utilizadas na
I e II Guerras Mundiais, num magnífico trabalho artístico,
não esquecendo as famosas Festas do Espírito Santo e
as “Sanjoaninas” que são famosas em todo o mundo e levam à
ilha milhares de forasteiros e turistas de todos os cantinhos do
planeta.
O Convento de Santa Clara dedicado à clausura da santa com
o mesmo nome, também foi uma das visitas que efectuamos,
pois apreciamos todo o valor ancestral e espírito religioso ali
concentrado.
Mais para sul da ilha vamos encontrar o museu de Altares,
pequeno mas igualmente bem explícito das actividades ancestrais
que ali se praticavam, tal qual o de S. Bartolomeu que recebem
muitos curiosos que por ali aprecem.
Ainda na Ilha Terceira, ficamos pasmados com a importância
dada ao gado bravo, onde todos os dias de Maio a Outubro se
efectuam touradas à corda e o atractivo que elas constituem para o
turismo.
A descida empolgante e sempre respeitada com muita emoção,
ao Algar Carvão, ao fundo de um adormecido vulcão, para
visitar as suas maravilhas naturais, como são as estalactites e
estalagmites ali existentes.
Em S. Miguel, pudemos visitar em pormenor a Casa da Cultura
em Ribeira Grande, adaptada à antiga casa do capitão Moura
Arruda, construída no século XVII, que a partir dos anos setenta
do século passado foi adquirida pelo Governo Regional dos
Açores e transformada num importante núcleo museológico.
Mostra sobretudo os velhos ofícios da ilha, algumas
reminiscências arqueológicas, assim como exibe com vaidade
o grande presépio que começou a ser construído em 1913 por
iniciativa do prior Evaristo Carreira Gouveia, tendo igualmente
em exibição a evolução da azulejaria que se iniciara no século
XVI.

Não puderam ser esquecidos os viveiros de ananás, a
beleza das bem tratadas flores na vila do Nordeste e tantas
outras maravilhas ou não fosse a ilha uma das mais bonitas do
arquipélago.
Em Santa Maria, mais propriamente na freguesia de Santo
Espírito, vamos encontrar a Cooperativa dirigida por mulheres
e que acaba por dar sustento a todas elas, onde fazem os seus
trabalhos comunitários, desde o fabrico do pão, ás rendas,
aos fatos tradicionais dos grupos de folclore, e outros lavores
artesanais que são postos a venda.
Fabrica-se, para além do pão vulgar, a “massa sovada”
fornecendo todos os Impérios da ilha e pessoas que o desejem
adquirir e o espaço ocupado pela Cooperativa é quase um museu
aberto a toda gente, onde não faltam os velhos teares com que
trabalham as lãs e as transformam em camisolas e outras peças de
roupa que por norma são colocadas à venda na capital da ilha, em
vila do Porto.
Ilha que viveu sob o signo da cerâmica em tempos mais
remotos, devido às jazidas de almagre, com que se fabricavam os
vários objectos, actividade que hoje praticamente se perdeu, mas
restando o nome da freguesia, Almagreira, criada em 1906.
Devido a esta importante indústria, repetimos, hoje
praticamente extinta, João Santos, responsável pelo Museu
do Santo Espírito, edificado numa velha casa daquele lugar,
mesmo na retaguarda da igreja da vila, mostra-nos o que de
mais importante existiu naquela ilha, ressaltando de imediato a
cerâmica que teve grande impacto, com a exportação dos seus
fabricos para todas as ilhas, assim como muitos dos costumes
e vivência do povo de Santa Maria, que acabam por ter um alto
significado, esclarecendo bem o seu passado a quem o visita e
procura aquele bem estruturado núcleo museológico.
Em S. Jorge, o museu que o pároco das Velas possui num
espaço dentro da sua igreja Matriz, também é notável.
Uma colecção digna do maior apreço e um investimento que
o dedicado padre Manuel da Silveira fez com a ajuda do povo
e gente emigrada para reunir ali um enorme e valioso espólio
religioso.
Também bastante importante foi a visita à Fábrica de Queijos

da Cooperativa da Beira, onde a qualidade impera, sendo de
realçar as explicações dadas sobre a análise do autêntico e
rigoroso fabrico daquele lacticínio que é reconhecido em todo o
mundo.
Todas estas visitas foram importantes pois proporcionaram
uma maior visão sobre estas maravilhas espalhadas pelos mais
diversos locais das ilhas visitadas, considerando-se mesmo
momentos únicos que nos ofertaram um pouco da sua valiosa
cultura, engrandecendo assim os nossos conhecimentos sobre as
artes, o património, as vivências, as distracções e afinal como, as
dificuldades de vida sofridas em várias épocas desde que foram
descobertas, o povo ilhéu conseguiu construir uma forma de vida,
muito sua.
Apesar da solidão, do isolamento, da distância do mundo
civilizado e cosmopolita devido a estarem envoltas na imensidão
atlântica, inibindo-se assim de grandes voos, conseguiram
proporcionar-lhe uma especial cultura, e assim mais uma vez
provar que, embora agarrados à mesma nação, à mesma religião,
ao mesmo fio umbilical, diferem significativamente das culturas
continentais.
Todas se respeitam pois todas se unem numa congregação
ajustada e respeitada proporcionando a esta pequena nação
chamada Portugal, um estatuto de povo culto, civilizado,
respeitador e um dos países que mais história e importante
criou neste planeta, sem esquecer a época em que fomos o
povo que dominou o mundo, através da epopeia marítima do
século XV, onde afinal e aqui terá de haver um grande e valioso
reconhecimento, as ilhas açorianas tiveram papel preponderante
no respeitante à sua reconhecida e valiosa cultura.

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