AMAZÔNIA E CARIBE NA VIRADA DESCOLONIAL DO SÉCULO 21

Aimé Cesaire
Bruno de Menezes
Neste dia, há 191 anos passados, o Povo do Pará nos quartéis
e nas ruas manifestou cabalmente seu desejo em dar fim ao colonialismo
a que estava submetido. Pronunciou-se assim a favor da Adesão do Pará
à Independência do Brasil. Viu-se reprimido covardemente: proclamou
sua decisão na histórica Vila de Muaná, na ilha do Marajó, a 28 de Maio.
Traído e humilhado no arranjo anglo-português de 15 de agosto, se
rebelou e foi massacrado como registra a tragédia do brigue "Palhaço",
por fim a guerra-civil dita Cabanagem (1835-1836), debelada com um
genocídio. A anistia de 1840 e suas esperanças tardias de justiça e paz.
A frustração desta vontade popular pelo império neocolonial do Brasil
foi responsável pelos terríveis acontecimentos históricos que, desde 1831
até mais de 1840, enlutaram a briosa sentinela do Norte brasileiro.
Amazônia
e Caribe na virada descolonial dos 500 Anos
O
GIGANTE BRASIL NO PARÁ EM VERSO E PROSA
O
estribilho do hino do Estado do Pará será norte do estado
democrático brasileiro na Amazônia. Este bordão papa chibé rege
ou regerá nossas relações de vizinhança e cooperação para
integração regional no concerto da União de Nações
Sul-Americanas (UNASUL) com os mais países amazônicos no quadro do
Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) e do Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL) com referência à cooperação com a Associação de
Estados do Caribe (AEC), Comunidade do Caribe (CARICOM) e as regiões
ultraperiféricas da União Europeia nas Antilhas (Guiana,
Guadalupe e Martinica) filhas do descobrimento de infinitos
males da Terra sem Males ou o Éden lendário, antevisto por
Colombo pela brecha da Terra Firme através das Bocas do Drago, para
dentro do Orenoco no país do El-Dorado.
Finalmente,
de pé e livres de escravidão, como canta os versos libertadores do
poeta pai da Negritude, Aimé Cesaire: Cesário amado de todos, nós, negros da terra alforriados na amada pátria grande latino-americana e confraria de Bruno de Menezes na república popular do Ver O Peso.
Ó
Pará, quanto orgulho ser filho,
De um colosso, tão belo e tão forte;
Juncaremos de flores teu trilho,
Do Brasil, sentinela do Norte.
De um colosso, tão belo e tão forte;
Juncaremos de flores teu trilho,
Do Brasil, sentinela do Norte.
Quem vem ao Sul pelo Norte,
o Brasil começa no Oiapoque ou Oyapoc
(rio de Pinzón na cartografia portuguesa e pomo da amazônica
discórdia entre os primos monarcas da França e Portugal, em
inflamada disputa pelo “testamento de Adão” abençoado pelo papa
espanhol Alexandre VI).
A partir deste modesto rio de fronteira o
gigante adormecido da América do Sul vai crescendo pela beira do novo
continente e pelas margens da História ao longo do Atlântico Sul
até o arroio Chuí, na boca do Rio da Prata. Este outro rio grande
sul-americano que, a par do Amazonas, mais atiçou a cobiça do
velho mundo.
Daí
da volta platina terra adentro, através dos Pampas, o viajante do
novo mundo navega o rio Paraná a fim de subir o antigo Peabiru
descobrindo o império Inca das quatro partes do mundo (Tawantinsuyu,
em quíchua). Para depois descer os contrafortes dos Andes até o
Acre ou Rondônia, conquistando com alegria e imaginação o
gigantesco Amazonas, pleno de riquezas
naturais e tesouros lendários a ser redescobertos pelo turismo de
aventura; em meio a desafios tamanhos a ser vencidos com segura
inteligência da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) para
integração regional e nacional apoiada em cooperação
internacional multilateral.
No tour
do Brasil pós-colonial, antes de deixar o Oiapoque já integrado de
margem a margem por sua ponte moderna e rodovia de Caiena a Macapá,
o viajante do futuro novo mundo convém saber que a baía do Oiapoque
assistiu, por tempos contemporâneos ao nascimento da ecocivilização
amazônica chamada Cultura Marajoara, até cerca de
1500 com a desastrada chegada do piloto espanhol Vicente Yañez
Pínzón e sequestro de 36 índios da ilha Marinatambalo [Marajó],
provavelmente de etnia Aruã, feitos os primeiros “negros da terra”
(escravos indígenas) da América do sul; a monumental migração de
povos originais aruaques comandada pelo lengendário Anakayuri
vindos das ilhas do Caribe, através de Trinidad e Tobago, assentar a
aldeia capital da Paricuria, no Mont d'Argent.
Por
acaso, o acordo de Cartagena de Índias (Colômbia) que criou a AEC
tem sua secretaria executiva em Porto Espanha (capital de Trinidad e
Tobago) – “ponte” ancestral de aruaques e caribes entre as
ilhas do mar e a terra-firme, em busca do Arapari (país do Cruzeiro
do Sul, Brasil) – e, no próximo dia 30, será vez da Martinica
oficialmente ser recebida como membro associado da AEC.
Bela
coincidência! 30 de Abril é aniversário de emancipação de Ponta
de Pedras na ilha do Marajó, município turístico ainda
engatinhando na “indústria sem chaminés”; terra natal do “índio
sutil” Dalcídio Jurandir defensor perpétuo da criaturada grande
amazônica. Não nos podemos esquecer que a antiga Madinina
(“ilha das flores”), doravante região parceira do estado do
Pará; foi no passado pré-colombiano cobiçada pela beleza e o saber
de suas mulheres. Cenário de guerra antropofágica entre Tainos e
Kalinas, resultando em extensas famílias misturadas com “índios
pretos” de São Vicente e Granadinas, donde saíram os Garifunas
(Karipunas?) e Nuaruaques...
Mais importante: com invejável IDH de 0,904 a Martinica fica bem na foto do século 21 (acima da Dinamarca, que marca cravado IDH 0,901). Já a brava gente marajoara com uma área de proteção ambiental pra inglês ver, a APA Marajó que não ata nem desata; e a candidatura para reserva da biosfera da UNESCO que não sai do papel, registra mísero IDH pelo qual o povo foi se queixar não a um, mas logo a dois bispos do Marajó e nada de milagre... Nem Lula lá deu remédio com a promessa do esperado PLANO MARAJÓ. E nossa pobre aldeia de Aricará, batizada em 1659 pelo padre grande Antônio Vieira no mesmo ano das pazes de Mapuá (Breves) com os rebeldes Nheengaíbas; "elevada" à sósia ultramarina da vila lusa de Melgaço (1758), sob ditado do malfadado Diretório dos Índios; amarga hoje o último lugar na lista nacional de IDHM entre cinco mil quinhentos e tantos municípios brasileiros...
Então, é hora de despertar a consciência do tempo planetário com o sol
desta primeira manhã depois da lenda da primeira noite do mundo. Saber a notícia histórica do antigo porto grande do Pará no
Caribe velho de guerra: onde o cacique Hatuey – o primeiro rebelde
das Américas – se levantou no Hayti contra a destruição das
Índias e o guerreiro Guamá, seu sucessor na luta de libertação,
ainda existe na memória do povo de Cuba. Que nem também, no Pará, um
outro Guamá famoso fez história em perigosas transações com a
Guiana francesa na rota do contrabando: donde veio os primeiros grão e plantinhas de café e depois retornaram muitas e muitas sacas da preciosa especiaria roubada um dia, da Etiópia, no passado longínquo. Este último índio Guamá marajoara, cacique dos belicosos Aruãs, por acaso,
deu seu nome ao rio que banha a capital paraense em cujas
margens se situa o campus da Universidade Federal do Pará
(UFPA), a maior universidade do Trópico Úmido planetário.
Eu
sou de um país que se chama Pará
Que tem no Caribe o seu porto de mar
E sei pelos discos do velho Cugat
Que yo, ay yo no puedo vivir sin bailar
Que tem no Caribe o seu porto de mar
E sei pelos discos do velho Cugat
Que yo, ay yo no puedo vivir sin bailar
O Pará
velho de guerra dança Pirapuraceia, dança Siriá, Carimbó
e Lundum, vive a bailar pelos bailes da vida... Tem os ritmos do Caribe na alma, o batuque do tambor
colado aos ouvidos dia e noite como batida do coração. A canção
popular paraense de autoria de Paulo André e Ruy Barata confirma o
manifesto parauara do estribilho do hino do Pará: destino nordestino na busca da Terra sem Males, desilusão da conquista do alto mar
Salgado pelo caminho do levante. Movimento utópico do Povo
Brasileiro em marcha ancestral da nação Tupinambá para norte e
oeste, rumo ao Araquiçaua (lugar mítico onde o sol ata sua
rede no poente à espera do nascer de novo dia).
REVIRADA
DO FIM DA HISTÓRIA
Na virada histórica,
após 500 anos de destruição das Índias Ocidentais, há que se
prestar quinhentos minutos de silêncio pela enorme montanha de vítimas da
Colonização: os índios e os negros primeiramente, mas também
imigrantes europeus, hindus, sírio-libaneses, judeus e asiáticos
enganados com falsas promessas do paraíso na terra.
O singelo gesto de assinatura de um protocolo de cooperação descentralizada, a ser firmado no próximo dia 16, na cidade de Belém do Pará, entre os governadores da Martinica e do Pará deve ter a égide de dois poetas da Negritude, respectivamente, Aimé Cesaire, pela Martinica e Bruno de Menezes, pelo Pará. Para encerrar a solenidade, valia a pena comemoração da Academia do Peixe Frito com batuque bacana como ponto final. Louvado seja Ossain, o senhor São Benedito da Praia, tenha dó de mim para sempre, amém.
O singelo gesto de assinatura de um protocolo de cooperação descentralizada, a ser firmado no próximo dia 16, na cidade de Belém do Pará, entre os governadores da Martinica e do Pará deve ter a égide de dois poetas da Negritude, respectivamente, Aimé Cesaire, pela Martinica e Bruno de Menezes, pelo Pará. Para encerrar a solenidade, valia a pena comemoração da Academia do Peixe Frito com batuque bacana como ponto final. Louvado seja Ossain, o senhor São Benedito da Praia, tenha dó de mim para sempre, amém.
Este
protocolo de cooperação internacional descentralizada
Pará-Martinica é um pequeno passo numa longa estrada cujo primeiro passo foi dado lá, distante no tempo e no espaço, pelas funduras do Rio Negro: inauguração do mundo amazônico através do Circum-Caribe. Onde nossos antepassados indígenas, vindos de Norte e Sul se
confrontaram no grande mar de água doce, chamado Uêne (rio,
simplesmente) pelos aruacos, Pará-Uaçu (mar
grande) pelos tupis, Marañon
pelos castelhanos, Grão-Pará
pelos portugueses. Pará é mar. E este mar profundo, duramente conquistado,
agora é parte não menos importante da Amazônia azul que se
confunde à verde Amazônia no golfão Marajoara.
Hora,
pois, de falar da República Francesa lembrando que ela foi a
primeira república dos tempos modernos. Antes disso a história
entre brasileiros e franceses, em especial na baía da Guanabara e no
Maranhão deu parto ao mito do Bom Selvagem através de
filósofos da Revolução Francesa, ocorrida em 1789. Enquanto a
nossa trôpega República Brasileira chegou, em 1889, a passos de cágado 100 anos
depois... Apesar da antiguidade da história Brasil-França, a
concorrência colonial, o antagonismo entre monarquistas e
republicanos, a II grande guerra mundial, a independência das
colônias; e por fim a ditadura militar no Brasil não raro colocaram
brasileiros e franceses em lados opostos. Sem conversa fiada, tudo
isto deixaria sequelas.
Nestes
cinco séculos o “rio das Amazonas”
foi um dos principais pomos de discórdia. Porém, com advento da República
Federativa do Brasil de 1988 uma nova história vem
sendo construída em bases sustentáveis para o desenvolvimento da
ordem mundial e regional tendo Brasil e França lado a lado. Portanto, não podiam ficar indiferentes ao
processo histórico contemporâneo os países amazônicos e do
Caribe. Onde o Turismo no contexto geral da cooperação
descentralizada tem muito a contribuir.
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