praça Republica do Paraguai: um descendente de "Voluntário da Pátria" espicaça a Câmara de Belém a deletar a farsa do Imperador.


augusto monumento ao General Gurjão - entregue a chuvas e esquecimento - sito à atual praça Pedro II, ex-Largo do Palácio e outros nomes menos notáveis trocados pela municipalidade de Belém para render vassalagem ao idolatrado monarca brasileiro da dinastia portuguesa de Bragança, cognominado O Magnanimo; membro da velha nobreza europeia, escravagista consumado e aliado à Inglaterra foi responsável por crimes de guerra no Paraguai. Em cujo império ocorreu antes o genocídio da Cabanagem e depois o infamante recrutamento de "Voluntários da Pátria" que hoje faria horror ao Tribunal Internacional da Haia, caso fosse a julgamento.

Traços biográficos do General Gurjão - Hilário Maximiniano Antunes Gurjão (Belém do Pará, 21 de fevereiro de 1820 - Humaitá, Paraguai, 17 de janeiro de 1869) foi fiel vassalo de Dom Pedro II, na Guerra do Paraguai serviu sob ordens do genro do Imperador, o Conde d'Eu, francês Gaston de Orleans, e do Duque de Caxias. A casa onde o militar paraense nasceu à Rua General Gurjão (em sua homenagem), no bairro da Campina, foi assinalada com placa indicativa feita sob encomenda do Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP). Terá o jovem paraense assistido de perto acontecimentos da Cabanagem (1835-1840). Sentou praça em 1836 (ano da retomada de Belém pelo general Francisco José de Sousa Soares de Andrea, primeiro e único barão de Caçapava, nascido em Lisboa em 29 de janeiro de 1781, este veio para o Brasil com a Família Real, foi chefe militar no Pará em 1817, partidário absolutista da volta de Dom Pedro I), Hilário Gurjão completou cursos de engenharia e artilharia, sendo sucessivamente promovido até brigadeiro, em 1868. Comandante da Fortaleza de Santa Cruz donde passou à Guerra do Paraguai comandando a artilharia contra os fortes de Itapiru, passou a comandante da 17.ª Brigada de Artilharia na batalha de Tuiuti. Na batalha de Itororó saiu ferido vindo a falecer dias depois. Sepultado em Humaitá teve seus restos removidos para o Rio de Janeiro e depois ao Pará. Homem do império, Hilário Gurjão também foi deputado da província do Amazonas, além de professor de geografia e história no Colégio Santa Maria de Belém, no Pará. Agraciado como comendador da Imperial Ordem de Cristo, da Imperial Ordem da Rosa, cavaleiro da Imperial Ordem de Avis e dignitário da Imperial Ordem do Cruzeiro. Conta-se que o projeto de monumento para homenagear o General Gurjão (foto acima) foi adiado várias vezes: inicialmente previsto para ser construído em face à residência onde ele nasceu viu-se que ali seria desproporcional à rua; em seguida foi cogitado mausoléu na Cemitério da Soledade e enfim erguida a estátua na praça onde hoje se encontra.


LIBERDADE AINDA QUE TARDIA
O Pará no caminho de construção da Pátria Grande

"Ó Pará, quanto orgulho ser filho,
De um colosso, tão belo e tão forte;
Juncaremos de flores teu trilho,
Do Brasil, sentinela do Norte.
E a deixar de manter esse brilho,
Preferimos, mil vezes, a morte!"
   (estribilho do Hino do Pará)

A mocidade paraense não deve se deixar iludir por velhos enganados e demagogos enganadores do Povo. Muitos adultos da sociedade cuja vida não serve de bom exemplo aos mais novos, querem reduzir a idade penal agora para controlar transgressões juvenis num mundo com muitos defeitos de fabricação. Claro que não foram os moços que fizeram o mundo assim. Os jovens precisam refletir sobre o tempo em que vivem e aprender a sair da crise civilizacional a que foram levados involuntariamente por seus pais. 

Chegamos a um momento difícil e muito complexo. Onde mentira e verdade caminham lado a lado numa enorme quantidade de informação e desinformação, misturando boa fé e maldade para causar mais confusão das mentalidades. Ganham os pescadores de águas turvas. Desta maneira, os jovens quando conseguem franquear as portas da escola ainda assim se arriscam a ser tangidos como gado ao matadouro. Muitos são chamados e poucos são aprovados a renovar escalões da "matrix": dentre estes poucos, se algum discrepar das normas do sistema será imeditamente marcado como "inimigo". Devendo, portanto, ser eliminado custe o que custar. 

Tal eliminação de inimigos do sistema passa de simples "bilhete azul", a mostrar a porta da rua a desempregado imprestável até medidas mais rudes levando à detenção ou mesmo desaparecimento físico de indivíduos político ou socialmente desajustados. Na Rússia soviética internavam dissidentes como loucos, pois na verdade era loucura desafiar o sistema. Os nazistas que o digam e a Comissão da Verdade começa a levantar o véu da Censura e da tortura no país do Pau-Brasil durante a ditadura... Nas melhores famílias reais, por exemplo, ficaram célebres assassinatos políticos entre parentes próximos. Entre os papas, idem, tudo pelo bem da santa religião e obediência ao Senhor... Começa com a bíblica traição de Judas a Jesus Cristo a fim de que as profecias fossem cumpridas. 

Bom não esquecer que a humanidade é filha da animalidade: se acaso foi algum deus quem fez este mundo, foi assim que Ele fez, já dizia o evolucionista e herético padre Chardin (por isso mesmo condenado pela Igreja a calar o bico até o fim de seus dias)... Esperança de que o Homem entre na História e faça bom proveito dela para si mesmo e para outras espécies. O princípio da vida, ao que parece, vale para quaisquer agrupamentos humanos ou não, desde uma simples colônia de bactérias, um clube de esquina até o alto escalão da máfia, passando por ingênuas associações de defesa da natureza e do consumidor.

Às vezes a mocidade se revolta, justa ou injustamente, contra o domínio dos mais velhos. Não raro acabam metidos em mais encrenca e arruaças inúteis perdendo geralmente o confronto com a repressão. Para aumento da confusão, há moços que já nascem velhos e velhos, que por mais que vivam 100 anos, continuam jovens até a morte.

O preço da democracia é a eterna agitação. Já a economia de mercado paga a pena da bolsa de valores e suas pajelanças para passar a perna nos principiantes da jogatina... Mas já se sabe que a pior democracia vale mais que a melhor das ditaduras... Devíamos saber que enquanto o filho da cozinheira veste farda para arranjar emprego de polícia ou segurança de empresa para manter a ordem mediante recebimento de um salário medíocre e precário; a pequena burguesia com alguns remediados do proletariado emergente, ingenuamente sentem-se donos do poder. Embora mal consigam eles por o pé no estribo da mudança. Enquanto alguns governos populares vão a luta, o estado mundial supranacional impávido colosso, constituído de nobres representantes de 1% da população da Terra; continua a mandar e desmandar dando as cartas como sempre.  Chova ou faça sol. A antiga aliança entre o trono e altar sobrevive encarnada no enlace virtual do dinheiro com a imagem. E assim caminha a humanidade, enquanto a "mão invisível" pinta e borda.

Talvez haja exagero em palavras como estas, contudo a realidade não nos deixa enganar com a discurseira doida das boas intenções. Delas o inferno está cheio... Mesmo um menino pobre, preto e puto da vida contra injustiças e desigualdades sociais historicamente adquiridas, quando sobe na escala social só se segura no topo da pirâmide se jogar o jogo da classe dominante. Claro que alguns eleitos do purgatório sobem ao céu, mas para ficar lá em cima tem  que rezar conforme o catecismo de louvação aos deuses da eternidade. Meteram isto em nossas cabeças, na verdade não se mergulha duas vezes no mesmo rio.

 mudando a geografia de Feliz Lusitânia

O espaço esconde as consequências. A fisionomia da cidade muda a toda hora e a nomenclatura de logradouros públicos revela o empoderamento do território. Quem é quem no pedaço. A extinta Avenida 25 de Setembro, no bairro do Marco, em Belém do Pará, por exemplo, lembrava a data de 25 de Setembro de 1897, que segundo Ernesto Cruz, comemorava a vitória da força policial paraense na campanha de Canudos. 

A levar em conta Euclides da Cunha em "Os Sertões", esta não era exatamente uma história edificante para o povo belenense. Fosse como fosse, a Câmara Municipal de Belém não vacilou em mandar às favas a vitória das armas paraenses contra famélicos combatentes de Antônio Conselheiro. A homenagem da cidade, então, passou a Rômulo Maiorana, o migrante de Pernambuco que mudou de vida no Pará e colaborou para o Pará sair do atraso onde se encontrava, o dono de "O Liberal" não era santo como o canonizado João Paulo II, que apagou a data de independência de Portugal, na avenida 1º de Dezembro. Dentre outras coisas, no espólio do baratismo e falência dos caciques políticos cassados pela "revolução" militar, Maiorana se tornou dono do jornal oficial do extinto Partido Social Democrático (PSD) do Pará, transformando-o, ousadamente, num diário comercial moderno e respeitado no mercado. Não é pouca coisa, pode-se não gostar da família e criticar a receita, porém se toda gente que vem de fora tivesse sucesso empresarial igual aos Maioranas o Pará seria o maior centro econômico do Brasil zil. Enquanto isto a temida "Folha do Norte", por exemplo, sucumbia e acabava sendo, ela mesma, comprada pelo grupo arquirrival do baratismo para calar a matraca. Já disseram que a vingança é um prato que se deve comer frio.

Assim, o modesto forasteiro de outrora tornou-se rico empresário paraense de comunicação com direito a nome de avenida, tendo a TV Liberal, afiliada à rede Globo, como vedete do grupo ORM tendo como concorrente imediato o grupo RBA da rede Band controlado pela família Barbalho, ela também de origem nordestina mais antigamente radicada no estado nortista. A inveja de Caim matou Abel, mas na novela da vida real é mui difícil e complicado separar o perfil dos personagens. Se um deles tem nome numa das principais vias urbanas de Belém, o outro tem logo um bairro popular inteiro com muitos votos, chamado Jaderlândia. 

Ambos grupos econômicos rivais do Pará são oriundos do mesmo cacicado, como os gêmeos Rômulo e Remo alimentados pela lendária loba de Roma. Todavia, se por milagre da Virgem de Nazaré, de repente, os dois rivais resolvessem de comum acordo contrariar a lenda e adotar consenso para tirar a velha província da armadilha colonialista e fazer do Pará, de fato, "Do Brasil, sentinela do Norte". Agora que o Círio é patrimônio da humanidade a expressão geográfica de Belém mostraria a cara nas tratativas do MERCOSUL com a, por enquanto, baqueada União Europeia. E assim, paresque um conto de fadas, mudaria o fado do Pará velho de guerra. Gregos e troianos a plantar a paz das tribos nesta região rica por natureza no maior país amazônico do mundo. Nosso Brasil brasileiro a ganhar melhor destaque no mundo inteiro.  Tudo vale a pena se a alma não é pequena... Viva o jurunense Rancho Não Posso Me Amofiná na terra do carnaval devoto!

É certo que os Maiorana não chegaram aonde chegaram sem fazer grandes inimigos ou distribuindo caridade aos mais pobres. Desde a morte de Magalhães Barata, o baratismo rachou, Rômulo pai era ridicularizado pela tradicional elite paraense e apontado em rodas de fofoca aos quatro cantos da cidade como operador de contrabando de produtos importados em barcos de muamba vindos das Guianas carregados, inclusive, de ritmos musicais entre caixas e mais caixas de uísque e produtos eletrônicos. Engraçado que tais críticos, muitas vezes, se regalavam justamente com scotch from Surinam... Não havia casamento, colação de grau e quinze anos de Belém nos anos de 60 sem libação do néctar da Escócia importado como muamba.  Mas, quantos naufrágios, afogamentos, desaparecimentos ao mar, prisões, espancamentos de barqueiros empregados em contrabando! Arraia miúda pagando o pato da repressão ao comércio ilícito... Se a corrente das Guianas falasse seria um horror. Sem contar do interminável tráfico de drogas e de pessoas, imigração "clandestina" e outras coisas más.

É claro que o patriarca Maiorana não inventou o contrabando na rota das Guianas. Esta mazela existe desde que os colonialistas inventaram a fronteira do Oiapoque. Nem foi ele big boss dos contrabandistas. Malgré tout çà, o Pará só tirou o pé da lama graças o comércio ilegal transfronteiriço, como no Sul maravilha contrabando "made in Paraguai" é fortuna de muita gente bem... Por vias tortas Belém do Grão-Pará tornou-se caixa de ressonância do Caribe. Tempos de automóvel "cotia" (escondido no mato a ser liberado pela Alfândega suspeita de facilitar as coisas). Sabe-se como reza a moralidade das velhas elites decadentes: "faz o que digo, não faz o que eu faço"... Nada mais moralista que pirata do Caribe promovido a lorde na corte britânica.

O comércio lojista de Belém com a pioneira RM Magazine a ditar a moda, teve surto de modernidade como nunca dantes. A bem da verdade, deve ser dito aos jovens que o contrabando àquela época de 60 era decorrência direta duma injusta legislação protecionista do Sudeste e Sul maravilha. O contrabando de café vindo de São Paulo depois de sua introdução no Pará pelo furto de Palheta, em Caiena; rompeu, parcialmente, o cerco aduaneiro. 

Coisa que com discurso no Congresso ou declarações políticas na imprensa seria o mesmo que malhar em ferro frio. O Norte brasileiro, no rescaldo da crise da Borracha, estava entregue à própria sorte da mesma maneira como, hoje ainda, a famigerada Lei Kandir não está nem aí para as queixas da província mineral, tanto faz o PSDB ou o PT no governo de plantão do Planalto.  O buraco é mais embaixo do que sonha nossa vã moralidade burguesa. Prova disto é que todo mundo agora quer fazer negócio com a China comunista.

De modo que, voltando à vaca fria; ninguém mais se lembra que a velha 25 pretendia perpetuar duvidosos "heróis" paraenses da campanha de Canudos. Ficou o bairro e foi-se a avenida, agora em homenagem ao empreendedor Rômulo Maiorana. Não importa a cor do gato, lembram-se? Com tal precedente talvez não seja muito difícil esquecer salamaleques ao velho Imperador deposto em 1889, a cabo da escravatura, para justo desagravo ao brioso povo paraguaio, passando a atual praça Pedro II a se chamar doravante praça República do Paraguai. Serio! Chega de achincalhar o bravo Povo Guarani! Não foi por acaso o Mato Grosso invadido por tropas do caudilho Solano Lopez dando início à maior guerra havido no extremo sul? E lá está, na capital do estado do Mato Grosso do Sul uma praça chamada República do Paraguai como demonstração de paz e amizade a caminho da integração continental.

Justo quando MERCOSUL e União Europeia começam a negociar acordo de livre comércio. Hora e vez do Pará velho de guerra levantar a voz alto e bom som para soltar o grito: "Do Brasil, sentinela do norte".  Aqui na antiga terra dos Tapuias não é muito diferente de outras periferias do paraíso global. Jovens indignados das falsificações da história poderiam, entre outras coisas, antecipar comemorações dos 400 ANOS DE BELÉM  e ocupar o velho Largo do Palácio denunciando artimanhas da velha oligarquia papa chibé para eternizar a dinastia lusitana de Bragança no Grão-Pará. 

Começariam os rebeldes por instalar tribuna livre da "universidade das ruas" proclamando a praça República do Paraguai como lugar da república popular estudantina. Nesta praça sob árvores e urubus todo mundo seria estudante e professor ao mesmo tempo. Alguém estudando Eidorfe Moreira a fundo lembraria o prognóstico de Henri Coudreau sobre o futuro da capital do Pará. O mar brasileiro na Amazônia Azul faria sentido à juventude.

Deposto, simbolicamente, por decurso de tempo o imperador Pedro II de seu trono no ato popular inaugural da nova praça República do Paraguai uma mensagem do Povo Paraense ao Povo Paraguaio deveria ser celebrada. Para que o mundo saiba que nos sentimos envergonhados dos crimes praticados na chamada "Guerra do Paraguai" donde, enganados miseravelmente em seu sentimento patriótico, muitos de nossos antepassados foram arrastados para matar e morrer num país irmão. 

Este ato de consciência histórica, com certeza, redundaria na reafirmação do Pará em favor da Independência do Brasil. Daquela independência sonhada por todos brasileiros, inclusive os valentes povos indígenas e africanos que desde o Norte e Nordeste deram seu suor e seu sangue na construção territorial do Gigante sul-americano, Brasil. Os humilhados "voluntários" da Pátria relembrados por seus descendentes fariam a independência do Povo Brasileiro a não mais sofrer opressão em mãos de seus antigos conquistadores e colonizadores.

Diante do Palácio Lauro Sodré (Museu Histórico do Estado do Pará) os estudantes da praça República do Paraguai fariam fé pública no futuro da República Brasileira. O Palácio Cabanagem talvez um dia desocupado pela Assembleia Legislativa do Estado venha a ser Reitoria e Instituto de Educação e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Estadual do Pará (UEPA). Os jovens devem assumir o futuro e rever o peso do passado.


O país que se chama Pará fez formal Adesão à Independência do Brasil pela vontade de seu povo, manifesta na cidade de Belém em 14 de Abril de 1823, proclamada soberanamente na histórica cidade de Muaná, na ilha do Marajó, a 28 de Maio do mesmo ano.  Os patriotas paraenses, por este crime, foram subjugados pelas forças coloniais portuguesas, aprisionados e sumariamente condenados à pena de morte (convertida em prisão perpétua e deportação, a rogo do bispo Dom Romualdo Coelho). A farsa patrocinada pelo mercenário inglês exasperou o povo paraense, martirizado na tragédia do brigue "Palhaço"; que desconfiando do Império brasileiro e inspirado na Confederação do Equador alimentou desejo da abolição da escravidão segundo os ideais republicanos adquiridos pelas tropas paraenses de regresso da ocupação de Caiena (1809-1817), com notícias da revolução Haitiana na memória. Logo senzalas e mocambos do Pará se contaminaram da sede de liberdade.


Deve, pois, à federação brasileira - notadamente nos 400 anos de invenção da Amazônia portuguesa, que se fez brasileira pela adesão voluntária de patriotas paraenses, amazonenses e acreanos - o descobrimento do destino manifesto de uma brava gente que, deste tempos remotos, viu na constelação do Cruzeiro do Sul a idealização territorial do futuro de muitos povos unidos pela história do chamado Novo Mundo. 

Urge a periferia da Periferia participar da gestação do pensamento descolonial pan-americano para comungar igualmente da construção democrática das regiões brasileiras, como etapa superior e necessária da integração da América Latina e do Caribe, de acordo com os preceitos constitucionais da República Federativa do Brasil. Caminhamos lentamente, mas seguramente, para festejar  em 2022 o bicentenário da Independência do Brasil.

Não basta apenas trazer à luz do dia os ossos da Ditadura, malmente dissipando as trevas da Operação Condor e proclamar cheios de fé "Tortura Nunca Mais". A verdade verdadeira que a todos há de nos libertar, deve renunciar a todo espírito de vindita. Mas, em compensação, deverá ser a mais radical e profunda verdade para que a História jamais volte a se repetir como farsa. A verdade não tem compromisso com o perdão. Todavia sem verdade não pode haver reconciliação baseada apenas na ignorância e no esquecimento. É assim que se tem cavado o abismo do rancor dos vencidos e humilhados, exigindo de supostos vencedores mais mentiras e horrores para manter a farsa imperial.

O PARÁ HÁ DE TOMAR PÉ DA CONCRETUDE
 DO SONHO DE BOLIVAR


mercosul












Bandeiras da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai
arvoradas solenemente para saudar a celebração do
Tratado de Assunção (criação do MERCOSUL).




Logomarca do Mercosul


O Mercosul Mercado Comum do Sul –  bloco econômico criado pelo Tratado de Assunção, em 1991, com Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai, Paraguai e, mais recentemente, a Venezuela ingressou entre os países-membros. Equador, Chile, Colômbia, Peru, Bolívia participam como membros associados, não possuem poder de voto. No entanto, o Equador manifestou intenção de se tornar membro efetivo do bloco. Além destes países, o México participa como membro observador.  

Tendo o bloco econômico por base, foi possível avançar no campo político para integração da América do Sul mediante a constituição da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL;  composta pelos doze estados. Sua população total foi estimada em 396 391 032 habitantes, em 1º de julho de 2010. Foi fundada dentro dos ideais de integração formulados por Simon Bolívar, no século XIX; conjugando as duas uniões aduaneira regionais: o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a Comunidade Andina de Nações (CAN); sob a inspiração do processo integrativo da União Europeia.
O Tratado Constitutivo da Unasul foi assinado em 23 de maio de 2008, na Terceira Cúpula de Chefes de Estado, realizada em Brasília, Brasil.3 O Tratado Constitutivo previa a instalação da sede da União em Quito, Equador. O Parlamento sul-americano será localizado em Cochabamba, na Bolívia, enquanto a sede do seu banco, o Banco do Sul, será localizada em Caracas, Venezuela. Uma obra diplomática de Paz e Desenvolvimento que culmina com a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).




A LONGA HISTÓRIA DA UNIDADE

O sonho de integração latino-americana e caribenha começou, paradoxalmente, com a conquista hispânica. Antes de 1492, com a chegada de Cristóvão Colombo, o novo continente abrigava inúmeros povos, alguns deles organizados em grandes impérios, como no México e no Peru. Há notícias de que muitos desses povos se comunicavam, guerreavam entre si e praticavam comércio de mercadorias. Na Amazônia pré-colombiana, com sua primeira cultura complexa na ilha do Marajó, não foi diferente.

Cada povo conservava suas crenças, culturas, língua e tradições. Mas, os “estranhos barbudos” que aportaram no Caribe vindos do velho mundo ainda envolto em guerras da Cruzada e Reconquista, mudaram súbita e violentamente toda maneira de ver o mundo que existia neste lado do Atlântico e do Pacífico.

O primeiro habitante das ilhas do mar das Caraíbas a tomar consciência de que havia chegado um inimigo poderoso e que a situação exigia união das gentes da terra foi o cacique Hatuey, da etnia Taíno, da ilha de Quisqueya (Hayti), chamada depois pelos conquistadores “Hispaniola” (pequena Espanha), depois Santo Domingo. Hatuey, observando a selvageria dos espanhóis revoltou-se e levantou sua nação para ir até a ilha de Guanahany (Cuba) avisar seus parentes sobre a perversidade dos invasores e iniciar aliança de defesa. Hatuey entrou para a história como o Primeiro Rebelde das Américas.

Segundo Bartolomeu de las Casas, esta foi a fala do cacique taíno: "Nos dizem esses tiranos que adoram a um deus de paz e igualdade, mas usurpam nossas terras e nos fazem de escravos. Eles nos falam de uma alma imortal, de suas recompensas e castigos eternos, mas roubam nossos pertences, seduzem nossas mulheres, violam nossas filhas. Incapazes de se igualarem a nós em valor, esses covardes se cobrem com ferro que nossas armas não podem romper… Por isso temos de atirá-los ao mar”.

Hatuey dizia que o verdadeiro deus dos cristãos era o ouro e mandava que os índios jogassem fora seus ornamentos feitos deste cobiçado metal, escondendo também lugares de mina. Os taínos fizeram guerra aos espanhóis, que o capturaram o cacique rebelde e o queimaram vivo. Contam que, na fogueira, um padre perguntou se ele queria se converter. Hatuey perguntou se, convertido ele iria ao céu cristão. – Sim, respondeu o padre. E o cacique taíno, cuspindo de nojo, replicou: - Então não, prefiro o inferno, onde não encontrarei gente tão cruel como vós. Com sua morte foi substituído pelo cacique Guamá. E hoje em Cuba uma estátua lembra Hatuey para a posteridade.

Depois destes, muitos outros povos se rebelaram contra a invasão, mas, derrotados, sucumbiram a opressão e a América virou uma grande colônia dos reinados espanhol e português. Foi só em 1780 que, a partir do grito de Tupac Amaru II e Tupac Katari, mais uma vez os povos originários tentaram uma nova guerra de reconquista envolvendo aliança com diversas nações indígenas contra os espanhóis. Foi um momento que chegou a juntar milhares de índios em enormes batalhas. Mas, também ainda os ameríndios foram derrotados.  

Dez anos depois, Francisco de Miranda, agora das fileiras criollas (espanhóis nascidos na América) apresentou um plano no qual propunha juntar toda América espanhola numa confederação. O sonho de Miranda foi levado adiante por Simón Bolívar nas lutas de independência a partir de 1815. O Império do Brasil serviu de dique à emancipação republicana e foi dos últimos países a abolir a escravidão: sem mais escravos, em 1888, forçada pela aliada Inglaterra, lentamente, a monarquia luso-brasileira disse adeus ao país do Cruzeiro do Sul.

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