Idosos de todo mundo, uní-vos! A Humanidade e o vasto mundo estão em perigo face ao homem.

Thiago de Mello - Poeta universal da amazonidade,
autor do poema 'Os Estatutos do Homem'.                



APOSTILA DE AMAZONIDADE
Amazonizando o Brasil desde a Amazônia Legal




Urge inventar e conjugar o verbo amazonizar. Eu amazonizo, tu amazonizas, nós amazonizamos o Brasil: do Oiapoque ao Chuí, da ponta do Seixas até a serra do Divisor. O Brasil, maior país amazônico da Terra, amazonizará o mundo. Estamos combinados? Então, vamos lutar a fim de colocar nosso país na liderança mundial do Desenvolvimento Sustentável pelo concurso das pessoas idosas nas comunidades amazônidas.

Relançar e interpretar o sonho do seringueiro Chico Mendes apropriado por seu próprio povo sem deixar a bandeira do “empate” em mãos estranhas: bom motivo para fazer valer a rede brasileira de reservas da biosfera, com destaque à Reserva da Biosfera da Amazônia Central, que anda meio no mato sem cachorro. Pelejar pelo reconhecimento futuro da Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia, cobrir com esta em sua etapa final a totalidade de manguezais da costa do Nordeste Paraense e das Guianas inclusive.

Claro que as raízes bandeirantes do Gigante estremecem só de ouvir conversa como esta. Mas, é preciso fazer saber que a era negreira da “plantation” já passou. E que o apartheid entre o morro e o asfalto, o sítio e o edifício de condomínio vai acabar. Doravante só o futuro nos interessa e a agricultura orgânica familiar será a salvação da lavoura. Inclusive em meio urbano e periurbano o verde de hortas e pomares há de ocupar o arranha-céu. Segurança alimentar integrada à saúde preventiva em primeiro lugar na sociedade local autogestionária conectada a um milhão de aldeias do vasto mundo.

Carece chamar atenção da gente, por exemplo, para existência pacata até agora da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), com sua sede na “ilha” de Brasília – ao pé do monumento natural das Águas Emendadas, que poucos sabem onde se acha e que é área-núcleo da Reserva da Biosfera do Cerrado, fonte do São Francisco irrigando o Nordeste, do Paraná rumo ao Prata e do Tocantins para a Amazônia – que precisa apressar seu passo de cágado e trabalhar depressa ao maior sucesso do programa multilateral da UNESCO “O Homem e a Biosfera” (MaB), no âmbito dos países amazônicos, dando efetivo cumprimento da missão desta agência da ONU em relação à aliança estratégica que deve se aperfeiçoar entre Ciência e Conhecimento Tradicional.

Desta maneira resoluta, seja na luta pelo desenvolvimento sustentável a Amazônia brasileira referência mundial junto ao supracitado MaB. Por que não? O que falta é provar, socioambiental e economicamente, que conservação do meio ambiente é bom para as pessoas que vivem em comunidades locais, para as regiões periféricas escapar da ilusão do subdesenvolvimento. Bom para país e para todo mundo esgotado e consumido de tantas guerras de conquista para suportar o insustentável consumo mundial.

Há que se sair do discurso para a prática. Cair fora da pajelança do marquetingue alienante ou da doutrina fossilizada para poder entrar, de fato, no negócio da mudança de vida sem precisar trocar de lugar e migrar a terras distantes. Como outrora nossos antepassados indígenas da mítica Terra sem males ou estrangeiros assombrados pelo mito do El Dorado.

Enfim, o paraíso terreno (terra sem males sonhada por cada um de nós, pela qual matamos e morremos todos os dias) é aqui e agora!... É preciso ver o peso da vida para dar mais valor a nossos dias.

Quero dizer o seguinte, é preciso dar as mãos e metê-las à obra a fim de cultivar nosso jardim e prevenir os males desta vida. Inaugurar o terceiro milênio sem bilhete nem foguete de propaganda. Andar pelas margens da História descolonizando povos mato adentro. Assim, como quem toma mingau quente pelas bordas, a gente ribeirinha da modernidade haverá de empoderar-se da cidade sem, na verdade, precisar deixar o campo ao abandono.

Fazendo o possível, no próprio lugar em que vive, quando menos pensar a velha guarda da academia da maré terá tomado pé da realidade e feito o impossível em rede nacional e internacional da terceira idade. Quem viver verá? Creio que sim.

A Amazônia é nossa riqueza na grandeza dos oito países do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) – Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, mais a região francesa da Guiana – , os Países Amazônicos, florão verde e azul da América do Sul e Caribe. Coração pulsante do planeta Água.

Amazonizar é preciso: ocupar regiões amazônicas, de qualquer jeito, não é preciso nem direito. O povo carece saber, perfeitamente, que são sete os estados amazônicos brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. À Amazônia Legal somam-se ainda Mato Grosso (Centro-Oeste) e, parcialmente, o Maranhão (Nordeste). O Plano Amazônia Sustentável (PAS), do governo federal, o qual não se ouviu mais falar considerava o estado do Maranhão parte integral da Amazônia. A ver como, só pela cúpula não se sustentam planos ainda os mais brilhantes que sejam, se a gente não os habitar e pilotar desde as bases.

O conceito de Amazônia Legal decorre da necessidade de planejar o desenvolvimento econômico e socioambiental da região além do bioma de floresta úmida. A Amazônia Legal corresponde a 59% do território brasileiro perfazendo 5 milhões de quilômetros quadrados com 25 milhões de habitantes, residem nela 56% da população indígena do Brasil, fazendo da região o coração da ancestralidade do bravo povo brasileiro. Ou seja, espaço natural e paisagem cultural da amazonidade em causa. 


Os Estatutos do Homem
(Acto Institucional Permanente)

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade. Agora vale a vida e, de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.
Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.
Artigo IV
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.
Parágrafo único:
O homem, confiará no homem como um menino confia em outro menino.
Artigo V
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira. Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras. O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.
Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías, e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.
Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.
Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.
Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.
Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, uso do traje branco.
Artigo XI
Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo, muito mais belo que a estrela da manhã.
Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela. Parágrafo único: Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.
Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.
Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas. A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Thiago de Mello, Santiago do Chile, Abril de 1964
 

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