FAO MARAJÓ: FOME ZERO NAS ILHAS

Açaizeiros na várzea
Açaizeiros na várzea

Feliz 2012 para todas e para todos!

Os votos do blogue se estendem especialmente em direção ao Doutor José Graziano da Silva desejando-lhe um profícuo exercício de mandato na direção-geral da FAO, em Roma.  Que a super estratégica agência da ONU para Alimentação e Agricultura consiga se restabelecer e impulsionar decisivamente a realização dos Objetivos do Milênio mediante cumprimento das metas previstas para 2015.

Desta maneira, que também as autoridades competentes e a sociedade civil em Brasília, Belém do Pará e nos 16 Municípios da região de integração Marajó - inspirados na extraordinária conquista da comunidade de países da América Latina e do Caribe, através da iniciativa diplomática do Brasil, para eleição do primeiro latino-americano a dirigir a FAO - olhem de maneira inovadora ao enorme arquipélago do delta-estuário da maior bacia de água doce do planeta; vendo no desafio da secular pobreza reinante nele como uma oportunidade em especial para a FAO e a cooperação Sul-Sul e Norte-Sul estabelecer um campus comum de realização de projeto piloto em desenvolvimento territorial sustentável para o trópico úmido, notadamente a Amazônia.

Para isto, basta tomar como referência a histórica demanda comunitária que levou o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, a decretar a criação do grupo interministerial de acompanhamento de ações de governo no Arquipélago do Marajó (GEI-Marajó) e a elaboração do primeiro "Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó" (2007/2010), dito PLANO MARAJÓ. Diga-se de passagem, vermelho e preto são as cores tradicionais da Cultura Marajoara de 1500 anos de idade provado na ornamentação da cerâmica...

Digamos, com sinceridade, que o supracitado Plano deveria ser piloto para o Plano Amazônia Sustentável (PAS), complementado pelo programa Terrritórios da Cidadania - Marajó; tendo como destaque o projeto NOSSA VÁRZEA de regularização fundiária de terras da União [prêmio de inovação em políticas públicas, pela Escola Nacional de Administração Pública]. Porém, diante do que é preciso tudo isto até agora é um bom ensaio no rumo certo. Todavia, carece acelerar o ritmo para que as metas da ONU para 2015 se verifiquem exitosas num dos 120 Territórios da Cidadania de pior IDH, no caso o Arquipélago do Marajó.

Decorridos cinco anos do Plano é necessário que se realize uma real avaliação de resultados, o que o IPEA com o NAEA/UFPA poderia fazer considerando a hipótese de um convite especial à FAO. Lembrando, ademais, que se acha instalada junto à UFPA a Cátedra da UNESCO para Cooperação Sul-Sul e que dentre os projetos previsto pelo PLANO MARAJÓ se acham os preparativos para candidatura do Arquipélago do Marajó, ou seja da Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó (APA-Marajó); como reserva da biosfera do programa "O Homem e a Biosfera - MaB", da dita UNESCO. 

A demanda que deu origem ao Plano através da Diocese de Ponta de Pedras e da Prelazia do Marajó apontava a três ações de emergência: combate à malária, regularização fundiária e obras de infra-estrutura. As mesmas necessidades persistem ainda embora se tenham providenciado o atendimento. O problema da malária exige talvez abordagem diferente para a controlar dado que sua erradicação ainda se afigura extremamente dificil. Falta contudo alocação de maiores recursos para finalizar a regularização fundiária, base incontornável a um verdadeiro desenvolvimento territorial. No sítio http://gentemarajoara.blogspot.com/2011/11/carta-do-territorio-da-cidadania-do.html encontra-se relatório do colegiado do programa Território da Cidadania, que oferece a pauta atualizada das demandas pendentes.   

Lembrando ao amável leitor deste blogue, que, com inegáveis evidências antropológicas e diversas fontes históricas inclusive autorizando a dedução geográfica lógica; no distante passado de invenção da Amazônia; o mítico lugar onde o Sol adormece no horizonte ["Araquiçaua"] foi vislumbrado pelo bom selvagem Tupinambá desde a margem direita do Rio Pará sobre a ilha do Marajó pouco antes da chegada de holandeses, franceses e portugueses ao Grão-Pará nos inícios do século XVII.

Todo brasileiro deveria saber que a conquista do "rio das amazonas" teve o mito da Terra sem mal como leit motif . Sabemos como os mitos são importantes na governança do mundo... Certamente, tal qual o colesterol há bons e maus mitos e suas consequências para a humanidade... Sem a utopia selvagem é improvável que os Tupinambá tivessem se aventurado ir até aos ignotos confins da Amazonia e aliado-se ao inimigo português do início da colonização do Brasil.  É preciso saber basicamente a religião dos Tupinambás, com Florestan Fernandes por exemplo; para compreender as lamentáveis omissões de nossa historiografia. Falar de inclusão social sem inserir a cultura dos povos tradicionais na história regional é o mesmo que lavrar no vento...

Mas, afinal, o que queriam aqueles bravos guerreiros tupis, fazendo por acaso acontecer a tenaz resistência marajoara  e qual o significado contemporâneo de suas crenças nas atuais religiões das populações tradicionais amazônicas, notadamente os ribeirinhos marajoaras seus prováveis descendentes? Muitas vezes a arrogância técnica dos agentes institucionais ou a frieza das comunidades locais no processo refletem apenas ignorância de parte a parte sobre os conteúdos psiquícossociais envolvidos no processo de desenvolvimento levado a cabo.

A demanda mítica dos índios era um lugar impossível de encontrar na geografia plana de Euclides. Mas, hoje de certa forma a antiga esperança através de uma Ciência e Tecnologia humanitária poderá - pouco a pouco - ir se concretizando no espaço-tempo relativo: uma Terra para todos, onde não existe FOME - TRABALHO ESCRAVO - DOENÇA - VELHICE - MORTE.  Pelo menos, a morte aparentemente impossível de vencer; os caraíbas já haviam vencido desde sempre, no rito de ressurreição do Kuarup. Isto é quando os viventes se despedem desta vida de lutas permanentes e vão habitar a paz das estrelas ou se ocupar dos mistérios profundos da Encantaria. Que esta antiga sabedoria pois nos reanime para banir deste mundo as antigas desgraças da terra humana que fizeram nossos ancestrais revirar os sertões e viajar por tão longas distâncias subindo e descendo rios infindáveis. Fiquem agora com a mensagem do Doutor Graziano e todos juntos façamos votos de que ele encontre os meios necessários para a FAO colocar em prática a erradicação da Fome em todo mundo.

Graziano Da Silva / Biografia

graziano
José Graziano da Silva possui destacada trajetória profissional vinculada às áreas de segurança alimentar, agricultura e desenvolvimento rural. Ressalta-se sua importante contribuição como Ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome do Brasil.

Uma carta de José Graziano da Silva

quinta-feira, 22 dezembro 2011 23 de dezembro 2011. São Paulo, Brasil.
Queridos amigos:
Nos aproximamos do final de 2011 e gostaria de enviar meus melhores desejos a todos. Espero que, em companhia de suas famílias e amigos, passem umas férias tranqüilas e renovadoras.

©FAO/Erick-Christian Ahounou
Faltam poucos dias para 2012, ano que se apresenta com muitos desafios, os quais enfrentaremos juntos. Como costumo dizer: tenho certeza de que com um esforço conjunto daremos passos significativos na luta contra a fome, garantindo que o direito à alimentação, talvez o mais básico de todos os direitos humanos, seja uma realidade para todos.
Isto significa dar assistência imediata aos mais necessitados e, paralelamente, tomar as medidas para que eles possam se sustentar no futuro, além de promover a produção agrícola e modelos de consumo sustentáveis, cuidando nossos recursos naturais, enquanto garantimos o acesso a alimentos inócuos e nutritivos para todos.
É um desafio que implica colocar toda a força da FAO para alcançar a visão que baseou sua fundação em 1946.
Estou ansioso para trabalhar com todos vocês – Estados-membros, a equipe da organização, nossos parceiros de desenvolvimento – a partir de 1o de janeiro de 2012, quando assumo como novo Diretor Geral da FAO. Despeço-me com uma convicção, que já mencionei em outras ocasiões: “Não poderei fazer nada exceto o que possamos fazer juntos”.
Cordialmente,
José Graziano da Silva

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