AMAZÔNIA MARAJOARA MANDA LEMBRANÇA PARA RIO+20


Rio + 20: Conselho promove reunião sobre desenvolvimento sustentável em São Paulo Rio + 20

CDES vai ouvir sociedade para elaborar propostas para a Rio+20


O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) vai ouvir especialistas e representantes da sociedade civil para ajudar a construir a proposta brasileira para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que ocorre em junho de 2012.

Vinte anos depois da Rio 92, ambientalistas do mundo inteiro vão voltar ao Brasil para um novo encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre meio ambiente. Mais do que um balanço sobre a implementação de compromissos estabelecidos na conferência de 1992 - como a Agenda 21 e a criação das convenções-quadro da ONU sobre Mudança do Clima e Biodiversidade - a Rio+20 tentará avançar em uma proposta de economia verde que concilie crescimento econômico com baixas emissões de carbono.

Ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos, da Presidência da República; o CDES, mais conhecido como Conselhão, está elaborando uma proposta para subsidiar o posicionamento do governo brasileiro na conferência e, para isso, vai reunir empresários, líderes sindicais, acadêmicos, pesquisadores e organizações não governamentais em um debate que leve a sugestões para uma economia sustentável. Entre os temas, estão energia, mudanças climáticas, inclusão social e combate à fome.

MUNDO DEVERIA SABER QUE É MELHOR FALAR DE REGIÕES E PAÍSES AMAZÔNICOS DO QUE DUMA VERDE E VAGA AMAZÔNIA CARTOGRÁFICA.
O mapa não é o território... A Amazônia somos nós, um mundão de gente espalhada no mato sem cachorro por campos, florestas e cidades desde o Alto Amazonoas até as ilhas do boqueirão do Rio-Mar com seus duzentos e tantos quilômetros de largura, entre o Amapá e Pará. Nossas terras são cobertas de grandes florestas, entretanto tão rico quanto o subsolo nossos mananciais enchem os olhos do mundo de cobiça. É claro que o maior país amazônico do mundo - o nosso Brasil -, tem suas mais fundadas esperanças de futuro na Amazônia brasileira. Portanto, os cidadãos brasileiros desta região devem ser os primeiros a estar preparados para proteger a biodiversidade e os recursos naturais e culturais da Amazônia.
Se os brasileiros, bolivianos, peruanos, equatorianos, colombianos, venezuelanos, guianeses, surinamenses e guianenses (da região ultramarina francesa) não defenderem a Amazônia, quais outros povos poderão fazê-lo, estes últimos sem o conhecimento vivido dos séculos? Logo a Amazônia sustentável que o Brasil quer e o mundo precisa, há de ser sempre sustentáda pela natureza, com certeza, todavia contando com o saber continuado da gente amazônica de todos seus biomas e ecossistemas, incluindo cidades e campos. 
Se o mundo quer saber, nós podemos dizer que o primeiro passo no caminho para a Rio +20 é ter presente o ponto de partida no passado recente, a Rio 92. Especialistas estão cansados de repetir, mas a gente do povo ainda não parou de correr atrás de emprego e de viver a vida para entender o discurso do tal desenvolvimento sustentável. Na contramão às mudanças requeridas esbarram no dito, que diz: "não existe maldade, o que há é ignorância". Porém a força da ignorância excede talvez à força da inércia, posto que esta acontece pela lei física e a falta de boa vontade multiplica por mil a potência da má fé para se agarrar ao uso e abuso do cachimbo, que põe a boca torta...
Tal é no curto prazo, no dia a dia - a final de contas atravessa décadas e chega, por exemplo, em 2015 devendo o compromisso com as Metas do Milênio - , a força compulsiva e enebriante da palavra "desenvolvimento", carregada de desejo e cobiça em ter, crescer e aparecer... Todo mundo quer ser desenvolvido, fato que de longe revela traço destacado da natureza humana. Como, então, uma pessoa de cultura "desenvolvida", citadina; beneficiária da civilização industrial avançada; teria condições de pregar desprendimento e desambição a uma pequena população ribeirinha vivendo sem recursos e isolada do mundo? Como um especialista com aposentadoria certa por tempo de serviço, seguro de saúde em hospital de primeiro mundo, iria aconselhar a um índio que o melhor é confiar cegamente no xamã de sua aldeia? Desde 1970 líderes mundias advertiram sobre os maiores problemas ambientais e sociais que hoje o mundo está enfrentando com a mudança climática. Na medida que os mesmos países que constituiram a vanguarda ambientalista continuam as práticas desaconselhadas em 1992; tornam ociosas discussões como ultimamente no Japão, Dinamarca e México sem chegar a verdadeiro consenso, se não sobre alguns princípios voluntários.

Estados Unidos, Europa e Japão com maiores possibilidades e problemas também, longe de liderar a economia verde cantada em prosa e verso, se tornaram conservadores e reféns ao mesmo tempo do sistema superado que precisaria ser trocado. Adotam comportamento duplo, como se eles quisessem dizer: 'façam o que eu mando mas não façam o que eu faço'... Estes são os principais obstáculos para enfrentar a mudança climática, que eles dizem uma vez ser irreversível e logo adiante adotam atitude contrária colocando em dúvida aquilo que acabaram de dizer. Reina uma esquizofrenia geral. E, então, como exigir que outros não façam o que os grandes estão fazendo sem impedimento real?

A Rio 92 colocou, em tese, a sociologia no debate ecológico. Até então, o Homem estava teoricamente exilado do Meio Ambiente, lugar privilegiado da política mundial de presevação da fauna e da flora: aí, quando havia lugar, era para um hipotético "homem natural" incapaz de alcançar maioridade mental (índio, quilombola; no máximo, uma vaga noção de população tradicional mestiça...).

O que, afinal, teria o dom de mobilizar e transformar o "status quo" em crise, e botar a caminho novo paradigma de produção e consumo? O pacto principal da Rio + 20, face ao panorama fracassante dos últimos encontros abençoados pela ONU, ela também em erosão de autoridade; deveria ser sobre o consumo sustentável... Certo, o atual padrão das camadas mais exigentes da sociedade, como informa a FAO, é absolutamente insustentável. Isto se pode observar de cara nas grandes metrópoles... Todavia, não existe grande cidade que não seja, na verdade, um conjunto de pequenas cidades: os bairros. Uma cidade sustentável seria aquelas em que os seus bairros fossem autossustentados e atuantes mediante formas de gestão participativa efetiva.

Cada região geográfica do planeta deveria ter, ao máximo, parques industriais próprios com produção, transporte, distribuição e consumo democraticamente pactuados... Não faz sentido atravessar o oceano para levar minério e voltar com máquinas e utensílios que podiam ser fabricados e consumidos bem mais perto dos clientes. Não se está a falar de produção artesanal, mas de máquinas-ferramentas que podem ser implementadas junto a consumidores, Quer dizer, a tecnologia a serviço de melhor qualidade de vida no centro ou na periferia...  É claro que chegamos ao impasse atual porque a famosíssima "mão invisível" fez mão boba ou, então, perdeu o sentido das coisas. Há que se estabelecerem pactos constantemente, sem  cláusulas pétreas ou leoninas... Já vimos que uma sociedade democrática que pactua com opressores e/ou demagogos, está explorando povos oprimidos ou mentindo a seus próprios cidadãos. De um modo ou outro, é só figuração e faz de conta... Portanto, não se sustenta.

Só caindo na real do consumo sustentável será possível diminuir a pressão e especulação financeira sobre matérias-primas e depressão de empregos e salários embutidos no preço das "commodities" vitais para as regiões periféricas. Consequentemente, as faixas intermediárias rural-urbanas no entorno de grandes cidades deveriam receber um "boom" ecológico-econômico com reflexos diretos na qualidade de vida e padrão de consumo da população geral, a fim de que se opere a passagem a menos traumática possível, do velho desenvolvimentismo ao novo desenvolvimento sustentável. Uma passagem de longo prazo, certamente, mas que precisa levar em conta as últimas décadas como começo do mapa do caminho. 

Inovação tecnológica para reciclagem e geração de energia alternativa deverão ser carros-chefes desta nova economia... Centros urbanos históricos passariam a ser revitalizados com mais intensidade como lugares para educação, cultura, lazer e turismo com seus respectivos serviços... Geração de emprego e renda local, evidentemente. Construções inteligentes seriam requeridas com vantagens e incentivos à indústria verde, o que iria acelerar o desenvolvimento da economia de serviços.... A segurança alimentar local não isentaria edifícios e apartamentos de produção de hortas, jardins, criação de aves e animais de pequeno porte como se fossem "chácaras e quintas suspensos"...

O campo também deveria ter que ser modernizado e sustentável. O meio rural será sustentável ou não haverá cidade sustentável... Ele é a base de suprimento urbano, desta maneira a agricultura orgânica familiar deverá receber tratamento estratégico, com auxílio destacado de extensão tecnológica e fomento de crédito solidário. Entre o grande e o pequeno capital rural poderá existir uma trégua necessária para invenção do novo paradigma socioambiental e não podemos nos enganar quando a necessidade do socialismo democrático e do cooperativismo para operar tais mudanças, cuja oposição tem tornado o parto da história ainda mais difícil do que deveria ser.

Áreas protegidas devem ser consideradas produtivas, pois são dedicadas à conservação da natureza e observação científica. Assim, unidades de conservação fazem parte dos recursos de sobrevivência de todos seres vivos do planeta, incluindo o homem. Evidentemente, populações tradicionais são guardiãs da natureza e, por princípio, elas devem ser também protegidas pelo estado democrático e remuneradas por prestação de serviços ambientais, com direitos coletivos assegurados sobre conhecimentos e saberes adquiridos por povos tradicionias. Indivíduos de tais culturas, entretanto, devem ser incentivados a adquirir conhecimentos e títulos acadêmicos modernos, sem abandono de sua cultura original, de modo a facilirar o diálogo entre culturas modernas e tradicionais, entre a ciência e o conhecimento popular...


O maior desafio para tudo isto será sair de conceitos gerais, vagos e não raro abstratos ou servindo de reforço à hegemonia de segmentos privilegiados e predominantes da sociedade sob chancela global; que ocorre a fim de manter dominação do centro sobre a periferia que compõe o complexo tecido da biosfera planetária.

Já a oportunidade que se apresenta é o substancial aumento de consciência de que os danos pela insustentabilidade do padrão de consumo, dito "global", (na verdade, imensa disparidade entre os extremos da população da Terra, em torno das duas quinas partes mais rica e mais pobre) são, desde há pouco, mais rigorosos e mais frequentes. Com secas prolongada, inundações, falta de abastecimento de água potável, alimentos, migração em massa, conflitos locais e internacionais violentos levando a guerras devastadoras. Neste cenário, nada animador, a oportunidade vai no sentido de uma maior mobilização social em torno do desenvolvimento sustentável para a paz.

     O atores principais do cenário são as mídias, empresas, centros de inovação tecnológica e de      educação para o novo paradigma . Na verdade, o mundo é como uma mais vasta e desconhecida Amazônia e a Amazônia são vários e diversos mundos... Não se trata apenas de salvar a biodiversidade da Amazônia, mas também a sua diversidade cultural e geográfica feita de planícies, vales, montanhas... O Brasil tem seu ponto mais alto, o Pico na Neblina, na regiã amazônica da bacia do Rio Negro, por exemplo. A partir da Rio+20 o mundo deve se acostumar a falar de uma certa Estratégica Amazônica como paradigma de Ciência Tropical com ênfase no Trópico Úmido... Onde os doutores são populações tradicionais, mestres em ciência de sobrevivência local, inventores e produtores que vem sendo vítimas preferencias de biopirataria, há séculos. Enfim, como profetizou um pajé Ianomami, os índios hão de salvar os civilizados de seu próprio modo de vida suicida... Mas esta estratégia amazônica aplicada a todas regiões parasitadas do planeta tem custo elevado, não necessariamente financeiro; porém político e civilizacional. O qual será razoável discutir se, de fato, o mundo está pronto a pagar.

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