SALVE 8 DE MARÇO

Marcha das Margaridas dos sertões a Brasília

Para Bia, em seu aniversário
no Dia da Mulher.

Definitivamente, este ano não será igual ao que passou. Além de janeiro ter começado cheio de esperanças com a posse da primeira brasileira na Presidência da República, quando agosto chegar nosso Brasil brasileiro irá ver passar a terceira marcha do movimento das trabalhadoras do campo e da floresta. Saudades de Lula ainda vão restar, mas desta vez a Marcha das Margaridas vai encontrar a companheira Dilma lá, mulher de luta que venceu a Ditadura com as armas pacíficas da democracia popular. A “mulherada” da classe trabalhadora rural vai falar com a Presidenta de mulher para mulher; ouvir e dizer onde o sapato aperta desde os rincões mais distantes da pátria amada.

Nunca dantes na história deste país varonil o bom futuro esteve tão prestes a acontecer, para todos e todas, assim num pacto matriarcal cheio de graça e malícia feminina. Ainda mais que noutras plagas do mundo caótico inventado por nós homens, a revolução jasmim anda veloz como vento do deserto a derrubar regimes caducos e ditadores com prazo vencido. A primeira Marcha das Margaridas aconteceu no ano 2000 e se refaz ao mês de agosto a cada três anos. Homenagem singela à memória da líder sindical Margarida Maria Alves, no dito mês em que ela foi assassinada pelo latifúndio medonho, há 26 anos. Até hoje o crime está impune.

Em 1983, a mando de poderosos, Margarida tombou sobre a terra que queria ver irmãmente dividida. Logo, de todas as partes muitas Margaridas se levantaram do chão e, em 2007, a marcha mobilizou 50 mil Margaridas até Brasília. A reivindicação versou sobre combate à violência, segurança alimentar, terra, água, agroecologia, trabalho, renda e economia solidária. Este ano elas já serão algo como 100 mil. O movimento das mulheres é uma das principais mobilizações do sindicalismo rural, a Marcha será realizada nos dias 16 e 17 de agosto de 2011, na Esplanada dos Ministérios. Neste ano o lema será “2011 razões para marchar por desenvolvimento sustentável com justiça, autonomia, igualdade e liberdade”, quando a Contag espera reunir as mulheres trabalhadoras rurais em Brasília para negociar políticas públicas para o povo do campo, da floresta e do litoral.




Marcello Casal Jr.
Agência Brasil
(Foto: Marcello Casal Jr./ABr)
  
A primavera do florão da América do Sol e da Lua! Inclusão social, distribuição de renda, direitos humanos com carinho é coisa boa que a “patroa” da gente gosta: haja fotos ao lado de Dilma Rousseff, emoção e gravação de vídeos no celular para mandar via internet ou levar de volta à comunidade a fim de compartilhar recordação das trabalhadoras do campo, floresta e litoral no Planalto com o sucesso sem par da primeira Presidenta do maior país amazônico do mundo. Sim, o nosso Brasil velho de guerra na luta pela Terra sem Mal: maior mais amazônico do planeta! Já não se falará mais da ocupação da Amazônia brasileira, mas da conquista patriótica do Brasil das amazonas, país das mulheres guerreiras: não é pouca coisa não tal revolução verde e amarela, digam lá o que disserem os entreguistas, os indolentes, os indiferentes, os agiotas do câmbio, amigos da onça e inimigos da gente brasileira.

Na certa, só uma escassa minoria acadêmica está consciente de que o encontro das Margaridas em Brasília remete a nação à legenda do fabuloso El Dorado no “rio das amazonas”; símbolo de nosso tesouro natural cobiçado pelo mundo inteiro. Terra da promissão aonde vão bater migrações carentes, “celeiro do mundo”. Tal qual como na antiguidade caravanas famintas buscavam os solos férteis do vale do Nilo com sua dádiva na civilização do Egito antigo. Enquanto, no Planalto brasileiro, as Águas Emendadas se encaminham pelas veias do gigante Brasil em direção ao São Francisco, ao Prata e ao Amazonas levando às planícies o precioso líquido até onde há sede de integração continental e portos a alimentar para o vasto mundo.

Na volta da Marcha aos pagos as Margaridas irão rememorar com os companheiros, filhos e mais parentes o significado desta jornada histórica, na verdade começada nos primórdios da Revolução de 1930, com a Coluna Prestes a tocar alvorada e marchar pelo sertão adentro. Os brutais assassinatos de Chico Mendes e Margarida Alves se confundem como estuário do rio de sangue da história do bravo Povo Brasileiro, de Norte a Sul. O rico Norte das águas conquistado pelo braço forte do Nordeste, estão ambos redimidos pelo sangue valente de Chico Mendes e Margarida, esta mestra sertaneja que foi morta à porta de sua casa na cidade de Alagoa Grande, Paraíba, em 1983, a mando do latifúndio. Aquele pelo mesmo motivo assassinado quando queria o seringal em pé e os seringueiros senhores de seus direitos e da sua liberdade. Ela era presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande e fundadora do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural. Seu “crime”, pelo qual foi executada, foi ensinar e incentivar trabalhadores a buscar na Justiça garantia de direitos prometidos pelas leis do Trabalho.

Tornou-se Margarida símbolo de coragem, resistência e luta. Um exemplo de vida para cada mulher trabalhadora para resistir, lutar contra a discriminação e violência no campo, qualificar, mobilizar e participar das lutas por igualdade de gênero, por justiça e paz no campo. Agora é a vez e a hora das mulheres trabalhadoras, artífices duma civilização de povos das águas forjados na construção de um novo mundo em crescente escassez do precioso líquido.

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Alguns dizem que bastaria abolir o capitalismo da face da Terra, como uma nova abolição da escravatura ou fórmula mágica. Mas, eu tenho cá as minhas dúvidas de que não basta isto, aliás, não é nada fácil. Com exemplo do trabalho escravo que ainda existe e não só no campo. Por isto, faz parte de minha utopia acreditar que além do socialismo mais avançado o futuro do homem dependente do triunfo presente da mulher. Pelo simples fato de o ser social do amanhã depende hoje de sua mãe: como esta, para o certo e o errado, dependeu da mãe dela desde a vida intra uterina. Portanto, a menina hoje iludida e enganada pela propaganda do consumo alienado e a manipulação da folia irresponsável; não poderá jamais ter filhos dignos e saudáveis, enquanto ela continua escrava de diferentes modos de exploração do homem pelo lobo do homem.

É isto que me faz pensar a Marcha das Margaridas ao encontro da radiosa Brasília, que a magnífica marcha de mulheres trabalhadoras do campo seja alvorada do verdadeiro casamento da Biodiversidade com a Diversidade Cultural. Do enlace entre Natureza e Cultura haja bons filhos, dentre os quais o empoderamento dos recursos naturais e culturais pelas populações extrativistas tradicionais com sua conseqüente realização social e econômica sob benções da Ciência e Tecnologia aplicadas ao justo e perfeito desenvolvimento sustentável. Que seja um enorme sucesso a mobilização pela Contag, com o apoio das centrais sindicais (CUT e CTB), e outros parceiros como o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste (MTR-NE), Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), Movimento de Mulheres da Amazônia (MMA), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Rede de Mulheres Rurais da América Latina e do Caribe (Redelac) e Coordenação das Organizações dos Produtores Familiares do Mercosul (Cooprofam). E, com este apoio sempre em mente, a Presidenta Dilma avance no cumprimento de promessas de campanha e vá mais além pelo bem de todos e todas brasileiras do presente e futuras gerações.

Comentários

  1. Bom o texto, mas como representante do grupo de senhoras deste pais, só faço uma ressalva, o termo "pais varonil"; em que pese o significado de " honrado" há tambem o significado de " másculo" o que não deixa de ser histórico, mas contraditório ao sentido do texto, até porque dá a impressão que " honrado e másculo sejam a mesma coisa. E nem sempre...

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