Uma viagem ao país da Princesa (1).

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Área de Proteção Ambiental de Algodoal-Maiandeua - Praia da Princesa (Maracanã - Pará).




Entre os dias 23 de julho e 13 de agosto do corrente, fiz uma imersão afetivo-reflexiva na região do Salgado, como nunca dantes nos 41 anos que, costumeiramente, eu visito este sítio sagrado das antigas populações tradicionais da Amazônia atlântica. O nome "Algodoal" para mim foi um mistério, agora finalmente revelado. Teria eu talvez dez ou doze anos de idade, quando pelo primeira vez ouvi minha prima Almira contar à boa tia Armentina as maravilhas de uma viagem à paradisíaca Algodoal. Tio José Mamede era imigrante sírio casado com tia Lili e ele havia um pequeno comércio no rio Marudazinho, naquele tempo na década de 40, a comunicação com a capital era feita em canoas à vela. Almira foi visitar seu pai e aproveitou para ir à ilha do Algodoal falada: teve de atravessar em canoa de pesca como único transporte e comentava que os pescadores carregavam nos braços visitantes, devido à falta de porto. Minha imaginação de adolescente fantasiou enormemente a ilha maravilhosa.

Na realidade, só a conheci em 1976, já casado e pai de um filho de três anos de e uma filha de poucos meses, dos quatro que tenho. Agora voltei a Algodoal com minha mulher tendo a felicidade de reunir todos meus filhos e a filha única, acompanhados de minhas mais netas, exceção da quinta neta do coração que não pode desta vez acompanhar as suas primas. Começo neste blogue a relatar a viagem e pretendo encerrar com breve comentário de retorno a Belém do Pará: impressões de interesse etnográfico sob leitura da obra A Queda do Céu - Palavras de um xamã yanomami, de autoria de Davi Kopennawa e Bruce Albert. Um exercício para refletir sobre oportunidade de organizar ecomuseu comunitário. Por coincidência, há 41 anos; logo após conhecer a ilha de Maiandeua (Algodoal) fui à Terra Índigena Yanomami em serviço, entre fins de janeiro e inícios de maio de 1977. Uma experiência inesquecível, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, que transformou profundamente a minha vida.


O NOME ALGODOAL


Originário da África e adaptado também à Península Ibérica, o 'Algodão de seda', 'flor de seda', 'choradeira' dentre outros nomes populares, nome científico Calotropis procera, provavelmente através de pescadores descendentes de casais açorianos, aportuguesou a ilha de Maiandeua ("lugar das mães", em língua geral amazônica), que passou a ser chamada Algodoal pelos colonizadores. Enfim, Algodoal-Maiandeua num certo acordo tácito entre indígenas e ocupantes. A ilha fluviomarinha está situada na costa oceânica, entre as baias de Maracaná, por leste; e Marapanim pela sua parte oeste. 

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Calotropis procera foi pesquisada por vários institutos científicos brasileiros, principalmente no Nordeste (foto: Antônio Oliveira, na revista Cerrado Rural). 


A ilha foi considerada área de proteção ambiental e aguarda ato oficial de reconhecimento de unidade de conservação integral de suas dunas. A população de suas quatro vilas Algodoal, Fortalezinha, Mocoóca e Camboinha cresceu consideravelmente com o turismo de natureza e reclama atenção. Modestamente, nossos comentários nas postagens seguintes tem por objetivo suscitar reflexão a respeito das oportunidades e preocupações para o desenvolvimento sustentável da microrregião do Salgado.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Maiandeua

Comentários

  1. Que maravilha, suas iniciativas (de pesquisa, escrita, criação de ecomuseu...) em nome da empatia que a ilha e seus moradores lhe proporcionam são loucaveil! Inspirador. Parabéns e conte comigo

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    1. Grato Flávia, estamos juntos e misturados. Sou propagandista da ideia.

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  2. Gostei muito de tudo.Tbm já li a parte 2...Sou filho desta ilha maravilhosa.Sobre seu comentário...na historia de Maiandeua tem ainda muita coisa para ser esclarecida.Nos relatos históricos bem antigos Salinas já foi chamada de de "Viriandeua" e a ilha do Marco de "Uriandeua".A mesma terminação de "Maiandeua".

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  3. A maior parte da historia de Maiandeua esta esquecida do outro lado da ilha.Meus bisavós habitavam lá...antes de habitarem o que hoje conhecemos como Algodoal.Como gostaria de ouvir suas histórias de Algodoal de outrora.

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