A cidade educadora ribeirinha na universidade da maré.

Resultado de imagem para imagem nelson mandela democracia como ostra vazia



"Todos os habitantes de uma cidade terão o direito de desfrutar, em condições de liberdade e igualdade, os meios e oportunidades de formação, entretenimento e desenvolvimento pessoal que ela lhes oferece. O direito a uma cidade educadora é proposto como uma extensão do direito fundamental de todos os indivíduos à educação. A cidade educadora renova permanentemente o seu compromisso em formar nos aspectos, os mais diversos, os seus habitantes ao longo da vida. E para que isto seja possível, deverá ter em conta todos os grupos, com suas necessidades particulares".  - CARTA DAS CIDADES EDUCADORAS.




AMAZÔNIA MARAJOARA PEDE MUNDO DE PAZ

Faz  escuro, mas eu canto e ponho fé no progresso da humanidade, na reponta da maré cá no meu recanto na boca do maior rio do mundo. Que nem, lá rio acima na terra de Ajuricaba dos Manaus, o poeta da floresta Thiago de Mello anuncia o dia iluminando o caminho do futuro a todo mundo que presta e até mesmo a quem não presta ele empresta fé, esperança e amor em sua revolucionária poesia.

Com o poeta ajuricaba iluminado eu sou praticante zen-bubuia cabano. Ora viva o ajuri cabano na universidade da maré! Aleluia! Peixe frito no prato, açaí e farinha d'água na cuia. Zen pra mim é meditar sentado na beira do rio à procura de mim mesmo, horas a fio; enquanto espero o peixe do pensamento bater na linha a fim de pescar uma ideia qualquer. 

Ver a paisagem passar no tempo fugaz indo embora de bubuia, flutuando em riba das águas ligeiras do rio de Heráclito: destarte as lições imortais de Buda, Jesus, Marx e Freud não tem contradições graves entre elas, nem são estranhas a quem, porventura, é guerreiro andante de caminhos de bom coração. Porém, o maior problema da crise que ora se apresenta é que os maus se tornaram mais poderosos que sempre, enquanto os bons não sabem pelejar com alma e coração, enfeitiçados que estão pelos próprios costumes de produção e consumo de verdadeiros inimigos da humanidade. 

A ponto do povo norte-americano se achar entregue à epidemia de depressão, obesidade e dependência a drogas viciantes a despencar na lista mundial de felicidade, segundo índice aprovado pela ONU e apoiado pelo Vaticano. Na qual a pequena e fria Finlândia ascendeu ao topo enquanto a Noruega, benemérita da proteção da natureza na Amazônia onde ela dá com uma mão e tira com outra, agora negativamente famosa pelas falhas desconcertantes da empresa norueguesa Hydro Alunorte em Barcarena-Pará, aparentemente foi castigada perdendo o primeiro lugar onde orgulhosamente se achava.

Para entender tamanha guerra morna e difusa - nem quente, nem fria -, carece inteligência natural coletiva. No fim do mundo civilizado - periferia da Periferia, celeiro das multinacionais extrativistas -, há que se considerar a práxis evolucionária da criaturada grande iniciada na arte de sobrevivência da Selva, segundo os antigos profetas caraíbas, condutores da utopia selvagem chamada a Terra sem males. Sem a qual não haveria Amazônia nenhuma, tudo sendo uma grande Columbia estrangeira. 

Sem esta conspícua providência, toda ciência e tecnologia resta humanamente insustentável: não adianta caboco se preparar na escola para o vestibular, passar e entrar na universidade em fagueiras festas de carnaval fora de época. O filho ou a filha das tribos perdidas do cativeiro do Grão-Pará raramente sai diplomado, desiste do curso desempregado e acredita ele ou ela não ter inteligência pra nada. Ou, então, aprende a rezar conforme o catecismo e sai graduado com o canudo na mão, e assim atravessará o mestrado e doutorado com vaga assegurada em academia de letras: todavia, esse caboco envergonhado das raízes indígenas e africanas sai amestrado feito cão guia de cego. Pior que professor doutor idolatrado das capitanias hereditárias. 

Paulo Freire já tinha avisado a esses caipiras danados, comedores de peixe frito e carne seca com pirão de mandioca. Mais cedo Florestan Fernandes tocou alarme, Darcy Ribeiro denunciou sem medo e agora o cidadão planetário Edgar Morin está aí pelas Franças a pregar o evangelho da complexidade e não me deixa mentir na aldeia amazônica, pátria tapuia minha: quanto maior a crise civilizacional, mais forte deve ser o remédio requerido para fugir aos males da sociedade global. 

Foi assim na revolução francesa anunciada, segundo Rousseau, pela visitação de bons selvagens Tupinambás, no ano de 1562, à corte de Ruão, conforme conta Michel de Montaigne nos Ensaios: que enviados da França Antártica (Guanabara), por Villegnon, para fazer marquetingue da colonização huguenote; ao ser perguntado sobre o que mais chamara sua atenção, disse o índio da América do Sul: o escândalo da catedral de Rouen, onde na porta no lado de fora à espera de esmola, mendigos estendiam a mão aos burgueses saindo de dentro. Dissera o selvagem, então, "eu não entendo por que esta gente miserável não salta ao pescoço dos ricos e não toca fogo na cidade"... Olha só, comentou Montaigne, estes selvagens vieram nos dizer o que já devíamos ter feito há muito tempo. Demorou, mas, em 1789, os sans-coullotes sem saber de Rousseau ou Montaigne deram curso à sugestão Tupinambá.

A era das revoluções é passado. Ou não é? Salvo na universidade da maré: onde ondas do mar ou virtuais, vão e voltam, na dança cósmica da pirapuraceia e revolução permanente... Hoje esta gente da terra cabana está cansada de fome, trabalho escravo, doenças, velhice ao deus dará e mortes cruéis... 

Mas, o povo brasileiro não deve esquecer a matriarcal Antropofagia mágica e Yvy Marãey (terra sem mal) continuando a velha busca ancestral, ao mesmo tempo que se deve comer do pão da terra e beber o vinho de açaí consagrados do mito evangelizador do Reino de Jesus Cristo consumado na terra dos Tapuias (por outros nomes, Rio Babel ou Amazônia). Nós não podemos desanimar e nos render à colonialidade, assim como o índio catecúmeno deixou de resistir e lutar na defesa de nossa terra: nossos antepassados viveram o espaço plano de suas crenças, como todos mais que acreditavam que o Sol e todas mais estrelas do firmamento giravam em volta da Terra. 

Mas nós agora não temos mais desculpas da ignorância, pois a utopia do passado poderá ainda ter concretude mediante a Ciência de Einstein, pela espiral evolutiva do desenvolvimento humano sustentável, dia após dia, a Terra sem males sendo renovada e reconstruída - tal qual a resiliência orgânica de todos seres vivos -, por nosso próprio engenho. 

Fome, escravidão, doença, velhice e morte nunca mais! Por que não? Sobre a morte, que parecia irremediável e a maior inimiga da humanidade, já sabemos que "a gente não morre, fica encantado" (Guimarães Rosa). Pois o que vale nesta vida, sim, é a arte do encantamento pela vida. 

Como diz a canção Tocando em frente, de Zé Geraldo; é preciso amor pra poder pulsar, paz para sorrir e a chuva para florir. "Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente". Um boiadeiro que leva o gado a caminho do matadouro é ele a própria estrada, a multidão anônima na marcha inconsciente da história. O rio sou eu em minha própria sina em procura de quem inventou o mundo e traçou o destino de meu país. Hoje eu só quero ser feliz com minha gente em paz com todas e todos.

Desde a conquista do Maranhão e Grão-Pará - e lá se foram mais de 400 anos! -, a brava nação Tupinambá aliada aos portugueses devassou os confins até a cardinheira dos Andes e os contérminos do Alto Rio Negro: o motor da invenção da Amazônia, o mundo deve saber, foi a utopia do bom selvagem, dita a Terra sem males...  Porém, o mundo esqueceu do que Montaigne e de Rousseau disseram sobre os índios levados a França pelos colonizadores da França Antártica (Guanabara)

Talvez muitos não saibam ainda que as cores marajoaras tradicionais são o vermelho e preto, por causa da milenar arte cerâmica encontrada nos tesos da ilha do Marajó. Veja-se a obra Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara, de Giovanni Gallo, edição do Museu do Marajó: terceira edição, Cachoeira do Arari, 2005. O conceito de Amazônia Marajoara decorrente do trabalho inovador da arqueóloga Denise Schaan e do historiador Agenor Sarraf afim com o denominado Golfão Marajoara defendido pelo geógrafo Aziz Ab'Saber. 

Já a obra As Regiões Amazônicas (Lisboa, 1895), de autoria de José Coelho da Gama e Abreu (Barão de Marajó) deu esta noção de diversidade cultural e biogeografia que caracteriza a Amazônia como um todo, tanto em sua unidade geomorfológica e quanto em diferenças regionais notáveis, no conjunto da maior bacia fluvial do planeta, donde a floresta equatorial superúmida se destaca com suas populações tradicionais de campos, florestas e ribeirinhas.

Alguma vez descrita como "pan-Amazônia", cumpre ter presente que a nossa Amazônia de cinco mil anos de ancestralidade é cerne da integração da América do Sol, coração pulsante da mãe Terra - com 7 milhões de km² e 35 milhões de habitantes, correspondentes a 10% da população da América do Sul -, somos parte do condomínio de oito países amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela) e uma região (Guiana francesa). O Brasil é o maior país amazônico dentre todos: donde a Amazônia brasileira (composta integralmente pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins; parcialmente pelo Maranhão e Mato Grosso) representa mais da metade do território de nosso País.

Urge descolonizar e amazonizar o Brasil brasileiro, tornar Brasília doravante uma cidade bem amazônida junto ao monumento natural das Águas Emendadas, donde se dispersam fontes das bacias amazônicas, platinas e do velho Chico; capital federal de todos Brasis sob o Cruzeiro do Sul, constelação dos navegantes do mar; antigamente chamada Arapari pelas velhas migrações aruaques das ilhas do Caribe para o continente. 

A eco-civilização amazônica renascida no presente vem da arte e cultura marajoara, mil anos antes do "descobrimento" do Brasil. Hora do Plano Piloto brasiliense com suas asas de avião pousar no chão do Planalto Central do Brasil, deixar um pouco altos planos aéreos e o espaço sideral das imaginações esotéricas para anunciar, enfim, a alvorada de nossa genuína civilização reencontrada pelas águas do São Francisco, do Paraná e do Tocantins. Este rio amazônico que deságua no estuário do grande Rio Pará, braço meridionat do gigantesco Amazonas que abraça a Amazônia Marajoara; face à ilha do tesouro descoberto no maior arquipélago fluviomarinho da Terra.

Comentários

Postagens mais visitadas