"vão vender o Ver O Peso" e a Academia do Peixe Frito vai de bonificação.


arte "naif" caboca (foto divulgação por blogue 'Encanto Caboclo' de Marli Braga Dias)

TUPY OR NOT TUPY
"fizemos Cristo nascer na Bahia ou em Belém do Pará"
(Oswald de Andrade, "Manifesto Antropofágico", 1928)
Muito medalhão moderno ainda "não sabe" do que se trata em realidade na tal "Academia do Peixe Frito"... Pensa ou faz pensar que lá só se vai comer peixe e tomar açaí, na verdade não sabem apesar da pose o que é patrimônio imaterial exatamente. A confraria em questão é uma manifestação na paisagem cultural do Ver O Peso na linha do tempo da Semana de Arte Moderna (São Paulo, 1922) a par do Clube da Madrugada (Manaus), na Amazônia. E daí? Para que serve isto? Como vender tal coisa pra turista ver?

Claro, é preciso que o vendedor, pelo menos ele, saiba o que vai oferecer ao comprador. A assessoria do prefeito Zenaldo Coutinho, por exemplo, que prontamente vetou projeto de lei da Câmara Municipal reconhecendo a supracitada manifestação, mas não tomou iniciativa até agora de baixar decreto no mesmo sentido, como diz que deveria ser; nem desconfia do que destratou.

E o célebre alcaide anterior Dudu rifou oportunidade de ouro de fazer de Belém cidade-irmã de Boulogne-Sur-Mer (França), patrimônio mundial da UNESCO e maior centro científico marítimo e pesqueiro francês. Já pensou o que se poderia fazer com a cidade-irmã, onde o aquário Nausicaa é vedete, promovendo nossa Academia do Peixe Frito? Claro que os jornais não publicaram nem uma linha sequer sobre isto. 

Tampouco, mencionaram que Belém poderia ter sido admitida, em 2011, como membro efetivo dentre uma centena de metrópoles no mundo, no congresso da Associação Mundial de Metrópoles de Porto Alegre (RS), a convite do governador da região metropolitana de Paris. Mas, quem pelo lado do exterior, se lembrou de abrir estas portas tomou chá de cadeira na FUMBEL e no gabinete do inefável Duciomar, é um grande amigo francês da APF desde a primeira hora de seu relançamento, em 2008. Participou de almoço de trabalho da APF, como é de costume, adido cultural da embaixada francesa em Brasília e sua esposa funcionária da UNESCO em Paris: com toda simplicidade e informalidade, como convém... De modo que, a aparente panemice belenense não é desconhecimento nem falta de oportunidade: mas algo bem pior ("a culpa é da mentalidade"...)


A EXPRESSÃO GEOGRÁFICA DE BELÉM

A canção-manifesto "Belém Pará Brasil", da banda Mosaico de Ravena, é marco duma proposta de política cultural descolonial que não sai dos muros acadêmicos para chegar junto ao povão embebido pelo tecnobrega e companhia limitada. 

Vemos na imagem acima que ilustra esta postagem pintura "naif" (ingênua) que nada deve, por exemplo, a uma Tarsila do Amaral, companheira de Oswald de Andrade. Esta que foi pintora e desenhista brasileira, uma das figuras centrais do movimento modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Oswald escreveu o "Manifesto Antropofágico" em Paris... E o nosso mestre Eidorfe Moreira aprofundou sua obra sobre a geografia de Belém baseado no geógrafo francês Henri Coudreau, especialmente sobre a tese de "O avenir da Capital do Pará"... Nossa elite saudosista suspira as lembranças da belle époque lamentando a decadência de Paris n'América. Mas não recorda grande coisa da servidão nordestina nos seringais, nem se mostra capaz de encontrar alternativa ao extrativismo madereiro e mineral embora não se ache um único discurso que não fale num tal "desenvolvimento sustentável". Com se alguma coisa insustentável fosse desenvolvimento.

Por motivos óbvios os donos da província - em geral, paraenses de "coração" a bordo da galera da recolonização - elegem e deselegem "representantes" da cultura popular que lhes convenham e tomem a bênção até para dar traque... A utopia civilizadora de Coudreau visava construir uma ferrovia do porto de Belém do Pará até Valparaíso (Chile), unindo o Atlântico ao Pacífico passando pelo Tocantins e Xingu. Para isto, ele pretendia interessar o governo brasileiro a colonizar a Amazônia com um milhão de imigrantes italianos. Ideia curiosa, se tivermos em mente a colaboração italiana na Amazônia brasileira com Landi, Ermano Stradelli e tantos mais. E, cem anos depois, a recolonização através de descendentes de colonos no Sul e Sudeste...

Se não fosse iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura de Cachoeira do Arari, em 2008, para comemorar o Centenário de nascimento de Dalcídio Jurandir, não se teria, por acaso, ressuscitado a Academia do Peixe Frito, morta de morte morrida, desde o súbito falecimento, em Manaus 1963, de seu organizador anarquista modernista poeta Bruno de Menezes.

É claro que a morte do poeta, em 1963, por si só não seria suficiente para enterrar junto com ele a APF. O que então conspirou para congelamento daquela confraria que reuniu a fina flor dos seguidores da Semana de Arte Moderna de São Paulo (1922) às margens do Guajará? Uma confraria onde nomes como Tó Teixeira, Eneida de Moraes, Abguar Bastos, Dalcídio Jurandir, Jacques Flores, Rodrigues Pinajé, Vicente Salles entre outros das décadas entre 1930 e 1960 pontificaram no Ver o Peso...

Bruno de Menezes foi poupado da tristeza de assistir acontecimento do Golpe de 1964 e emudecimento das vozes mais salientes da cultura Ajuricabana. Com a redemocratização estamos pelejando para fazer renascer estas coisas. Mas devemos reconhecer que não é fácil nem um pouco.

Comentários

  1. Varella, você não imagina o tamanho da minha felicidade ao ver minha tela merecendo fazer parte de uma postagem no seu blog, obrigada mesmo! Um grande abraço

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