Criaturada ocupa Brasília


povo brasileiro ocupa o Congresso em Brasília.



REMANDO CONTRA MARÉ PRA VENDER O PEIXE DA CRIATURADA GRANDE DE DALCÍDIO.

Os cabocos ribeirinhos no extremo-norte brasileiro somos filhos e netos da ralé judia e da massagada árabe malmente cristianizadas nos guetos da Europa e enxotadas pra colonizar as Américas, descobertas por acaso a caminho das Índias. Nós somos gado humano arrancado do seio da mãe África e transportado em navios negreiros a fim de ser braço escravo dando utilidade econômica ao comércio do Grão-Pará e Maranhão, que sem nós não valeria uma pataca... Nós somos desterrado rebento de casais dos Açores enganados por falsas promessas do paraíso encontrado nas terras virgens do Maranhão. Ilhéus da saturada Ilha da Madeira, camponeses sem terra espancados pela pobreza e aterrorizados por infinitas guerras de fronteira, servindo de bucha de canhão no norte de Portugal e na Galiza. Poviléu sem eira nem beira, tangido para ocupar a mentira do "espaço vazio" e colonizar o mistério da Amazônia lendária... 

Mas, nós somos sobretudo, além da patuleia importada de fora, a gentinha miúda mais pé no chão dos sítios "extraídos do mato" - caá boc através do Nheengatu e da catequese da cristandade - mediante engenho e ditadura do Diretório dos Índios (1757-1798), juntos e misturados a índios brabos e destemidos pretos de mocambo (quilombo): fonte perene de resistência Nheengaíba à invasão da Tapuya tetema (terra Tapuia) e mãe da Cabanagem cultural permanente. 

Nós somos a  "Criaturada grande de Dalcídio" no dizer imortal de Eneida de Moraes, da primeira geração da Academia do Peixe Frito, nos idos da revolução nacionalista de 1930 e do movimento Modernista de 1922. Apesar de poucos, nós nos multiplicamos em vários e estamos dispersos no mundo, agora mais que nunca, com a revolução das comunicações, a fazer através da Ciência e Tecnologia das fraquezas forças indomáveis, e das derrotas triunfo admirável! 

Nós, por diferentes modos de produção; resistimos valentemente à destruição da natureza e da cultura tradicional em muitas aldeias ou localidades das regiões amazônicas, todavia mais concentrados na Amazônia Marajoara e nos subúrbios de Belém do Pará e Macapá, tendo como república emblemática e espaço econômico capital a feira do Ver O Peso, por nós ocupada desde os primeiros dias da Cidade grande do Pará. 

Nós somos modernidade e tradicionalidade ao mesmo tempo: fazemos parte distinta da negritude geral, que reúne "negros da terra" e "negros da Guiné" no vasto mundo sem fundo dos trabalhadores da Terra. 

E, portanto, devoramos e assimilamos a utopia da "Terra sem Mal", do bom selvagem Tupinambá que aqui chegou em guerra de conquista e acabou conquistado pela paz de Mapuá, em 27 de Agosto do ano de 1659: depois de 44 anos de guerra e 1000 e tantos anos da invenção da Cultura Marajoara, nossa primeira universidade pés descalços.

Se o Brasil emergente não sabe ou não quer saber, pior para o bravo povo brasileiro. Não será nossa culpa amanhã perante o tribunal da consciência coletiva da Humanidade. Portanto, é nosso dever, sim, alertar a Nação brasileira de que, em vez de ocupar a Amazônia custe o que custar, como tem sido feito ao longo de 400 anos pelos donos do mundo e seus sócios nas capitanias hereditárias; melhor será ocupar Brasília até o gigante da América do Sul despertar completamente e escutar o grito desta gente.

DESCOBRIMENTO DO NORTE DO BRASIL PELO ROMANCE DO CHAMADO ÍNDIO SUTIL DE AMADO

Precisou, talvez, de duas grandes guerras mundiais com o abominável Holocausto do povo judeu e o terror indizível da hecatombe atômica da população civil de Nagazaki e Hiroxima; para o mundo despertar a respeito dos horrores da guerra. E, ainda assim, a Guerra Fria continuou a sina do homem lobo do homem e a América Latina sofreu a demência da tortura e a censura da Ditadura anticomunista; para descobrir enfim o valor insubstituível da Justiça e da Paz cujo caminho incontornável é a Democracia em seu continuou caminhar e reinventar. 

E já se sabe que não existe democracia sem Povo. Assim sendo é patente que toda vez que o Povo grita é por que o sapato aperta e a política se desviou do bom caminho. Como saber a verdadeira História do Brasil desconhecendo a história do Povo Brasileiro em suas diferentes épocas e regiões, que são diversos Brasis no pacto dos estados da República Federativa do Brasil? E o "país que se chama Pará" o que diz? África do Sul na região norte brasileira, o Pará ainda tem que abolir seu apartheid socioambiental. E a verdade é que já tivemos o nosso Mandela, que era poeta e se chamou Bruno de Menezes... A soberania popular, hoje consagrada na Constituição-Cidadã, faz eco no Congresso Nacional, em Brasília, recebendo os ventos de todas direções do país-continente trazendo noticias das revoluções da Independência com as agitações dos balaios, malês, farroupilhas, cabanos e tantos outros insurgentes que fizeram os sobrados e casas-grandes acordar da longa sesta colonial.

***
No ano de meu nascimento, 1937, o mundo marchava para a segunda grande Guerra. No fim do mundo sentíamos os efeitos do conflito. E em Belém do Pará, o índio sutil Dalcídio Jurandir, nascido na vila de Ponta de Pedras, na ilha do Marajó, filho de uma mulher negra admirável e de um sábio homem branco; se encontrava preso numa cela da cadeia São José, devido ao crime político de participar da Aliança Nacional Libertadora (ANL). O Presídio São José (hoje Polo Joalheiro São José Liberto) estava sito à praça Amazonas; a qual foi no passado o lugar chamado "Comedia do Peixe-Boi".  Comedia, lugar de pastagem onde os bichos vão comer.

Faz tanto tempo, que a gente quando calha de ler considera erro de ortografia e que o certo seria "comédia" do peixe-boi. Até podia ser. Caso a toponímia amazônica antes não escondesse a tragédia histórica das populações tradicionais que, há milhares de anos, viviam da pesca de "gados do rio". Infinidade de peixes-boi, tartarugas e pirarucus que estão à base da história econômica da Amazônia. Hoje, praticamente extintos, carecem de proteção ambiental com leis de defeso quase sempre desrespeitadas e dando margem à reprodução de escândalos duma fajuta representação política (salvo exceções de praxe) nos três níveis federativos.

Demorou, mas a teoria histórica política contemporânea depois de abrir as portas de seus castelos fortificados a outros conhecimentos paralelos, tais como a arqueologia e antropologia; terminou apelando ao Folclore e à Literatura como inestimáveis instrumentos de prospecção. Nós outros desta "academia" anti-acadêmica por excelência se ainda não fomos representados no Congresso Nacional, em Brasília, e outras "Casas do Povo", todavia estamos na rua praticando o sítio aos nobres representantes do povo, conforme a imagem supra e a mídia em geral mostra a todo momento.

Graças à TV Senado a gente vê um inusitado movimento de senadores preocupados com os destinos do Estado Democrático e nos chamou atenção, particularmente, o importante discurso político do Senador do Amapá, ex-Presidente da República e acadêmico da Academia Brasileira de Letras, José Sarney. Muitas críticas justas e injustas são lançadas todos os dias contra o representante do povo amapaense e ilustre filho do estado do Maranhão; porém não se pode negar que ele tem, como costuma dizer, o "sentido do mundo" e consciência plena da história do Brasil.

Escrevi este estúrdio texto depois de ouvir o discurso de Sarney na tribuna do Senado no dia de ontem. Dentre outras coisas chamou atenção o fato de que ele repudia a chamada "terceira idade" e se assume simplesmente como "velho" sem rendição aos sonhos e ideais de juventude. Crente da grandeza do Brasil sem ser ufanista: descrente do mito do "brasileiro cordial" ele deplora que nosso país seja o mais violento do mundo, onde morreram assassinados mais do que a soma de mortos em todas as guerras conhecidas no mundo!!!...

Muita coisa poderia ser dita a respeito da fala de Sarney no dia de ontem, no entanto fiquei a pensar se o autor de "Maribombos de fogo" e outros romances já ouviu falar, por acaso, do primeiro romance sociológico brasileiro ("Marajó", apud Vicente Salles, último confrade da Academia do Peixe Frito em sua primeira geração) ou do primeiro romance proletário do Brasil, "Linha do Parque", obras escritas por Dalcídio Jurandir, primeiro autor amazônico ganhador do Prêmio Machado de Assis.

Tenho certeza de que se acaso a bancada da Amazônia em Brasília, a começar do estadista José Sarney (pode-se não gostar nem um pouquinho do longevo e controvertido sucessor do cacique Vitorino Freire no Maranhão quatrocentão, mas para não faltar com a verdade não se pode dizer que ele não entende do riscado) houvesse, por ventura, conhecimento da literatura do "índio sutil" amigo e camarada de Jorge Amado; mais depressa os nobres reprentantes entenderiam a mensagem que vem das ruas neste instante, pelo menos provindas das margens plácidas do extremo-norte brasileiro.

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