VER O PESO DA ECONOMIA SOLIDÁRIA: PROJETO AÇAIZAL LEGAL

Solar da Beira/ Foto: Blog da Joana Vieira




Como tudo na vida, a paisagem cultural Belém-Marajó está sempre evoluindo desde as suas origens com a primeira cultura complexa da Amazônia - a Cultura Marajoara - há 1500 anos. No caso do centro histórico da cidade das mangueiras (a completar 400 anos em 2016), seu meio ambiente abraça a região das Ilhas desde o Guajará até o Marajó: a face oculta do Ver O Peso onde vive, labuta e morre a Criaturada grande de Dalcídio Jurandir que vem se revelar na cidade inteira até aos subúrbios da região metropolitana. Como diria o filósofo popular Joãozinho Trinta, quem gosta de miséria é intelectual... Noves fora intelectual orgânico, dizemos nós, que nem os fundadores da ACADEMIA DO PEIXE FRITO. Ao contrário da demagogia barata, que mistura cartão-postal com pitiú de peixe estragado na Pedra e catinga de urubu mas nunca vai à feira; a gente casa tradição e modernidade e sabe que turista inteligente curte lugar que em primeiro lugar é agradável e rentável às pessoas que aí trabalham e vivem diariamente. O resto é marquetingue da pior espécie...

A cidade grande do Pará cresceu de costas para o rio e, desgraçadamente, produziu uma das burguesias mais alienadas do planeta. Exagero? Talvez, mas um estudo de 'case' mostraria que salvo exceções de praxe a produção acadêmica e artística paraense só muito recentemente deu mostras de ter captado a mensagem dos modernistas da revista "Belém Nova", tendo à frente  o poeta da negritude amazônica Bruno de Menezes e seus confrades da inovadora ACADEMIA DO PEIXE FRITO nos anos 30 e 40... Isto é, em plena crise econômica mundial que levou à II Guerra e determinou o colapso do monoextrativismo da seringa amazônica.

Belém da belle époque da Borracha deixou um patrimônio imobiliário formidável e uma dívida social histórica além do complexo de frustração que se tornou o fantasma de todos governantes do Pará. Nesta metrópole em trânse a construção rodoviária desde a Belém-Brasília e a Transamazônica veio dar o golpe final à aspiração de hegemonia da elite paraense iludida com a efêmera fortuna extrativista sobre as cinzas fumegantes da Cabanagem abafada algumas décadas antes pelos gritos patrióticos da vitória imperial na Guerra do Paraguai conforme pode ser testemunhado, por flaneria diletante, em um passeio pelo bairro do Marco. Belém empiriquitada pra inglês ver se esconde do turista disavisado e oculta dos próprios habitantes seus bairros temáticos, como o Umarizal da Adesão à Independência; o Jurunas velho de guerra com suas tribos perdidas... Perdemos oportunidade para criar roteiros turisticos do patrimônio imaterial e revelar a cidade invisível, historicamente falando, mais importante de todas as Amazônias...

Então, não estamos falando de saudades nem duma paisagem cultural fóssil, mas sim do futuro que já começou com a própria emergência do Brasil potência internacional com os BRICAS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a integração da América do Sul e Caribe. Coudreau e Eidorfe Moreira nos deram régua e compasso... Mas o caminho pelo mundo deste "país que se chama Pará" ainda não foi feito como é preciso.  Revitalizar é preciso, "desenvolver" custe o que custar não é preciso... Porém sem mudar a mentalidade imperante de nossas elites locais, regional e nacional podem vender ou privatizar o Ver O Peso: porque o tal cartão-postal e o restante patrimônio da obra-prima da Amazônia, para o povo paraense, não vale nada!

O viajante da Amazônia ao chegar em Belém do Pará se não for ao Ver O Peso é o mesmo que ir a Roma e não ver o Papa... Aqui na feira o papa é o açaí grosso das Ilhas, fresco e tirado na hora! O que o povo adora e toma com farinha d'água para acompanhar o peixe frito. Apanágio da Academia do Peixe Frito ela mesma ignorada pela mídia papa-chibé e a elite paraense.

 O AÇAÍ É NOSSO!

PROVOCAÇÃO CABOCA PARA UM PROJETO AÇAIZAL LEGAL

O bendito fruto pretinho da palmeira Euterpe oleracea, cujos verdejantes açaizais bordam as margens dos rios e igarapés do maior arquipélago fluviomarítimo da Terra: candidato ao reconhecimento da UNESCO como reserva da biosfera; tornou as várzeas antes deixadas ao deus dará com suas populações ribeirinhas abandonadas em menina dos olhos do desenvolvimento sustentável. O popular açaí comida e bebida dos pobres outrora, agora é o elixir da juventude dos ricos... Ganhou o mundo! É o xodó dos bem nascidos em Nova Iorque e Paris. Quem diria! Mas aí, dona Maria, é onde mora o perigo...

A bordo de uma cuia de açaí ralo mastigando um rabo de mapará assado, caboco olha o jito no colo da mulher e pensa: quando este um crescer ainda terá sua beira de igarapé, comerá peixe frito com pirão de açaí parau, será? Será que a varja não irá a leilão cair na mão de um gringo barão ou voltar de novo ao patrão da velha pobreza de sempre?... São angústias novas misturadas com maltratos antigos. E o consumidor alienado, na cidade, não pensaria em salvar o seu rico nutriente cuidando de ajudar a promover o IDH dessa gente ribeirinha que provê a matéria-prima da gastronomia típica? Antes da história da Borracha se repetir enquanto o Diabo pisca um olho maroto.


Amigos e amigas 'açaizeiros' não joguem fora o voto de 2012! Votem em candidatos à Prefeitura e à Câmara Municipal comprometidos com a indústria cultural e do turismo tendo a revitalização patrimônio como insumos econômicos para geração de emprego e renda da população. Sem risco para nossas tradições, carece dar adeus aos urubus do Ver O Peso... Apressar o novo terminar pesqueiro com tudo que tem direito uma moderna indústria com responsabilidade social e ambiental à pesca artesanal e esportiva. Liberar o velho Mercado do Peixe para revitalização da gastronomia paraense sem precedentes e o Mercado Bolonha vir ainda ser adaptado à venda de churrasco de búfalo verde (orgânico), com seus talhos transformados em quiosques. Onde também se encontre o queijo do Marajó, certificado como deve ser. Este novo milagre econômico em potência precisa do voto e militância dos 'açaizeiros' para se tornar realidade.


No Ver O Peso vejam a cidade que se esconde das ilhas e usem o poder político que a Lei confere aos cidadãos como instrumento de desenvolvimento sustentável compartilhado, de modo justo e perfeito, com a Criaturada grande (populações tradicionais). Nós, da ACADEMIA DO PEIXE FRITO, podemos garantir que um açaí assim temperado com responsabilidade socioambiental é o melhor que há com autêntico sabor marajoara.


 CONSUMIDOR RESPONSÁVEL EXIGE SELO 
DO AGROEXTRATIVISMO FAMILIAR.


 

Foto: Oscar Lameira Nogueira / EMBRAPA

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