Beira Esquerda - manifesto antropoético

Ano Novo, vida nova. A ONU declara 2011 o Ano Internacional dos Afrodescendentes... Que faria o nosso imortal patrono Bruno de Menezes, poeta profeta da negritude amazônica, à frente da festividade de São Benedito da Praia e da Academia do Peixe Frito?

Eu imagino que ele formaria conselho com Tó Teixeira, Dalcídio, Rodrigues Pinajé, Jacques Flores, Eneida, Vicente Salles e os mais acadêmicos ictiófagos para discutir a questão. Com licença poética requerida, o autor do "Manifesto Antropofágico" diretamente de Paris com Pagu fariam escala no Ver O Peso a caminho do retorno ao país natal, a paulicéia desvairada.

Como a licença poética em pauta é ampla e irrestrita, antes de me meter na conversa dos imortais, passo pela esquina da boulevard Castilhos França para mandar telegrama à Sorbonne, via cabo submarino da Western Telegraph  dizendo a Ciro Flamarion Cardoso "venha e traga sua tese "Guyane française". Urgente". 

Oswald de Andrade tem notícias de que Mário de Andrade subiu o Amazonas e Rio Branco em busca de Macunaima e do El-Dorado. Flamarion Cardoso pergunta para que o chamaram e eu, aparecendo de um canto sem ser chamado, me apresso: "O professor, paresque, será capaz de justificar o que eu tenho a dizer a vocês"... "Pois diga, meu preto - Bruno de Menezes falou - fale em nome de São Benedito!".


Negócio seguinte, disse eu: no ano de 2011 seria bom levar a Academia do Peixe Frito em visita a Macapá... Ah! Pra quê! O pessoalzinho que estava à parte pela feira, mas de orelha em pé, se levantou entre apupos. Dizendo uns e outros, lugar da academia do peixe frito é no Ver O Peso. 

Então, o Dalcídio meteu a colher:"calma gente, o Brasil é nosso! Certo é que o Ver O Peso é a nossa Sé, mas até mesmo o Círio carece trasladação"... Rodrigues Pinajé emendou, São Benedito sai com foliões a fazer esmolação pelos subúrbios para vir finalmente à festa na Praia.


"Ora, sem criaturada grande não tem Ver O Peso, há academia que se sustente só de brisa e ideias", sentenciou Jacques Flores à beira de uma cuia de açaí. Então a vaia passou e eu pude retomar o fio de voz, dizendo ao professor Flamarion: fale doutor o motivo do convite".

O doutor replicou, "fale você, caboco! Eu ainda não sei o que vim fazer aqui"... Ora, essa! Caboco inventa cada coisa (eu mesmo me dei conta da enrascada). Pois se eu dissesse alguma coisa saída de minha cabeça, quem 'havera' de crer?


Na casa do sem jeito, o negócio é o seguinte:


I - as ilhas do Marajó, Baixo-Amazonas, Amapá-Guianas tudo resumido até as bocas do Drago e ilha de Trinidad formam a área cultural guianense;


II - daí a república da "Criaturada grande de Dalcídio": sem esta gente não tem peixe frito e pirão de açaía pra ninguém, podem crer;


III - de "Marinatambalo" [Marajó], em janeiro de 1500, Vicente Pinzón capturou e levou 36 índios feito escravos e prova do achado do "rio Santa Maria de La Mar Dulce"[Amazonas]: os primeiros "negros da terra" da América do Sul;


IV - a saga dos Tupinambás explica a invenção da Amazônia: a completar 400 anos em 2016 da construção do forte do Presépio (Belém do Grão-Pará);


V - o sítio onde o sol ata rede para dormir (Araquiçaua), portal da mítica "Terra sem males" ainda se acha na ilha do Marajó e no rio Araguari (Amapá);


VI - a rota das Guianas se confunde com a saga dos Tupinambás, até Camopi (rio Oiapoque): por aí também se teceu com Palheta em busca de índios bandoleiros, desertores e escravos refugiados (quilombolas)a história do café e a glória de São Paulo de Piratininga;


VII - Macapá, Amapá-Brasil; margem esquerda do Amazonas, paralelo zero Norte-Sul está chamando Marabaixo todas as Amazônias. Não está? A Amazônia Marajoara, pelo menos a metade, já está pra lá de Macapá.

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