UNIVERSIDADE DA MARÉ MESTRE VERGARA.



WALDEMAR LONDRES VERGARA FILHO (João Pessoa-PB,1958 - Belém-PA, 2018).




Conheci Vergara nas reuniões do Grupo em Defesa do Marajó (GDM) a respeito da implementação da Reserva Extrativista de Soure. Ele estava no Centro Nacional de Populações Tradicionais (CNPT) / IBAMA. Vergara foi imediatamente adotado pelo GDM. Agora tenho consciência de que aquele encontro contribuiu a sua naturalização paraense sem nenhuma contradição com seu nascimento e formação paraibana. Afinal de contas, como o grande Eidorfe Moreira e tantos outros, Vergara foi um perfeito sumano paraparaibano

Vergara foi para mim um dos poucos amigos a frequentar minha modesta casa residencial, dando-me a honra de compartilhar a mesa, ser amigo de minha mulher e irmão dos meus filhos. Suas composições musicais em parceria com o Moa e Rodolfo doravante tem um som especial, letras que levam longe o pensamento da gente por mares nunca dantes. Saudade é pouco para dizer esta cumplicidade militante pela Criaturada grande de Dalcídio.

Ideia dele a "criação" da virtual universidade da maré; a sugestão da escolinha que não saiu (ainda) "jardim do mangue": doravante Sorriso da Princesa, nome de escolinha maternal que ele não viu na vila de Algodoal; o ecomuseu memorial Mestre Lucindo, que está em gestação lá pras bandas de Marapanim... O sumano Vergara, nas lembranças da academia do peixe frito, ficou sendo da mesma linhagem de um Bruno de Menezes, Dalcídio Jurandir, padre Giovanni Gallo e o museu do Marajó; meu eterno camarada Neuton Miranda no encontro dos povos das águas dentro do Fórum Social Mundial, Manumoa e seu violão a cantar "Saga dos Tupinambás" e o pessoal das resex lotando o auditório do Convento dos Mercedários: prova de que a Cabanagem não morreu. Não foi coisa atoa, não. 

Em Bragança, encontro nacional de reservas extrativistas, lá estávamos juntos outra vez Vergara, Neuton, Rodolfo, Lélio e eu... Antes na ilha da Trambioca (Barcarena), em reunião com a comunidade vimos o que é um caraíba quando invoca a ancestralidade da Criaturada que nem o tremendão tupinambá... E pelas ondas da rádio comunitária Itaguari? Tenho eu impressão que os sumanos ouvintes nunca haviam dantes escutado uma fala semelhante que cala fundo nos sentimentos do povão. Vergara falava quase sempre com a alma e o coração. Daí a comunicação instantânea com a gente.

Mestre não é quem ensina, mas quem repente aprende. Viva Mestre Vergara para sempre! 

"Gente não morre. Fica encantado." Guimarães Rosa. 



Comentários

  1. Diante de tantos fatos relatados e que não compartilhei, fico eu a pensar que "voei" em muitas coisa que o Waldemar viveu... Muito do que ele foi, ainda não consegui alcançar até agora. Tal como um ser inacessível, que por muitas vezes, era como "possuído" por alguma entidade. Não o acompanhei em muitas coisas que gostaria. Não fui cúmplice de muitos sonhos como o do "jardim do mangue" e em coisas concretas, como por exemplo, nas visitas a casa de um amigo querido que ele constantemente evocava com tanta admiração. Mas, sobre essa universidade ele conversou várias vezes. Sumano Varela. Conte comigo.

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