A VEZ E A HORA DO MUSEU DO MARAJÓ NA REDE DE ECOMUSEUS E MUSEUS COMUNITÁRIOS.

Resultado de imagem para imagem padre giovanni gallo
Giovanni Gallo (Turim, 1927 - Belém do Pará, 2003), padre jesuíta italiano missionário na diocese de Ponta de Pedras, na ilha do Marajó: criador avant la lettre do primeiro ecomuseu brasileiro. Naturalizou-se caboco marajoara e conquistou merecidamente a naturalidade brasileira. Doravante, descoberto pelo museólogo francês Hugues de Verine, fundador do conceito de ecomuseu, tem toda possibilidade de virar estrela da rede internacional de ecomuseus e museus comunitários e atrativo do ecoturismo de base na comunidade na Amazônia. A Criaturada grande de Dalcídio agradece. 




Aos 109 anos do nascimento de Dalcídio Jurandir (1909-1979),
na Vila de Ponta de Pedras, ilha do Marajó, no dia 10 de Janeiro de 1909.


Analfabeto político, até então um perfeito 'caboclo' andava eu em montaria a remo quando, de volta de viagem ao venerável lago Arari (1956); o 'impaludismo' me derrubou mais uma vez... Tratado inicialmente em casa de tia Armentina, em Belém, atravessei a baía em igarité e fui me restabelecer na casa de minha avó Sophia. Esta uma mais a tia Lodica, entre rezas, remédios caseiros e banhos de erva pra sentar juízo, me receitou a leitura do livro escrito pelo tio Dalcídio, primeira edição do romance Marajó. Minha leitura incipiente, mas fui em frente e assim me caíram as "escamas dos olhos": sem carecer ir a Damasco, paresque que nem o fariseu Saulo de Tarso para detonar aqueles crentes do primitivo comunismo cristão. 

Ai Jesus! Aí, já com a "Criaturada grande de Dalcídio" na cabeça; larguei remo, canoa e marretagem no Ver O Peso e fui ser estudante profissional na cidade grande de Belém do Grão-Pará: diacho! Peguei o bonde errado e quando dei fé me vi enredado numa mocidade desguiada entre velhos galinhas verdes. Égua! O que me salvou foi o bom companheiro Donato Cardoso, da Vigia, que me apresentou ao Claúdio de Sá Leal e este foi com a minha cara fazendo de mim um foca de reportagem do novato Jornal do Dia. Então, o repórter marajoara noviço houve oportunidade de desembarcar do bonde integralista - expulso como "perigoso agente do comunismo internacional -, e pegar o trem vermelho da Reforma Agrária, com o maquinista Benedicto Monteiro na locomotiva, rumo à estação rural de Igarapé-Açu. Voltei no Maria Fumaça camarada do PCB, sempre com Dalcídio na cachola e o Marajó velho de guerra de minha avó tapuia no coração... Ora, se isto não for revolução eu não me chamo mais Zé Varela!

Foi armado assim, que nem aruã entocado em priscas datas; que atravessei os anos de chumbo da Ditadura de 1964, em pele de burocrata "macacovélico" lá nas lonjuras extremas de Faro algumas léguas abaixo da lagoa Espelho da Lua, onde antigamente - diz-que -, as icamiabas faziam muiraquitãs para dar aos amantes ocasionais em seus lendários jogos de amor.... Na terrinha querida de Ponta de Pedras, fui secretário da prefeitura e aproveitei pra botar as manguinhas de fora inaugurando sob direção do grande prefeito marajoara Antonico Malato, em todo estado do Pará, acredito até que na Amazônia inteira, o primeiro orçamento municipal participativo. E ainda arranjei um tempinho para alfabetizar uns poucos cabocos com a cartilha vap-vupt do educador Paulo Freire. 

Não é brincadeira... Quando acaba, voltaram antigas febres, fadiga, depressão, síndrome de pânico: mais uma vez tia Armentina, minha segunda mãe; deu-me a mão, nos fins de 1967 e no ano do AI-5 de 1968 eu estava no bagaço... Aprendiz de pajé reprovado por falta de fé, fiz psicanálise por conta própria, consultei seara de Umbanda, tomei banhos de descarrego e fiz defumações, virei zen-bubuia. Me levantei um pouquinho em 1970, peguei estrada Belém-Brasília, desembarquei na Rodoviária de Brasília entre candangos desempregados, uma mão na frente e outra atrás; sem nem certificado de curso primário, embora em terra de cego eu já tivesse sido rei, repórter policial, secretário municipal etecetera e tal.

Mais um migrante na Capital Federal vindo do Norte sem sorte, mas desta vez os caruanas tiveram dó de mim e conspiraram a favor do caboco do Marajó-Açu. Ressuscitei e fiz curso de Madureza, passei de primeira nos exames de I e II graus do Colégio Elefante Branco, sem descanso, aproveitei o embalo e fui aprovado no curso vestibular de direito da Universidade do Distrito Federal, logo auxiliar administrativo da estatal Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL), enfim servidor concursado do Itamaraty... Foi assim que o caboquinho empambado se aprumou na vida.

Quando o sol da democracia raiou (1988), o outrora "moleque comunista" do Itaguari estava Vice-Cônsul do Brasil em Caiena, ocupado em defender emigrantes brasileiros "clandestinos"... Foi do outro lado da fronteira do Oiapoque que vi de perto o "inferninho do contrabando" na outra margem do Amapá e Marajó velho de guerra, que, no Jornal do Dia com Angelo Giusti na chefia de reportagem, quase todo dia descrevíamos. Hoje sou muito grato a Guiana francesa pelo meu alto curso de amazonidade. Só lamento não ter conhecido antes Giovanni Gallo e Hugues de Verine, bem como o criador do Museu do Marajó e o fundador do conceito de ecomuseu não terem eles tido notícias um do outro naqueles amanhecentes tempos dos anos 70, quando o padre de Jenipapo e Santa Cruz do Arari fazia reportagens semanais e a fiel correspondente de Dalcídio, Maria de Belém Menezes, fazia recortes de jornais para informar o escritor marajoara no distante Rio de Janeiro. Sugestão de tema de pesquisa do interessantíssimo Repórter 70, do baratista O Liberal, vencedor da guerra midiática paraense com a temida Folha do Norte.

Em 1990 regressei de Caiena para Belém retornando também à Comissão de Limites onde eu estivera lotado entre 1974 até 1980, vindo de Brasília e voltando a Capital Federal. Aposentei-me do serviço público no dia da queda da Bastilha, 14/07/1998: 25 anos na Casa do Barão do Rio Branco a bom aturar gente com o rei na barriga, felizmente recompensado de uns poucos sinceros amigos, colegas e chefes de excelente condição humana.

Depois disso tudo, tendo tido merecendência de voltar a servir a minha terra de Ponta de Pedras, de 1994 e 1996, emprestado pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE), sem ônus para o município; militei a par do impávido mestre Camillo Martins Vianna e inventamos juntos com outros ajuricabanos o incrível exército brancaleone chamado Grupo em Defesa do Marajó (GDM), na Pro-Reitoria de Extensão, da Universidade Federal.


Resultado de imagem para imagem dalcidio jurandir
Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras, 10/01/1909 - Rio de Janeiro, 16/06/1979),
incentivador de Giovanni Gallo a fim de publicar o livro "Marajó, a ditadura da água". 



Belém do Grão-Pará - Aldeia Marambaia, 10 de Janeiro de 2018



Meu Querido tio Dal, 



Escrevo-lhe estas mal traçadas linhas, para dizer muito obrigado por tudo que o senhor fez por mim e pelos meus na grande família da Criaturada grande. Aqui na terra, nós não vamos melhor por que não nos deixam. Masporém, de qualquer maneira a gente vai levando como Deus quer e o Diabo gosta. 


Eu quero lhe agradecer, sobretudo, a resposta da carta que lhe mandei com o
palimpsesto que tio Rita, bondosamente como sempre, foi portador. Desculpe-me o texto
quase apagado que submeteu à prova a paciência do ilustre leitor com óculos
pouco aumentativos... Mesmo assim o senhor foi em frente e decifrou o dito cujo textão do parente.

Obrigado meu Mestre, afinal o romance dos tijucos não saiu. Em compensação,
eu virei blogueiro assíduo nesta coisa nova chamada internet, para dar testemunho do homem, aqui, largado em plena maré.

Até um dia, quando iremos nos encontrar na infinita Terra sem Mal dos ancestrais.


saudações Marajoaras do seu sobrinho, Zeca.



Claro que o caboco que vos fala, com um curriculum deste; não podia passar sem a Academia do Peixe Frito. A ocasião foi oferecida pela Câmara Municipal de Cachoeira do Arari, que criou a Comissão do Centenário de Nascimento de Dalcídio Jurandir (10/01/2009). Iniciativa de Albertinho Leão que veio a Belém propor que os mais municípios que desejassem participar se reunissem na Capital. Assim foi feito, todas primeiras sextas-feiras do mês no restaurante do Hotel Ver O Peso, retomando a tradição da confraria criada por Bruno de Menezes na década de 1930



"Quem não tiver falhado ou errado nesta história, que atire o primeiro 'caco de índio" ou a primeira ponta de pedra. A Criaturada grande de Dalcídio querendo paz." -- José Marajó Varela



por causa do extinto Grupo em Defesa do Marajó (GDM), Adenauer Góes, Secretário de Estado de Turismo (SETUR), colabora como pode para inserir a Criaturada de Dalcídio 
no desenvolvimento socioambiental do Pará, através de Cachoeira do Arari, Ponta de Pedras, Salvaterra e Soure como municípios turísticos do Polo Marajó.

Comentários

Postagens mais visitadas