BELÉM DA AMAZÔNIA, FELIZ LUSITÂNIA: UMA UTOPIA EQUATORIAL DE 400 ANOS.
Dom Sebastião (Lisboa, 20/01/1554 - Alcácer-Quibir, 04/08/1578), rei de Portugal coroado aos 3 anos de idade, sentado no trono aos 14, morto em batalha no Marrocos com apenas 24 anos: desde então transformado em mito no Sebastianismo anunciado em trovas proféticas, que galvanizaram a alma do povo português, pela boca do poeta sapateiro Bandarra, da vila de Trancoso, condenado a se calar pelo Santo Ofício. Rei ressuscitado para refundar a monarquia defunta na pessoa real de Dom João IV, em 1° de Dezembro de 1640. No Brasil, o mito do rei cavaleiro Dom Sebastião teceu a trama da resistência e esperança da Restauração lusitana debaixo do pavilhão da União Ibérica (1580-1640).
Por astúcia do aventureiro cristão-novo marroquino Martim Soares Moreno, amasiado com a índia Paraguassu, filha de Jacuúna, cacique de Jaguaribe; e graças, sobretudo, ao cunhadismo tupi, o Sebastianismo fez aliança providencial, no Ceará, com o messianismo dos caraíbas antropófagos da Yvy Maraey (Terra sem Mal). Esta aliança guerreira norte-nordestina levou 44 anos de guerra de expulsão dos Hereges (protestantes franceses, holandeses e ingleses) do Maranhão e Grão-Pará desde a tomada de São Luís (1615) até a incrível paz de Mapuá (Marajó, 1659), com que a conquista do rio das Amazonas em nome do reino de Portugal e depois império do Brasil ficou valendo, de fato e direito, passando à República Federativa do Brasil a caminho do futuro da brava gente brasileira no seio da União de Nações Sul Americanas.
O Sebastianismo animou sertanejos na guerra de Canudos e inflamou a guerra do Contestado, em Santa Catarina. Na costa do mar do Pará foi transformado em monumento natural Rei Sabá por ato voluntário de fé popular em arte e manha de diversos profetas e poetas do povo misturado a ritos afro-amazônicos. Dom Sebastião sempre esteve oculto entre movimentos de arrancada da fronteira Norte brasileira, entre Nova Lusitânia (Olinda, Pernambuco) até Feliz Lusitânia (Belém do Grão-Pará) na foz meridional do Amazonas, seguindo o padrão lusitano rio acima com a tropa de entrada de Pedro Teixeira e 1200 tupinambás de arco e remo, para plantar o primeiro marco de fronteira no Alto Amazonas entre os domínios de Castela e Portugal.
Em claro: quando, em 12 de janeiro de 1616, se levantou o forte do Presépio estavam casados para sempre o Sebastianismo com a utopia selvagem da Terra sem Mal (lugar mítico onde não há fome, trabalho escravo, doença, velhice e morte). Nascia assim mestiça, já no berço, a cidade morena do trópico úmido da América do Sul. Eis que é chegada a hora de anunciar o prodígio a todos e a todas no Brasil e no mundo.
A PARTE QUE NOS CABE NESTE LATIFÚNDIO.
Quando não houver mais florestas, os mitos nativos e os bichos do mato forem extintos; quando as fontes secarem devido a garimpos da lei do Cão, o ouro de tolo virar mercúrio envenando a atmosfera e através das chuvas a caça e a pesca (para não dizer, índios e ribeirinhos); montanhas de minério virarem buracos vazios, rios poluídos sem mais piracemas e apesar de tantos rios represados a demanda de energia para consumo industrial a milhares de quilômetros de distância já não poder mais ser satisfeita; pastagens ressequidas por verões cada vez mais longos darão terreno à desertificação...
Então os predadores, tão repentinamente como chegaram irão embora levando lucros para remessas ilegais a paraísos fiscais e mais destruição a outros rincões ainda intocados. E lá mato adentro restarão soldados da borracha esquecidos e abandonados, os "anistiados" fumados e mal pagos da Cabanagem que virou palácio dos deputados; os biscateiros do Ver-O-Peso sem carteira assinada; os sem história nem lugar onde cair morto, moradores de salário-minimo em algum mal afamado conjunto-dormitório insalubre, com nome residencial fulano de tal, na periferia mais endiabrada da zona dita "metropolitana". Onde Judas perdeu as botas e gente sem terra nem memória morre e nasce todo dia.
A comida da cidade, por exemplo, vem de fora através de rede de supermercados cada vez mais vindos de fora também em monopólios envenenados pela ganância e agrotóxicos, cativando o rebanho humano como nunca dantes neste país tropical, onde em se plantando e com marquetingue tudo dá.
Como se o colapso monoextrativista da Hevea não nos tivesse ensinado nada, viagem educativa em desenvolvimento socioambiental sustentável a Belterra, Fordlândia, Serra do Navio, Mazagão velha, Serra Pelada e outros lugares fantasmas podem nos mostrar o dia seguinte de um extrativismo predatório africano praticado no imaginário El-Dorado, que na verdade foi o antigo estado do Maranhão e Grão-Pará.
Antiga terra tapuia conquistada e colonizada com propaganda enganosa de uns e outros aproveitadores do suor alheio, tais como certo patrão de navio chamado Simão Estácio da Silveira, que escreveu folheto aos pobres de Portugal para iludir casais das ilhas dos Açores lhes prometendo o paraíso no Maranhão. Foi, certamente, o primeiro gateiro do insustentável "desenvolvimento" da Amazônia cujo patrono atualmente poderia ser o nobre deputado Antônio Kandir.
Começava aí, há quase 400 anos, a mentira do "espaço vazio" e a destruição do rio Babel (Amazonas) com o roubo de terras indígenas, escravização e matanças. Pelo que reagiram os bravos tupinambás comandados pelo cacique de Cumã, no Maranhão, chamado Pacamão, matando logo uma centena de colonos. E no Pará, Cabelo de Velha levanta os índios contra os portugueses no dia 7 de janeiro de 1619, que foi a primeira Cabanagem unindo índios do Maranhão e Grão-Pará contra o aliado infiel.
Logo a represália colonial mostrou-se desproporcional e feroz com banho de sangue enorme desde o Gurupi até o Guajará em cujo massacre se notabilizaram os genocidas Bento Maciel Parente e Pedro Teixeira, ambos na história como capitão-mor do Pará e que repousam em paz, respectivamente, enterrados na igreja do Carmo e na Catedral da Sé na Cidade Velha.
DE VOLTA ÀS ROCINHAS, CONJUNTOS-DORMITÓRIOS TRANSFORMADOS EM ALDEIAS AUTOGESTIONÁRIAS: A GUERRA URBANA SUPLANTADA PELOS DIÁLOGOS DA SUSTENTABILIDADE.
Sim, a gente quer participar do futuro da Cidade e região! Nós acreditamos no progresso da ciência e tecnologia, na justiça para todos, na igualdade de direitos e deveres do estado democrático. Já estamos a postos para acontecimentos pós-2015 (conforme novas metas do milênio pela ONU) e 2016 para invenção coletiva de uma nova Feliz Lusitânia na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Posto que o nosso grão Pará da criaturada grande, até agora, a respeito destes novidadeiros estatutos internacionais só ouviu o galo cantar sem saber de onde...
Mas, é preciso revitalizar e levar avante a esquecida e malfeita anistia de 1840, para salvação da verdade e reconciliação da história entre descendentes cabanos e herdeiros da colônia portuguesa. Para que isto agora se, felizmente, já esquecemos tudo que antigamente se passou na província? Há que se cuidar do futuro... Hão de dizer eternos vitoriosos da História e sabemos que os vitoriosos sempre tem razão, como reis de Espanha lutavam outrora para dar sepultura ao nobre corpo d'el-rei Dom Sebastião com medo que o povo tomando em próprias mãos a alma do Sebastianismo ressuscitasse o trono português, perdido na batalha de Alcácer-Quibir.
Justamente, não adiantou el-rei de Castela dar túmulo armorial ao suposto morto real a fim de matar o mito. Para o povão o Encoberto continuava e continua mais vivo do que dantes. E já se sabe que povo sem passado é povo sem futuro... Que nos adianta tantos seminários, workshops, colóquios e circunlóquios sobre cidades do futuro se a gente de carne e osso vivendo no lugar não sabe quem ela é de fato, donde veio e aonde poderá ir?
Os filhos distantes dos ajuricabas e nheengaíbas, mamelucos, negros da terra e da Guiné, degredados e pobres casais deportados do reino, criaturada grande da revolução paraense de 1835, querem ocupar o Palácio do governo, Prefeitura e Câmara de Vereadores, cair na gandaia democrática, tomar parte da festa dos 400 anos, nem que seja a pé no carnaval devoto e no círculo sagrado do Círio de Nazaré, ano comemorativo de 2016.
Mas, é preciso revitalizar e levar avante a esquecida e malfeita anistia de 1840, para salvação da verdade e reconciliação da história entre descendentes cabanos e herdeiros da colônia portuguesa. Para que isto agora se, felizmente, já esquecemos tudo que antigamente se passou na província? Há que se cuidar do futuro... Hão de dizer eternos vitoriosos da História e sabemos que os vitoriosos sempre tem razão, como reis de Espanha lutavam outrora para dar sepultura ao nobre corpo d'el-rei Dom Sebastião com medo que o povo tomando em próprias mãos a alma do Sebastianismo ressuscitasse o trono português, perdido na batalha de Alcácer-Quibir.
Justamente, não adiantou el-rei de Castela dar túmulo armorial ao suposto morto real a fim de matar o mito. Para o povão o Encoberto continuava e continua mais vivo do que dantes. E já se sabe que povo sem passado é povo sem futuro... Que nos adianta tantos seminários, workshops, colóquios e circunlóquios sobre cidades do futuro se a gente de carne e osso vivendo no lugar não sabe quem ela é de fato, donde veio e aonde poderá ir?
Os filhos distantes dos ajuricabas e nheengaíbas, mamelucos, negros da terra e da Guiné, degredados e pobres casais deportados do reino, criaturada grande da revolução paraense de 1835, querem ocupar o Palácio do governo, Prefeitura e Câmara de Vereadores, cair na gandaia democrática, tomar parte da festa dos 400 anos, nem que seja a pé no carnaval devoto e no círculo sagrado do Círio de Nazaré, ano comemorativo de 2016.
Após a suposta anistia de 1840, trabalho forçado do Corpo de Trabalhadores, do genocídio dos cabanos e das grandes penas da guerra civil amazônica, querem novos cabanos justamente se empoderar da Cidadania brasileira pela qual seus avoengos -- sem saber --, pelejaram desde quando abandonaram a vida nômade nas florestas ainda em odor de virgindade e piscosas beiras de rios e cabeceiras de igarapé nas várzeas primitivas para inventar a primeira ecocivilização amazônica, chamada Cultura Marajoara.
A esplêndida economia da belle époque da Borracha foi a pique e quanto acaba, quem pagou o pato da civilização Paris n'América foram minas de cabocos despossuídos de território e identidade, milhares de arigós expulsos de seus pagos pelas secas para ser cativos dos seringais e índios brabos caçados a bala feito bicho a fim dos seringalistas piratear o rico invento dos índios Cambebas (sem um mísero vintém em paga de um royalty qualquer) a dar lucro aos bancos e casas aviadoras. Além da queda, coice...
Quando barões da soja e reis do gado determinaram derrubar seringais abandonados, saiu em liça para empate da devastação um exército de seringueiros comandados por um certo Chico Mendes, descendentes de velhos soldados da borracha. Mataram Chico Mendes e pronto! Porém, como um novo Dom Sebastião da floresta amazônica o seringueiro rebelde se multiplicou em cem, mil e milhares de Chicos extrativistas. Hoje muitos vindos de fora da região falam em sustentabilidade da Amazônia, de boca cheia, como se eles fossem inventar a roda, enquanto mil e quinhentos anos nos contemplam a presepada ecológica pra inglês ver.
Quando barões da soja e reis do gado determinaram derrubar seringais abandonados, saiu em liça para empate da devastação um exército de seringueiros comandados por um certo Chico Mendes, descendentes de velhos soldados da borracha. Mataram Chico Mendes e pronto! Porém, como um novo Dom Sebastião da floresta amazônica o seringueiro rebelde se multiplicou em cem, mil e milhares de Chicos extrativistas. Hoje muitos vindos de fora da região falam em sustentabilidade da Amazônia, de boca cheia, como se eles fossem inventar a roda, enquanto mil e quinhentos anos nos contemplam a presepada ecológica pra inglês ver.
BELÉM DO PARÁ QUE SERÁ?
Quando não houver mais florestas, os mitos nativos e os bichos do mato forem extintos; quando as fontes secarem devido a garimpos da lei do Cão, o ouro de tolo virar mercúrio envenando a atmosfera e através das chuvas a caça e a pesca (para não dizer, índios e ribeirinhos); montanhas de minério virarem buracos vazios, rios poluídos sem mais piracemas e apesar de tantos rios represados a demanda de energia para consumo industrial a milhares de quilômetros de distância já não poder mais ser satisfeita; pastagens ressequidas por verões cada vez mais longos darão terreno à desertificação...
Então os predadores, tão repentinamente como chegaram irão embora levando lucros para remessas ilegais a paraísos fiscais e mais destruição a outros rincões ainda intocados. E lá mato adentro restarão soldados da borracha esquecidos e abandonados, os "anistiados" fumados e mal pagos da Cabanagem que virou palácio dos deputados; os biscateiros do Ver-O-Peso sem carteira assinada; os sem história nem lugar onde cair morto, moradores de salário-minimo em algum mal afamado conjunto-dormitório insalubre, com nome residencial fulano de tal, na periferia mais endiabrada da zona dita "metropolitana". Onde Judas perdeu as botas e gente sem terra nem memória morre e nasce todo dia.
A comida da cidade, por exemplo, vem de fora através de rede de supermercados cada vez mais vindos de fora também em monopólios envenenados pela ganância e agrotóxicos, cativando o rebanho humano como nunca dantes neste país tropical, onde em se plantando e com marquetingue tudo dá.
Como se o colapso monoextrativista da Hevea não nos tivesse ensinado nada, viagem educativa em desenvolvimento socioambiental sustentável a Belterra, Fordlândia, Serra do Navio, Mazagão velha, Serra Pelada e outros lugares fantasmas podem nos mostrar o dia seguinte de um extrativismo predatório africano praticado no imaginário El-Dorado, que na verdade foi o antigo estado do Maranhão e Grão-Pará.
Antiga terra tapuia conquistada e colonizada com propaganda enganosa de uns e outros aproveitadores do suor alheio, tais como certo patrão de navio chamado Simão Estácio da Silveira, que escreveu folheto aos pobres de Portugal para iludir casais das ilhas dos Açores lhes prometendo o paraíso no Maranhão. Foi, certamente, o primeiro gateiro do insustentável "desenvolvimento" da Amazônia cujo patrono atualmente poderia ser o nobre deputado Antônio Kandir.
Começava aí, há quase 400 anos, a mentira do "espaço vazio" e a destruição do rio Babel (Amazonas) com o roubo de terras indígenas, escravização e matanças. Pelo que reagiram os bravos tupinambás comandados pelo cacique de Cumã, no Maranhão, chamado Pacamão, matando logo uma centena de colonos. E no Pará, Cabelo de Velha levanta os índios contra os portugueses no dia 7 de janeiro de 1619, que foi a primeira Cabanagem unindo índios do Maranhão e Grão-Pará contra o aliado infiel.
Logo a represália colonial mostrou-se desproporcional e feroz com banho de sangue enorme desde o Gurupi até o Guajará em cujo massacre se notabilizaram os genocidas Bento Maciel Parente e Pedro Teixeira, ambos na história como capitão-mor do Pará e que repousam em paz, respectivamente, enterrados na igreja do Carmo e na Catedral da Sé na Cidade Velha.
A gente fala tanto em pobreza em meio a riquezas que estão diante de nossos olhos. Dentre todos recursos naturais da região, o capital é a massa cinzenta de cérebros humanos das populações tradicionais herdeiras de saberes mais antigos do que os que aqui chegaram há cerca de quinhentos anos. Educação é a solução dizemos todos entre gregos e troianos: falta nos meter rapidamente em acordo sobre 'que' educação e para 'quem'...
Foi preciso no século XX Freud, Jung e Adler descobrir o Inconsciente, trezentos e tantos anos depois dos padres capuchinhos franceses, no Maranhão, diabolizar Jurupari, o demiurgo dos índios. E ainda hoje no século XXI pastores e padres mal informados sobre neurociência e psicologia humana continuam a demonizar santidades alheias como se todos estivéssemos ainda na Idade Média.
Porém é da economia da felicidade que eu queria falar, da revolução poética começada em São Paulo em 1922 que deu filhotes em Belém na Academia do peixe frito e em Manaus no Clube da Madrugada; a fim de que enfim faça sentido chamar Feliz Lusitânia a esta cidade morena encharcada de sangue, suor e lágrimas descendente da antiga e bárbara Lusitânia mãe do vasto mundo que o português inventou. Valeu a pena? Respondemos com o Poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Nos 400 anos, em meio a festas, é preciso lembrar os mortos de nossa felicidade.
DE VOLTA ÀS ROCINHAS, CONJUNTOS-DORMITÓRIOS TRANSFORMADOS EM ALDEIAS AUTOGESTIONÁRIAS: A GUERRA URBANA SUPLANTADA PELOS DIÁLOGOS DA SUSTENTABILIDADE.
O poder quando caduca dementa, mas o povo recicla e inventa; a resiliência suscita cura a todo tipo de loucura. Pela fé da mucura... Os brasileiros modernos, a exemplo de Voltaire -- "o mundo só terá paz quando se enforcar o último rei com as tripas do último padre." --, podem até não gostar de monarcas e de sacerdotes. E tem lá suas razões de queixa da História euro-ocidental... Todavia, se existe hoje o maior país amazônico do mundo, o gigante Brasil na comunidade dos países amazônicos e da América do Sul; devemos nos lembrar que se deve o milagre brasileiro, primeiramente ao Mito seminal d'el-rei Dom Sebastião morto em batalha real no Marrocos e ressuscitado pelas loucas esperanças do povo lusitano na conquista do Mar Português, como canta o poeta Fernando Pessoa, quando diz: "tudo vale a pena se a alma não é pequena"...
Mas atenção, muita atenção! O imperador do Quinto Império é o Menino, avisa o filósofo luso-brasileiro Agostinho da Silva. Melhor dizer a criança. Ou seja, futuras gerações da Terra sem males orientada pela ética e a ciência. Pobre rei menino Sabá manipulado por padres ensandecidos por demônios medievais. Dom Pedro Segundo último imperador do Brasil também era uma criança quando a velhice monárquica roubou-lhe a infância.
Depois, na genealogia mítica e real de Dom Sebastião onde nosso realismo mágico se filia, a Amazônia brasileira é fruto tardio da utopia evangelizadora judaizante do "imperador da língua portuguesa", o Padre Antonio Vieira embebido de cálculos econômicos e políticos sob manto teocrático donde a teologia da libertação é servida - já se deveria advertir àquela altura "é a Economia, estúpido!" --, no ano de 1659, fins da missão do Grão-Pará quando o payaçu proclamou, na polêmica carta "As Esperanças de Portugal"; o reino de Jesus Cristo consumado na terra, codinome "Quinto Império do mundo". Onde judeus, cristãos e muçulmanos viverão em paz entre si e os outros povos da Terra (cf. Antonio Vieira, "História do Futuro").
É do futuro de nossa história que estamos tratando... Sem Vieira e os caciques Nheengaíbas não estaríamos aqui a jogar conversa fora: talvez tudo isto desde a Bahia até as Guianas, inclusive Rio Negro tivesse sido domínio holandês. Sem a nação Tupinambá não dá para entender a Amazônia e o "uti possidetis" português. Mas é preciso o povo amazônico amazonizar o Brasil pela libertação da colonialidade. E já se deveria saber que a colonialidade é pior que o colonialismo.
A gente precisa de emprego e renda local, de preferência cada um sendo patrão de si mesmo através de uma próspera economia solidária. Na qual a par da gastronomia tradicional a segurança alimentar em agroecologia familiar e agricultura urbana e periurbana. Cadeia produtiva de uma poderosa indústria cultural e turística certificada seja suporte à revitalização do patrimônio histórico material e imaterial economicamente sustentável, socialmente justo, ecologicamente comprovado. Empregos especializados, evidentemente, um casarão arruinado pode render mais dinheiro que um espigão de apartamentos. Se aquele tem interesse patrimonial atraindo visitantes dispostos a pagar para viajar na história.
Visitantes do futuro ao penetrar o Museu de Arte Sacra do Pará, no centro histórico Feliz Lusitânia, deveriam estar previamente informados e iniciados aos mistérios à margem da História, tanto sobre a mística jesuítica quando à mitologia amazônica. Padres, índios e colonos na pele de atores profissionais poderiam recepcionar grupos de turistas interessados a saber que aí era o convento dos Jesuítas no Grão-Pará e que a sombra do padre grande ainda perambula entre muros da igreja de Santo Alexandre. A voz do vento correndo pela Praça da Sé (que deveria talvez dar espaço a Vieira ao lado de frei Caetano Brandão), à força de imaginação, repetiria o "Sermão aos Peixes" a colonos de todas gerações, a exemplo dos peixinhos do mar chamados Tralhotos; para abrir os olhos cegos de tanto ver a paisagem amazônica quase morta.
Como, por exemplo, a sacrificada Castanheira do shopping center próximo ao desmemoriado Memorial da Cabanagem, no Entroncamento; depois de morta, arrancada, transformada em madeira e marquetingue "verde". Ou os periquitos verdes envenenados em quantidade pelo condomínio elegante da cidade industrial que leva nome dos extintos índios Manaus. Ajuricaba morre no Rio Negro a segunda vez e em Belém do Pará a cabanagem se acaba sem adeus.
Dom Sebastião encoberto atravessou o Oceano na frota invisível dos Turcos encantados e faz morada no Salgado Paraense onde foi descoberto por pescadores devotos, ele trouxe cavalaria celestial através do caminho do Maranhão, brinca altas horas com as ondas de alto mar e conversa com a Princesa do Mar visitando casas de Mina nas cidades da região: mas o arguto padre grande não viu Rei Sabá sentado na beira da praia de Pirabas, nem vislumbrou a Terra sem Mal com seus tupinambás catequizados, sem os quais não poderia ir nem no outro lado do Guamá. Estes uns sonsos que nem o Diabo.
Utopia incompreensível ao século XVII na transição da Idade Média ao Século das Luzes. Mas, que no século XXI seria grande pena não suscitar para refazenda de um turismo cultural inteligente. Quando "Deus é brasileiro" ("fizemos Cristo nascer na Bahia ou em Belém do Pará" -- Oswald de Andrade, "Manifesto Antropofágico", 1928) e o Papa é argentino, jesuíta que nem o payaçu dos índios do Maranhão e Grão-Pará (Amazônia lusitana). Já falei demais, melhor sair por aí fazendo turismo a pé e confraternizar com caminhantes de rua. Cada bairro uma página de história e geografia no livro aberto da Cidade.
Tu es demais. Adoro o q escreves, e como escreves.
ResponderExcluirLer isto foi um presente de aniversaro.
Obrigada,
Abs
DR