enraizar e conectar com a comunidade: eis a crucial questão das redes sociais.

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Rocinha - Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém - Pará.



Existe uma relação umbilical entre a mais antiga cultura complexa da Amazônia - a Cultura Marajoara -, iniciada cerda do ano 400 depois de Cristo, e a primeira instituição científica amazônica, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), fundado em 1866. Nestes 153 anos, construiu-se uma relação dialética entre Natureza e Ciência nas regiões amazônica através do MPEG, na qual as populações com suas culturas regionais conectam-se com o mundo e vice-versa. É claro que não há exclusividade nessa relação externa entre comunidades amazônicas e outras instituições de pesquisa ou mesmo individualmente entre índios, quilombolas, cabocos e pessoas vindas de fora da região para o bem e o mal.

Apesar do logo tempo de relação entre a Academia e Comunidade nas regiões amazônicas, trata-se ainda de uma relação imperfeita que tenta melhorar continuamente, com altos e baixos, através da Extensão em geral de conhecimentos mútuos. Falei da Cultura Marajoara em primeiro lugar por ser este patrimônio brasileiro e do mundo a primeira cultura complexa desta parte do planeta Terra. Mas, não há praticamente para o Museu Paraense uma única região amazônica que lhe seja estranha. 

Neste momento, a Amazônia está no centro das atenções planetárias. A cidadania planetária é o futuro da Humanidade. Todavia, como ensina Edgar Morin; isto não significa o regresso ao imperium universal de tristes memórias. Pelo contrário, é ainda uma utopia factível. Construção de um mundo possível, cujas raízes se acham na vida local das comunidades de gentes, bichos, plantas, ecossistemas e memórias do território desde tempos distantes que vão se perdendo na imaginação humana. Mini pátrias-região dentro da pátria-nação, blocos internacionais e sistema global em dinâmicas e complexos relacionamentos. Sem soberania popular a soberania nacional desvanece pouco a pouco...

Nisto a (pan)Amazônia é riquíssima além das riquezas naturais que são alvo de cobiça do chamado "celeiro do mundo" (Humboldt, 1799), da biodiversidade de seus respectivos biomas nas regiões amazônicas dos países amazônicos Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana francesa. O MPEG é decano das pesquisas na e da Amazônia, isto todos devemos saber. Consequentemente, o jargão ecologista "Amazônia, os pulmões do mundo" já perdeu validade por força da Ciência: a Amazônia sim, resultado do casamento da maior bacia fluvial do planeta com a maior floresta tropical da Terra poderia ser vista com o coração pulsante do mundo. Se este coração for pintado de verde, não há problema... Uma enorme melancia talvez. Pulmões também são vermelhos, mas no caso da Floresta Amazônica ela é velha e consume todo oxigênio que produz...

Por que estou escrevendo isto aqui? Para os poucos que sabem do assunto é como chover no molhado. E aos muitos que deveriam saber, com raras exceções, o palavreado soa desinteressante para além da tragédia de tantos que não sabem ler e escrever. E outros, carentes ainda de internet.. Então é que eu gostaria que a Criaturada (através de mestres como Vergara Filho foi entre nós e continua sendo pela memória de quem teve o privilégio de partilhar experiências de vida com ele) tivesse notícia destas coisas que a "Universidade da Maré" procura levar às populações tradicionais. Quando, por acaso, eu vejo que um amigo à distância 'curtiu' uma coisinha colocada por mim na rede é uma felicidade. Se o amigo da rede social me contradiz, certo ou errado, é oportunidade para eu aprender ou tentar explicar melhor (noves fora casos de ofensa grave e crassa intolerância). 

Desta feita, quero compartilhar minha última utopia. A mais recente, melhor dizendo... A ecomuseologia! Graças ao francês Hugues de Varine tomei lição à distância a respeito do que é território da memória. Logo me dei conta do fato, afinal de contas, de que toda memória tem necessariamente território e todo território é um bem comunitário. Minha escola onde aprendi o que, de fato, o museólogo egresso do venerável museu do Louvre quis dizer às ruas, rios, campos e cidade ao ar livre, foi a internet. Ora, eu sonhei um dia me comunicar à Criaturada grande de Dalcídio... Tentei escrever por papel impresso e fiz dois ensaios, o terceiro está quase na boca do forno... Mas, é um meio muito complicado e seletivo sobretudo onde reina o analfabetismo adulto. Por que então escrever livro a todos e a ninguém? A esperança de que o livro estúrdio do caboco metido a letrado, tal qual garrafa de náufrago confiada à maré, deu à praia onde uma mente curiosa o recolheu e captou o fio de ideia que estava nele. Isto é uma tentativa de metáfora. Para o auspicioso caso em que um desconhecido leia e compreendendo ligue o assunto à poderosa "rádio cipó" no bar, no lar, oficina, escritório, esquina de rua, praça, beira de rio...

Pois saibam que o Museu Goeldi é como uma catedral para nós cabocos: portanto, de modo informal, a UNIVERSIDADE DA MARÉ faz extensão acadêmica não autorizada ao modo dos pajés verdadeiros, que nada cobram e nada pedem em troca... Quando o padre Giovanni Gallo (Turim, 1927 - Belém do Pará, 2003), criador d'O Nosso Museu do Marajó, morreu foi imenso nosso sentimento de orfandade. Eu chorei copiosamente. Aliás, choro sempre que acontece perder alguém que se dedica sinceramente à Criaturada grande, foi assim com meu amigo, irmão e camarada Neuton Miranda... Mas, quando Dalcídio morreu lá no distante Rio de Janeiro eu estava a serviço da Comissão de Limites (PCDL) em Manaus e não chorei: porque eu sabia de seu sofrimento enorme devido ao mal de Parkinson... A morte de meu velho pai também foi para ele uma libertação da velhice e da doença, portanto minhas lágrimas em silêncio foram discretas e agradecidas por toda aquela vida que terminava como uma grande lição de vida para mim. 

O Museu Goeldi socorreu logo o Museu no Marajó órfão de seu criador. E já que falei de meu pai, foi ele quem pela primeira vez me levou a visitar o Parque Zoobotânico, havia eu menos de quinze anos de idade, nós viemos do Marajó para me tratar de uma malária crônica. Naquela tarde eterna de puro encantamento de um caboquinho com seu pai "naturalista" nato foi plena felicidade. Naquele tempo em Belém andava-se muito a pé. Entre o museu e a Cidade Velha "pegamos" uma chuva daquelas que só há em Belém do Pará. Longe de transtorno a chuva foi uma festa para coroar minha primeira visita ao Museu... Apenas Museu, sem mais nada. Museu como devem ser todos os museus de portas abertas cercados por árvores e animais...

De volta à nova museologia. Lembro aquele dia que com meu filho MsC em Ictiologia pelo convênio UFPA/MPEG e a nora MsC em biologia pela UFPA fui recebido pela professora Terezinha Resende e equipe do ECOMUSEU DA AMAZÔNIA, lá na ilha de Caratateua... Começou ali minha "última" utopia. Quem vem da ilha só se contenta em estar noutra ilha. Vivo ultimamente de ilha em ilha Caratateua, Maiandeua, Mosqueiro... Procurando "minha" yby marãey (Terra sem Mal). Lembro do amigo Peter Mann de Toledo, então diretor do Museu Goeldi, ele me pediu por cortesia um resumo da obra Cartas do Sertão de Curt Nimuendajú para Carlos Estevão de Oliveira, que foi publicada no Boletim do MPEG.  

O pedido decorreu da conversa que tivemos sobre a nação Tupinambá ter conquistado a Amazônia abrindo os caminhos do sertão em busca da mítica Terra sem males. Disse-lhe, os guerreiros procuravam pela guerra no espaço plano de Euclides... Nós porém não devemos dar por acabada a demanda do "lugar mágico" onde não existe fome, trabalho escravo, doença, velhice e morte... O caminho para o 'paraíso' na Terra será possível através da Ciência e Tecnologia no espaço curvo de Einstein em justiça paz.

Era isto que eu queria dizer aos companheiros AMIGOS DO MUSEU DO MARAJÓ, sobretudo ao amigo Durval Costa, da equipe de campos do Ecomuseu da Amazônia que chamou minha atenção para o problema da falta de enraizamento do movimento social. Concordo plenamente. Sem raízes a obra socioambiental não teria fundamentos ainda que tivesse um monte de dinheiro. Sem conseguir interligar conhecimentos acadêmicos com os saberes da comunidade seria comparável a plantar palavras ao vento.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Museu_Goeldi

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