Estradas e caminhos de Nazareth

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Carro dos Milagres alegoria de D. Fuas Roupinho, salvo à beira do abismo 
por socorro da Virgem. Círio Nazaré em Belém do Pará. 





"No mês de outubro em Belém do Pará 
São dias de alegria e muita fé 
Começa com extensa romaria matinal 
O Círio de Nazaré 
Começa com extensa romaria matinal 
O Círio de Nazaré"

Festa do Círio de Nazaré / Dominguinhos do Estácio. 


Em meio a um mundo caótico em crise climática e civilizacional, num país tropical em transe profundamente dividido como nunca dantes pela cobiça, a raiva e a ignorância; a Amazônia suplica amor e paz aos pés da Virgem de Nazareth.

Metáfora do espaço/tempo: Maria mãe do Salvador, do poço da Anunciação até o Calvário... Maria das dores da Terra até a Ascensão ao Céu... Maria de Nazaré até se transformar em Nossa Senhora do Brasil... 

O sagrado e o profano juntos e misturados no carnaval devoto e no rito cerimonial da Chegada, o Círio em romaria obscura pela antiga estrada de Nazaré até a ermida modesta coberta de palhas na beira do igarapé... Freud explica, porém Jung vai além do inconsciente individual pelo descobrimento dos arquétipos imemoriais.

Da roça no interior da região, o pato e o tucupi da criação da terra, a maniva da maniçoba, a farinha de tapioca para açaí tradicional, o suor do camponês lavrador, a lida do pescador para dar a posta suculenta do filhote na mesa farta do doutor. A mais valia do Círio merece alta consideração da história da devoção de Nossa Senhora de Nazareth saída da antiga Galileia até o Inferno Verde no mundo moderno.

Um momento de trégua na dura luta pela sobrevivência: já não mais apenas de católicos apostólicos romanos, mas de todos crentes nos poderes infinitos da compadecida Mãe de todos seres viventes, humanos ou não... Ícone do amor maternal, imagem santa da sagrada mãe de Jesus Nazareno, o Cristo salvador. Um sonho augusto celestial para salvar a Humanidade desnorteada na terra dos homens, busca sublimada do paraíso na terra sem males através da espiral evolutiva do tempo do Homem. 

Ave, o poeta da floresta Thiago de Mello! Viva São Benedito da Praia, salve o poeta Bruno de Menezes!

Um dia ecumênico amazônico para o Brasil e o mundo inteiro. Quem vai à procissão leva gratidão em pagamento de promessa pela graça alcançada; o homem e a mulher que viviam sozinhos se fazem multidão em volta da Berlinda e na Corda igualitária, onde devotos tem os pés descalços como os pobres ricos de fé... 

Quem acompanha a procissão à distância se comove de tanta emoção, não importa creia ou não. É a Vida, é a Vida cheia de amor e de fé pela representação simbólica da Mãe de todos no santuário solitário de cada coração humano. 

Dizem, no Pará, que este dia singular do Círio de Nazaré é o Natal dos paraenses e por isto a UNESCO, em 2013, inscreveu o evento na Lista Representativa do Patrimônio Imaterial da Humanidade. Coroação da trasladação devota transoceânica, diáspora judia convertida ao sagrado coração de Jesus desde a humilde Galileia até a humilde barraca do caboco Plácido. Não importa que era Plácido, não importa se esta história original é fato ou invenção: vale a alegria e a fé do Círio de Nazaré!

Eis que é dia de Círio, momento para sentar e meditar sobre a mensagem original zen da aldeia de Nazareth pelos caminhos do mundo castigado pela cobiça, a raiva e a ignorância que habita a todos seres vivos sob o sol. 

O inferno somos nós mesmos: mas, felizmente, nós somos o paraíso também. Há que acender a luz da compaixão no escuro caminho da vida!

A devoção de N.S. de Nazaré começa na Idade Média em Portugal, no pós-guerra entre árabes e ibéricos durante a Reconquista, com o miraculoso achado da imagem da mãe de Jesus Cristo encontrada numa gruta isolada no sítio sagrado da Nazaré. A origem do culto mariano, todavia, vem da Galileia, há dois mil anos, logo em seguida à vida, paixão, morte e ressurreição de Cristo. 

Creio que 600 anos depois da morte do príncipe Sirdhata Guatama, Buda e Cristo encontraram-se às margens do rio Jordão e do Mar Morto: passagem de caravanas no caminho da seda entre a velha Índia e portos da Fenícia (Líbano), no Mediterrâneo. A prova desse antigo caminho de mercadores é a reprodução do bicho-da-seda no vale do Bekaa. 

Abertura do fechado mundo hebreu ao mundo exterior na Antiguidade. É bem certo que árabes e judeus viviam em paz naquela região do Oriente Próximo estremecidos, de tempo em tempo, por guerras de invasão por impérios estrangeiros. A Galileia era terra periférica, onde João Batista e seus discípulos da seita dos Terapeutas, pregou no deserto o caminho da paz para o mundo libertar-se da violência e ter futuro pacífico. 

Sabemos que Roma aniquilou a Galileia para castigar a resistência daquela província ao poder imperial: mas, a não-violência que já vinha do Oriente foi manifestada ao Ocidente por Jesus Cristo, no Sermão da Montanha, primeiro mandamento da igualdade entre todos filhos e filhas de Deus. Primeiro marco do caminho da Não-Violência! Tudo ao avesso do Anti-Cristo.

Fé e História se confundem na longa estrada de Nazareth para a paz mundial. Começa nas alturas do Mar Morto, proximidades da fronteira das antigas Palestina e Síria-Líbano, no vale do Bekaa; até o nascimento da Amazônia na conquista do Maranhão e Grão-Pará e da utopia evangelizadora do Reino de Jesus Cristo consumado na terra, revelado primeiramente pelo padre Antônio Vieira na carta acusada de heresia judaizante pelo Santo Ofício, As Esperanças de Portugal, escrita em Cametá (Pará), no dia 29 de abril do ano de 1659. Quatro meses depois, o paiaçu dos índios alcançou a paz dos Nheengaíbas (Marajó), em 27 de agosto do mesmo ano, com que se encerraram 44 anos de guerra de conquista do rio das Amazonas. Caminhamos na sagrada e profana estrada de Nazareth...


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imagem original de Nossa Senhora de Nazareth venerada no Sítio da Nazaré, em Portugal donde a devoção se propagou às colônias portuguesas no ultramar com as missões do padres da Companhia de Jesus. Uma Virgem morena, entre várias virgens negras encontradas na Europa.



Segundo a tradição, a imagem encontrada em Portugal foi esculpida por São José carpinteiro na aldeia de Nazaré, sendo mais tarde restaurada e pintada por São Lucas evangelista. Verdadeiramente, a lenda é uma criação humana inspirada pelo amor dos filhos à nossa mãe celestial na terra, representada de diversos modos desde tempos imemoriais do parto da humanidade filha da animalidade, em África negra. 

MADONAS OU VIRGENS NEGRAS



As Virgens ou Madonas Negras são motivo de grande curiosidade em relação à ancestralidade da Deusa Negra, convertida em Virgem que por ação sobrenatural, segundo crença da Antiguidade; gerará um filho ao mesmo tempo humano e divino para salvar das garras da animalidade a humanidade. Vemos isto na figura de Maria, Mãe de Jesus; Krishna; Isis e seu filho Horus e Merlin, o mago do qual teria nascido de uma virgem celta. 

Na Amazônia, no mito de Jurupari, o herói civilizador tupi nasceu de uma índia virgem chamada Ceucy ("mãe das lágrimas"), que ficou grávida do Sol através do sumo da fruta Cucura do Mato (espécie selvagem de imbaúba vinífera). O altar-mor da igreja do Carmo, em Belém do Pará, tem ornamentação de ramos com frutos de cucura imitando parreira com uvas. Decorre da solução encontrada pelo padre mestre para orientar o artesão indígena que ali deixou a sua arte barroca. Um exemplo de mestiçagem artística e cultural amazônica entre tantos outros.
As Madonnas – Senhoras – são cultuadas em todo o mundo e sempre o foram por todas as culturas desde o chamado paganismo até as religiões monoteístas. Representam a origem do ser humano divinizando a Mulher, a negritude, a primeira humanidade do planeta Terra. Seu culto deriva das tradições afro e celtas muitas das quais foram romanizados pela Igreja Católica e copiadas por outras igrejas.
Madonas sempre foram cultuadas para abençoar crianças daí a escolha do dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, como dia das crianças neste país, enquanto em outros países de América se comemora o dia nacional.
Onde o amor e a razão se casam o fruto desta união é a paz. Este anseio planetário que, no mês de outubro em Belém do Pará, leva o povo em romaria até o santuário onde o caboco Plácido, no início do século XIII, achou a santa imagem de Nossa Senhora de Nazaré na beira do igarapé (hoje início do canal da travessa 14 de Março).

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