Mestre Agostinho "Juricaba" Batista convida amigos a criar com ele o 'Ecomuseu Dalcídio Jurandir do Tocantins'.


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Agostinho Batista caboco marajoara nascido nas matas do Pracuúba
(Muaná), da ilha do Marajó para a Universidade da Maturidade (UMA), 
na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Foto, em Palmas-TO, 
autografando livro de sua autoria. 







O índio marajoara que só aprendeu a ler e escrever já em idade adulta, resolveu aos 74 anos de idade assumir mais um desafio na sua vida de ajuricaba metido em tantas lutas pela defesa de sua gente sofrida demandando inclusão social e cidadania. Desta feita, ele quer mobilizar amigos e colegas seus, com apoio da Prefeitura de Palmas; a fim de dotar a cidade adotiva que o acolheu há mais de dez anos, capital do progressista estado do Tocantins, de um ecomuseu homenageando seu famoso conterrâneo, o 'índio sutil' Dalcídio Jurandir. 

Por falar em índios notáveis, a Casa de Cultura Dalcídio Jurandir tem sua sede na terra de Arariboia (Niterói-RJ), sensível às coisas da Amazônia deu sinal de que vê com bons olhos o projeto de criação do Ecomuseu Dalcídio Jurandir do Tocantins. Eu adivinho que a pajelança do "juricaba" vai dar certo, por diversos motivos, inclusive porque será uma fonte de memória das futuras gerações sobre a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (JMI), evento internacional multiesportivo realizado em Palmas, entre 23 de outubro e 1º de outubro de 2015. Nove dias em que a mais nova cidade planejada do País tornou-se capital mundial dos povos indígenas. Certo que, uma vez em funcionamento, tal ecomuseu não poderá deixar esquecer o primeiro JMI.

Lá desfilaram 2.200 atletas representantes de 24 etnias brasileiras e de 22 povos indígenas de países estrangeiros. Segundo a cultura nativa, não há competição nos ditos jogos, mas somente celebração. O mascote do JMI foi o pequeno guerreiro Kaly, diminutivo da palavra aruaque Kalykute, que significa "gente baixinha".  Marajó, uma "ilha" maior que Portugal; numa mesorregião onde os "índios", assim chamados arbitrariamente; foram "extintos" por decreto... Agostinho Quirino Batista se considera indígena por vontade própria com muito orgulho. Um exemplo a ser seguido por muitos cabocos que tem vergonha de ser descendente ameríndio. Como ele nós ainda somos poucos que sabem que caboco é índio "tirado do mato" a dente de cachorro debaixo de fogo de trabuco, preso à corda e baraço (enforcadeira de aço que caçadores de escravos levavam para capturar pretos fugidos e índios brabos mato adentro) a fim de os tornar "negro da terra" para gloria da colônia e riqueza do colonizador.   

Mestre Agostinho é um sábio homem de paz, ele sabe que a educação somente é capaz de fazer justiça se for de fato libertadora, se tiver coragem de sair da sala de aula formal e ir conquistar as ruas, morar na filosofia dentro de casa com as pessoas do lugar. Ele está coberto de razão sobre isto e se o acompanhassem os nativos marajoaras recobrariam consciência histórica de seus antepassados Mapuá, Aruã, Anajá, Guaianá, Pixi-Pixi, Camboca e outros mais nheengaíbas confederados para fazer as pazes dos Nheengaíbas com Portugueses e Tupinambás em 1659. A gente saberia finalmente, que o padre Antônio Vieira conseguiu evitar o genocídio marajoara e com as ditas pazes levou os antigos nheengaíbas a reconquistar a terra-firme com a fundação das aldeias de Aricará (Melgaço) e Arucará (Portel), ocupada pelos invasores tupis através de Camutá-Tapera (Cametá), no rio dos Tocantins ("bico de tucano"). Um ecomuseu tocantinense para reacender a memória da Criaturada grande de Dalcídio. Imaginem!

Então, a estrela solitária do Pará brilharia mais no céu da pátria neste instante e noutros também. Um ecomuseu em Palmas com nome significativo de Dalcídio! Donde o velho seringueiro de Muaná, conhecido de Chico Mendes, tirou esta ideia?  Dos delírios poéticos, paresque, de seu camarada quixote José Marajó Varela, timoneiro solitário da Universidade da Maré Mestre Vergara. Este um que vos fala, propagandista voluntário do Ecomuseu da Amazônia na ilha de Caratateua com atuação das comunidades das ilhas do Cotijuba, Mosqueiro e Icoaraci. Masporém, o que o criador literário de Alfredo tem a ver com o Tocantins? 


Mapa de rio tocantins
O rio Tocantins nasce na serra Dourada, no estado de Goiás, passa após pelos estados de Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará, até a sua foz no furo Santa Maria - próximo ao Golfão Marajoara, onde se localiza a ilha do Marajó.


Alfredo está no mundo e Marajó é um mundo: começa lá onde o Tocantins termina de tocar as suas águas para o mar! Pra saber que diacho é "ecomuseu" procurem na internet informações a respeito de Hugues de Verrine seguido de comentários vários, inclusive deste humilde blogueiro papa chibé. O tal museu ecocultural é muito engraçado, não tem teto não tem nada parecido a um museu: fica ao ar livre e vive, de verdade, da memória do território através das pessoas que ali vivem. Então, sendo assim, alguém poderá perguntar: o que o romancista da Amazônia ganhador do Prêmio Machado de Assis tem a ver com o Tocantins?  

Tem muito a ver... A começar pelo importante rio amazônico que se mistura, nas Águas Emendadas do Planalto Central, com o Rio da Prata e o São Francisco para vir desaguar no Pará, na baía do Marajó, mais precisamente: aí vive a Criaturada grande de Dalcídio que Agostinho Batista bem representa e por merecendência própria ele se tornou embaixador no progressista estado do Tocantins, na comunidade amazônica de estados da República Federativa do Brasil. Graças ao trabalho singular desse marajoara fora de série, o Pará e o Tocantins se tornam mais irmanados do que dantes. Quando não havia chegado ainda nenhum europeu na Amazônia, nem a região tinha este nome estúrdio. Era conhecida pelos tupis como a Tapuya tetama (terra dos Tapuias), quando a guerreira nação Tupinambá desceu dos sertões pelas barrancas do rio dos Tocantins, seguindo rastros do sol e caiu n'água rio abaixo em busca da Yvy maraey (terra sem mal) buscando a utopia sagrada onde não existe fome, trabalho escravo, doença, velhice e morte... Mas, desgraçadamente, por via de infinitos males a massagada canibal foi topar pela proa das canoas de guerra a brava gente da grande ilha dos Nheengaíbas [Marajó]. Coisas assim que o Brasil moderno nunca soube ou esqueceu e que, com engenho e arte, um vivo ecomuseu nestas paragens onde aconteceu o primeiro JMI poderia suscitar e recordar no diálogo entre gerações, que se pratica na Universidade da Maturidade (UMA). Não é sem razão que o ex-aluno marajoara da UMA luta para sensibilizar seu velho Marajó a adotar o método da universidade da terceira idade tocantina e disseminar a museologia eco-comunitária do Ecomuseu da Amazônia. 



A presidenta Dilma Rousseff, em Palmas - Tocantins, participando do lançamento nacional da primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas (Valter Campanato/Agência Brasil),


Conheci Agostinho Quirino Batista (Muaná,1944 - ... ) na cidade de Muaná, lugar de memória da Adesão do Pará à Independência do Brasil. No dia 08/10/2003 eu tive a honra de encontrar esse grande personagem: assinamos a Carta de Muaná pedindo a Reserva da Biosfera do Marajó e nós dois ficamos amigos e companheiros de muitas outras jornadas.


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Para realizar o sonho de se tornar escritor aos 70 anos de idade, Agostinho Quintino Batista catou e juntou cerca de 24 mil latinhas de cerveja e refrigerante para vender e conseguir dinheiro para para a impressão. Arrecadou R$ 720 e imprimiu uma tiragem de 40 exemplares da obra Histórias de um Juricaba. A gráfica entregou os livros e o autor vendeu a primeira tiragem. Com o valor das vendas, ele encomendou outra 'fornada'. Disse que começou a escrever o livro em dezembro de 2012 e, enquanto não estava escrevendo, reunia as latinhas pelas ruas da cidade de Palmas, os amigos ajudavam a recolher as latinhas reunindo o útil ao agradável. Ele afirmou que as caminhadas lhe trouxeram outro benefício. "Foi bom porque mexeu com o físico. Eu fiz muita ginástica", explicou. Segundo o escritor, um quilo de latinhas era vendido no mercado de Palmas por cerca de R$ 1,80. Para conseguir todo dinheiro necessário, ele catou aproximadamente 400 quilos de latinhas.
Batista juntando as latas demorou pouco mais de um ano para apurar o valor da impressão do livro. 'Juricaba', segundo o autor, é um índio guerreiro que explica o tema do livro em 171 páginas.
Batista exibe com orgulho uma as suas histórias de vida (Foto: Bernardo Gravito/G1)Batista exibe com orgulho as suas histórias de vida
(Foto: Bernardo Gravito/G1)
Na obra, ele conta histórias da sua própria vida, as andanças pela vasta Amazônia brasileira e as dificuldades que enfrentou desde a infância em uma comunidade no interior da ilha de Marajó, no estado do Pará. Entre as histórias, ele conta como surgiu a ideia de publicar um livro e os desafios enfrentados para conseguir fazê-lo. Com uma linguagem simples, o escritor, que aprendeu a ler sozinho, prende o leitor com uma trajetória de vida inusitada e com os encontros que teve com personagens históricos, como o seringueiro e ativista político Chico Mendes, por exemplo.
Batista nasceu em uma tribo indígena e há muito sonha em escrever um livro (Foto: Bernardo Gravito/G1)Agostinho Batista sonhava há muito tempo escrever um livro
(Foto: Bernardo Gravito/G1)
Um acidente desviou o percurso de vida de Agostinho e o levou a aprender a escrever as primeiras letras. Ele levou uma picada de cobra aos sete anos de idade e teve que abandonar a comunidade onde nasceu, na beira a do rio Atuá. "Eu fiquei aleijado por 3 anos. Minha mãe me levou para morar fora... A gente não se escondeu, todo mundo sabia onde a gente morava, mas não podíamos ficar no sítio", explicou em reportagem. Contou que quando criança tinha hábito de desenhar no barro da beira do rio que ficava perto da casa. Em um destes momentos ele encontrou o primeiro incentivo à leitura, um exemplar da extinta revista 'O Cruzeiro'. "A revista vinha com um abecedário bem grande e eu ficava desenhando as letras no chão. Com o tempo eu fui aprendendo a ler sozinho, mas para escrever eu precisei de ajuda, pois não entendia como juntar as letras", explicou.
Agostinho aprendeu a escrever com a ajuda de voluntários do Projeto Rondon, programa do governo federal que leva profissionais de diversas áreas a regiões menos desenvolvidas do país. "Eu estava numa árvore vendo os passarinhos quando esse pessoal chegou. Eles me ajudaram a escrever e depois eu fui ensinar os filhos de seringueiros". Antes de migrar para Palmas, ele morou em vários lugares da região Norte e precisou trabalhar em diversos ofícios. "Eu fiz de tudo. Fui seringueiro, balateiro [coletor de látex de balata ou marupajuba, nome científico Manilkara bidentata], pescador, garimpeiro e piloto de barco", relatou. Ele veio do Marajó com a esposa para o Tocantins a fim de ficarem perto dos cinco filhos que moram e trabalham neste estado. Aposentado, ele chegou em Palmas em 2007 e há alguns anos frequenta a Universidade da Maturidade (UMA), extensão à terceira idade oferecida pela Universidade Federal do Tocantins (UFT). Segundo ele. já tinha vontade de escrever um livro mas foi na UMA que achou vontade de realizar o sonho. Agostinho Batista também escreveu cerca de 80 poemas de cordel ao longo da sua trajetória e ainda se dedica ao artesanato. 

A criação do ecomuseu em tela será como promover um grande encontro dialético do Pará, e Marajó o principalmente, com o Tocantins acima da divisa interestadual, antigo caminho do norte de Goiás, que pouco a pouco foi ocupando o sul do Pará. 

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Conjunto de obras de Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras, 1909 - Rio de Janeiro, 1979), Prêmio Machado de Assim 1972. foto: Casa de Cultura Dalcídio Jurandir (sede em Niterói-RJ).


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