BELÉM DA AMAZÔNIA 400 ANOS: DE ALDEIA À METRÓPOLE

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antigo forte do Presépio: berço de Belém do Grão-Pará


Sonhos de reconquista

Pois sim,
estavam lá os Mouros por setecentos anos
e os ibéricos os defenestraram de volta
ao norte da África donde eles tinham ido
conquistar a Península Ibérica.
Que são para nós quatrocentos anos?
Somos fortes como o Jabuti.

Nós temos direitos ancestrais sobre esta terra tapuia
já fizemos pazes há muitos anos com os primeiros donos
do país que se chama Pará: ficamos cunhados
uns dos outros nas duas margens do Pará-Uaçu
desde o dia em que o payaçu Vieira levou
nossos representantes ao rio dos Mapuá,
na ilha grande dos Aruans;
celebrar com os nheengaíbas o fim da grande guerra
de conquista do Maranhão e Grão-Pará.

Roubados e violentados para ser escravos dos colonos
nos levantamos contra o forte do Presépio
onde eu morri em combate e meus parentes
até o Maranhão foram à guerra contra a escravidão,
massacrados estupidamente aos milhares
não hesitamos a ir à guerra ao lado dos portugueses
contra os holandeses:
não sabiam que era a utopia da Terra sem mal
que nos movia... 

Dados por civilizados e súditos do rei de Portugal
fomos "extintos" por decreto no Diretório dos Índios.
Ressuscitamos inúmeras vezes nos ritos afro-amazônicos
em figura de Pena Verde e outras santidades tupinambás...
Na Cabanagem de 1835 andamos à proa do movimento
e ainda hoje não enrolamos bandeira na república
do Ver O Peso de São Benedito da Praia.

É com respeito a nós que o grão canibal Oswald de Andrade fala
quando ele disse: "fizemos Cristo nascer na Bahia
ou em Belém do Pará".

Só falta agora os herdeiros de Feliz Lusitânia
fazer a paz conosco que fomos para guerra 
fundadores do forte do Presépio com seus antepassados 
e conquistadores das Amazonas importadas da Capadócia 
pela imaginação delirante de Orellana:
as comemos todas, antropofagicamente falando.

No rio das Amazonas conquistado e seus tributários 
com tapuias e pretas fizemos proles proletárias 
acamaradados aos cunhados tapuios e às vezes a alguns portugueses bons de briga
formamos fazendas de gados do rio e usinas florestais
demos drogas do sertão para levantar aldeias, vilas e cidades.

Juntos a barões assinalados fizemos guerra aos estrangeiros
e aos bravos índios aliados aos invasores do grande rio-mar.
Sem nossos arcos e remos tudo isto aqui seria posse de Espanha,
talvez da França, Holanda ou Inglaterra.

Grandes ingratos todos eles e muito mais os imperiais herdeiros 
luso-brasileiros.

Se os parentes ainda estão ausentes da festa da Cidade do Pará
talvez nos próximos 400 anos tudo aqui seja diferente
que nem outrora o Igarapé do Piry foi sepultado com aterro
e asfalto onde dantes eram ricos igapós 
com comedia de peixe-boi e mato em flor;
a ilha da Cidade Velha com a aldeia Mairi reconquistada
ofereçam a nossos filhos e netos outra cidade
mais amiga de todas suas gentes.

Ou não me chamo Guamiaba, vulgo Cabelo de Velha.

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