sebastianismo ressuscitado no Maranhão e Grão-Pará

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monumento monolítico do Rei Sabá (São João de Pirabas, região do Salgado - Pará).


A cultura popular amazônica casou a utopia tupinambá da Yby Marãey (terra sem mal) com o sebastianismo ultramarino. Resgatou das areias escaldantes do deserto do Marrocos os restos imortais do encoberto rei de Portugal via Belém de Judá (Palestina). E, por força da necessidade com o acaso, terminou por ancorar a ressucitada lenda lusa no rochedo do Rei Sabá, sito na costa do Pará, deixando sua espada mágica embainhada e bem guardada em segredo no Maranhão lendário; a cabo da diáspora negra de São Jorge da Mina (Guiné). 

A divina Providência ou o maravilhoso Acaso faz milagre. No caso amazônico, tudo isto foi transportado pelos caminhos da esperança dos povos do grande Cativeiro do mundo-Babilônia com os turcos encantados.  Que nem a história da familia-real de Bragança emigrada a toques de caixa com escolta inglesa diante da invasão francesa da Península Ibérica para a Bahia de Todos os Santos e o Rio de Janeiro a fim de ser devidamente deglutida, tal qual o bispo Dom Sardinha, pela Semana de Arte Moderna, em São Paulo de Piratininga, 1922, no ano do primeiro centenário da Independência do Brasil... Antropofagia obriga.

E nós aqui sob a sempre-viva confederação do equador? Debaixo do manto sutil da invenção popular pulsa o sagrado coração da Humanidade inteira através do tempo e espaço de infinitas vidas, mortes e renascimentos da Civilização universal na diversidade das gerações e individualidades. A tal Fênix da estória geral das civilizações

"Bandarra é verdadeiro profeta", bradou o payaçu dos índios a subir o rio dos Tocantins a bordo de canoa e remos tupinambás a caminho da História do Futuro: mas ele, que condenou a cegueira dos escravistas no "Sermão aos Peixes" (São Luís-MA, 1654), não enxergou grande coisa além do grosso mato do paraíso dos índios encontrado na Tapuya tetama (terra dos Tapuias) ou Grão-Pará.

As relações dialéticas entre o Mito e a História desembarcaram na Amazônia com a garrida bagagem messiânica barroca do Padre Antônio Vieira; em Camutá-Tapera (Cametá-PA, 1659), a bordo da carta secreta por ele enviada ao bispo do Japão cifrada com título ambíguo de "As Esperanças de Portugal". Como um vidente do futuro, o missionário resgatou do passado distante do velho mundo as tribos perdidas do cativeiro da Babilônia: para este efeito deveras maquiavélico, escorou-se de caso pensado no rabino Menassé ben Israel, de Amsterdã (Holanda), vendo ele que nem o judeu português exilado as "Esperanças de Israel" nos índios do Novo Mundo

O histórico ano de 1659 é marco fundamental da amazônidade. No mês de abril abriram-se as esperanças de justiça e paz pela libertação de todas as Índias ocidentais e orientais com anúncio embrionário da História do Futuro. E a 27 de agosto, com esplendor do realismo-mágico avant la lettre, no rio dos Mapuá (Breves-PA, hoje a importante Reserva Extrativista Mapuá - RESEX Mapuá), as pazes das ilhas do Marajó deram cabo a 44 anos de guerra suja pela conquista do Maranhão (1615) e o rio das Amazonas mediante aliança de caraíbas, mamelucos e soldados portugueses à margem da União Ibérica (1580-1640) e da luta do povo português para restauração da Independência de Portugal: um tempo essencialmente sebastianista

Assim foi construída a territorialidade norte do Brasil e concretizada, dentre 1001 contradições; a Amazônia brasileira tal qual como hoje nós a temos e ainda sonhamos amanhã ela deverá ser para o bem geral da América do Sol inteira (América tropical).

Todavia, o profeta temerário do Quinto Império do Mundo que guiado e levado pelos índios guerreiros atravessou ida e volta todas as baías entre o Maranhão e o Pará diversas vezes não viu o rei Dom Sebastião, sentado na beira do mar à espera do tempo do avenir, como a gente do Salgado o vê com olhos da fé na escultura natural da pedra. 

Quem dera agora nos 400 anos de invenção da Amazônia por sua própria gente sem eira nem beira, abram-se os olhos da História para a utopia evangelizadora do reino de Jesus Cristo consumado na terra. Era messiânica ou revolucionária do Espírito Santo quanto, segundo a dita utopia judeus, cristãos, mulçumanos e todos manos e manas crentes e não crentes da Terra sem males construirão juntos a augusta Paz planetária.  Ama e sonha Amazônia com teus mitos e lutas cabanas de libertação.

Saravá, o filósofo luso-brasileiro Agostinho Silva, viva o teórico da internet Pierre Levy; salve Dom Sebastião!


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