DIA DA CRIATURADA GRANDE DE DALCÍDIO: as populações ribeirinhas na Década do Oceano.

 Reserva Extrativista de São João da Ponta - Episódio 46 - Mar Sem Fim

 

O desafio da Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para financiamento de projetos economia solidária em comunidades tradicionais.

  

As Nações Unidas declararam a Década Internacional da Oceanografia para o Desenvolvimento Sustentável, período que será observado a partir de 2021 até 2030. A iniciativa visa ampliar a cooperação internacional em pesquisa para promover a preservação dos oceanos e a gestão dos recursos naturais de zonas costeiras. As atividades do decênio serão lideradas pela UNESCO. Enquanto isto, Marajó - território insular maior que o estado do Rio de Janeiro, situado no delta-estuário do rio Amazonas, tendo o maior arquipélago do planeta Terra, com uma população de apenas 550 mil habitantes de baixo IDH e crônico analfabetismo de adultos e jovens em metade da população -, ostenta uma área de proteção ambiental determinada pela Constituição do Estado do Pará (1989), que a rigor não ata e nem desata... 

 

A APA-Marajó, desde 2003, por manifesto desinteresse das autoridades responsáveis (sic) tarda em concluir dever de casa a fim de apresentar candidatura oficial de reconhecimento pela UNESCO como reserva da biosfera no programa Homem e Biosfera (MaB), a par da Mata Atlântica, Cerrado, Serra do Cipó, Caatinga, Pantanal e Amazônia Central... A Criaturada mais por fora de que seu antepassados "nheengaíbas" e "mocambeiros" refugiados nos centros da ilha grande, ainda não se deram conta da supimpa decisão dos brancos em declarar o Sítio Regional Ramsar "Estuário Amazônico e seus manguês"... O que na ecocultura amazônica equivale a meio caminho para a desejada Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia.


Por outras palavras: a teoria é linda, o diabo é a prática neocolonial entranhada e corações e mentes da das elites. Entre o mar das leis internacionais e regulamentos nacionais baseados no conhecimento científico e o rochedo conservador dos saberes de povos e populações tradicionais, ficam pressionados mortalmente homens, mulheres, jovens e crianças dependentes da pesca artesanal e extração dos ditos mangues, várzeas e matas nativas nas zonas úmidas supostamente protegidas.


Iniciativa Regional de Conservação e Uso Sustentável da Bacia do Amazonas.

Criada em 2017 , a Iniciativa reúne a Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela e Suriname.

Seus objetivos são: desenvolver a cooperação técnica regional para promover a conservação e uso racional da Bacia do Amazonas; contribuir para a efetiva administracão e manejo dos sistemas de áreas protegidas, garantir o manejo sustentável dos ecossistemas, incluindo os aquáticos, incentivar a manutencão de bens e servicos ecossistêmicos da regiao, e garantir a integridade, funcionalidade e resiliência do Bioma Amazônia.
 
Carece lembrar aqui a maltratada existência de sítios arqueógicos na ilha do Marajó, a diáspora da cerâmica marajoara pré-colombiana por grandes museus estrangeiros, o comodato do Museu do Marajó para o governo estadual e a timidez do diálogo com a comunidade marajoara? Não deveria fazer parte superior de um qualquer PLANO MARAJÓ DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL projeto de repatriamento das antigas coleções retiradas dos "tesos" e levadas sem lenço nem documento?
 
Para outros dados acesse o link www.ramsar.org

 

 

 

TERRA TÃO GRANDE E TÃO RICA, DE GENTES TÃO POBRES E REDUZIDAS ÀS MARGENS DA HISTÓRIA.

 cover photo, A imagem pode conter: árvore, ponte, atividades ao ar livre, natureza e água

 

A HERANÇA DEIXADA POR MESTRE VERGARA AOS FILHOS DA CRIATURADA GRANDE DE DALCÍDIO JURANDIR.

Por acaso, meu encontro com o paraibano dos mangues deu-se durante confabulações para criação de uma pequena ONG nativa, muito engraçada: não tinha estatutos, não tinha verbas, não tinha sede, não tinha nada... Era o GDM, Grupo em Defesa do Marajó; ali durante 20 anos (20/12/1994 - 20/12/2014) meia dúzia de quixotes enfrentaram barras bem mais pesadas que moinhos de vento... Os "delírios poéticos do Varela" sintonizaram-se bem com as rimas e cantigas praianas do poeta Vergara Filho: por constância do mestre das reservas marinhas, a pedagogia da Criaturada fez escola...


 Filho de Waldemar Londres Vergara e de Ruth Nunes Vergara, Waldemar Londres Vergara Filho nasceu em João Pessoa (Paraíba), em 21 de julho de 1958 e veio a falecer na cidade de Belém do Pará, em 16 de janeiro de 2018, aos 60 anos de idade. Em 28 de outubro de 2014, recebeu título de Cidadão do Pará outorgado pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará, numa iniciativa do deputado estadual Edmilson Rodrigues.

Waldemar Londres Vergara Filho, biólogo de formação, especializou-se em Análise e Avaliação Ambiental pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ), desenvolveu desde 1985 ampla atividade profissional em diversas partes do país, principalmente no Estado Pará, onde teve domicílio na cidade de Belém a serviço do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ministério do Meio Ambiente. Desde 1999 desenvolveu com ampla experiência na área de Gestão Ambiental com a criação, implementação e gestão de Reservas Extrativistas no Estado do Pará, tendo antes exercido cargo de coordenação do Centro de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável – CNPT / IBAMA / PA, entre os anos de 2003 e 2008, sempre prestando apoio ao fortalecimento socioambiental e econômico de populações tradicionais extrativistas. Tendo se destacado, sobremaneira, na gerência da Reserva Extrativisma Marinha de São João da Ponta (RESEX MAR São João da Ponta), desde 2009 até a sua morte em 2018. 

 

Donde veio esta gente que continua chegando pra cursar a universidade da maré? Veio de muitas lonjuras, das ilhas do Caribe antigamente em canoa à vela de jupati... Veio de canoa a remo descendo o grande Amazonas, o Tocantins e Xingu... Da distante África a ferros, na cruel travessia do Mar-Oceano em feios navios negreiros... Dos Açores espancados pela pobreza dos casais a fim de povoar a terra roubada aos índios. Veio do Nordeste, a pé, pelo antigo Caminho do Maranhão para conquistar a terra grande dos Tapuias e o rio das mulheres icamiabas. 

E quando acaba, quem é dono deste vasto verde mundo dos confins de meu deus? Amazônia azul aqui estamos nós, carenguejando pela beira a caminho da feira, a esperar por vós.

Na velha luta de resistência e sobrevivência desta brava gente, Natureza e Cultura dialogam no discurso e na prática do tempo e do espaço dialeticamente construídos. E, no parto de nossa conturbada história, nasceu no Acre dos empates de Chico Mendes e seus valentes companheiros seringueiros contra o latifúndio devastador, a rede de reservas extrativistas. 

Desde então, a Criaturada acampou na teoria do “desenvolvimento sustentável” em forma de Resex; descendo o Amazonas que nem Cobra Norato sentou praça no Rio de Janeiro e conquistou o Brasil até, ultimamente, brindar o Pará velho de guerra com a criação da emblemática Reserva Extrativista Marinha Mestre Lucindo, em Marapanim.

Aqui entra homenagem ao vocacionado professor da universidade da maré, o sumano Vergara; quando é oportuno destacar a nova resex do Salgado em pleno apogeu extrativista marinho do invento florestal de Chico Mendes, florão amazônida da “economia verde” à beira mar plantada, pela indagação supimpa do Pescador a respeito da biodiversidade aquática que instala a cooperação didática entre conhecimento tradicional e saber científico. Cátedra onde sumano Vergara Filho realiza sua extraordinária missão pedagógica com a bela composição do carimbó de Mestre Lucindo:

“Eu quero saber a razão que no mar não tem tubarão?
Eu quero saber porque é?
que no mar não tem Jacaré?

Resex, mea gente; é codinome de território reconquistado por populações tradicionais: lugar de reencontro e de religar conhecimentos, onde o Homem e o Meio Ambiente se completam e se desenvolvem física e espiritualmente em interações recíprocas, como Mestre Lucindo expressou, de maneira inconfundível, no ritmo do carimbó reconhecido agora pelos IPHAN como patrimônio cultural imaterial nacional.

 

 

A TEIA LOCAL - GLOBAL DAS MUDANÇAS DO MUNDO.

Existe uma relação umbilical entre a mais antiga cultura complexa da Amazônia - a Cultura Marajoara -, iniciada cerda do ano 400 depois de Cristo, e a primeira instituição científica amazônica, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), fundado em 1866. Nestes 153 anos, construiu-se uma relação dialética entre Natureza e Ciência nas regiões amazônica através do MPEG, na qual as populações com suas culturas regionais conectam-se com o mundo e vice-versa. É claro que não há exclusividade nessa relação externa entre comunidades amazônicas e outras instituições de pesquisa ou mesmo individualmente entre índios, quilombolas, cabocos e pessoas vindas de fora da região para o bem e o mal.

Apesar do logo tempo de relação entre a Academia e Comunidade nas regiões amazônicas, trata-se ainda de uma relação imperfeita que tenta melhorar continuamente, com altos e baixos, através da Extensão em geral de conhecimentos mútuos. Falei da Cultura Marajoara em primeiro lugar por ser este patrimônio brasileiro e do mundo a primeira cultura complexa desta parte do planeta Terra. Mas, não há praticamente para o Museu Paraense uma única região amazônica que lhe seja estranha. 

Neste momento, a Amazônia está no centro das atenções planetárias. A cidadania planetária é o futuro da Humanidade. Todavia, como ensina Edgar Morin; isto não significa o regresso ao imperium universal de tristes memórias. Pelo contrário, é ainda uma utopia factível. Construção de um mundo possível, cujas raízes se acham na vida local das comunidades de gentes, bichos, plantas, ecossistemas e memórias do território desde tempos distantes que vão se perdendo na imaginação humana.



O Papa Francisco, hermano argentino no trono de São Pedro Pescador; escreve cartas circulares a Roma e ao vasto mundo. António Guterres, português do mundo, Secretário-Geral das Nações Unidas; se esforça para não deixar ninguém atrás e nem fora da Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Ora, o alto mundo quer falar com todo mundo! O centro conectar-se às periferias... Mas, como a Criaturada vai saber disto tudo além do que o radinho de pilha dá nos cafundós onde Judas perdeu as botas? Como não depender das costumeiras aloprações da famosa rádio cipó entre lendas e mentiras, em cujas "ondas" alhos viram bugalhos mais rápido do que o Diabo pisca um olho? Se esta gente é analfabeta de pai e mãe...

O melhor presente das crianças da Criaturada seria um futuro sem mais traições do passado: todavia, esta gente pequena não acredita no "bom velhinho" que nunca viram mais gordo... O Natal do "shopping" não existe para os pobres sejam eles das ilhas ou da terra-firme (continente da Cidade), o primeiro Presépio destas regiões amazônicas foi o Forte armado para guerra na boca do Igarapé do Piry, rústica paliçada misturando engenharia bélica europeia e arquitetura indígena tupinambá. E já se sabe que a nação Tupinambá havia a antropofagia por religião e se a guerra não existisse precisa inventar uma. Em compensação, os caraíbas ou pajés-açus procuravam a todo custo a mítica Terra sem males (onde não há fome, escravidão, doenças, velhice e morte). Foi assim edificado o berço da estranha Belém do Grão-Pará, entre missas e danças de guerra aos inimigos hereditários nheengaíbas (insulanos falantes da "língua ruim", Aruak). Pobres crianças sem futuro, pois lhes roubaram o passado... Como elas podem criar uma cultura de paz "educada" na ignorância de seus antepassados?

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