A CULTURA MARAJOARA É ARTE PRIMEVA DO PARÁ E DO BRASIL, A GENTE PRECISA SABER.

Cultura Marajoara
obra da arqueóloga Denise Schaan:
indispensável a quem fala de Cultura do Brasil.




Hoje se vive um paradoxo nunca dantes: quase todo mundo passa os dias com a internet na mão e nunca houve tamanha ignorância e tanta desinformação!... Não estou exagerando. No maior arquipélago fluviomarinho do planeta (maior que Portugal, ou o estado do Rio de Janeiro) por exemplo, metade da população é analfabeta de pai e mãe, mas esta indecência não parece incomodar os mais de uma centena de vereadores; dezesseis prefeitos e outro tanto de vice-prefeitos do Marajó, políticos se elegem com votos da Criaturada e se alguém armar uma pegadinha aos deputados, senadores e ao governador do estado o risco do mesmo passar vergonha é considerável.

O jovem governador Helder Barbalho tem todas condições para, em quatro anos de seu primeiro mandato; zerar a vergonha do analfabetismo de adultos e adolescentes no Pará. Não preciso dizer como. Só convocar a brava gente para fazer barulho na boa... Se o jovem governador fizer ouvidos moucos como os velhos fizeram, certos de que não precisam da Criaturada para nada; a gente irá chatear tal qual Dalcídio e Gallo em vida criticaram as mazelas destas ilhas e depois de mortos ainda provocam discussões acesas muito mais.

Minha singela esperança é que após minha passagem da fronteira desta nossa vida ribeirinha para o reino encantado da Princesa, não sei a hora nem sei o dia, não tenho pressa; uma menina ou um menino curioso como eu fui um dia lá no velho Itaguari. Queira saber quem inventou o mundo e acabe por descobrir estas linhas tortas, prosseguindo com elas na construção de outra história.  

Os brasileiros conhecem mais depressa Hollywood e Miami, que as principais cidades e regiões brasileiras. Ariano Suassuna aparentemente perdeu a guerra, mas Rolando Boldrin ainda peleja... Dalcídio Jurandir, o índio sutil que ganhou o único Prêmio Machado de Assis para romancista amazônida; e Giovanni Gallo, o marajoara nascido em Turim que inventou o primeiro ecomuseu brasileiro avant la lettre; já morreram. Enquanto eu respirar sou pensar no Marajó como meu lugar, não importa que eu já more na ilha do meu carma: é lá que meu coração reside ainda que fisicamente eu esteja em Goiás ou no Japão... 

Aos que me conhecem e são amigos da secretária da Cultura, Úrsula Vidal; digam a ela: se não tiver mais tempo para nada durante o tempo que ela permanecer no governo, não deixe de ler Agenor Sarraf e Denise Shaan se quiser conhecer os Marajós em sua complexidade e diversidade... Para entender melhor o drama das mulheres pretas e cabocas, leia o romance Marajó, e compreenda a sina de Orminda, assediada pelo suposto pai que nem "Dona Silvana", diz Vicente Salles sobre a tara do incesto na literatura ibérica. Sim, Marajó não é apenas uma ilha assolada pelo analfabetismo e a pobreza. Marajó é um mundo...

Por isto eu aperreei Paulo Chaves até ele não puder mais suportar minha pregação. Claro, conversei muito com o contravertido arquiteto de Almir Gabriel, ele não me quis ouvir sobre a primazia da Cultura Marajoara... Queria ele transferir o Museu do Marajó para Soure, mas o Gallo felizmente não concordou... O lugar do Museu do Marajó é Cachoeira e o Gallo explicou bem o porque nos livros que ele escreveu. Eu escrevi carta aberta ao governador Helder, espero que ele tenha lido, ou Úrsula Vidal. Ademais, extinguir a SETUR para deixar o turismo no segundo escalão é um grande equívoco, que o governador precisa corrigir ao mais rápido possível juntando os dois setores na secretaria da cultura, que ficará melhor como Secretaria de Estado de Cultura e Turismo - SECTUR.

A Casa de Dalcídio Jurandir anexa ao Museu do Marajó dará redobrada importância ao turismo cultural paraense. Para isto é preciso vontade política e vontade política não se faz por decreto nem passeata festiva. Porém, com educação e resgate da cultura popular, já devíamos saber. 

Na antiga freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira do rio Arari, o singelo salto d'água que deu nome ao lugar sumiu na paisagem soterrado pela erosão e as araras unas (azuis),que antigamente povoavam as matas do Arari, foram extintas. O famoso chalé do romance Chove nos campos de Cachoeira não aguentou a ditadura da água em tantos invernos e foi o chão diante da ignorância inocente dos búfalos da região. 

Pior, o Museu do Marajó dilacerado pelo tempo e a indiferença das autoridades fechou as portas... Susto grande! Oxalá sirva para acordar esta gente! Desde que morreu o padre dos pescadores devotos de São Pedro Safadinho, a completar 16 anos no ano que vem; já escrevi 'um milhão' de vezes sobre o mesmo assunto. E nada... Quer dizer, não é bem verdade, no dia 7 de setembro de 2003, tive eu a elevada honra de encabeçar a Carta do Lago Arari dirigida ao Presidente Lula.

Uma linda iniciativa do município de Santa Cruz do Arari como símbolo de reconciliação com a memória do padre Gallo, que saiu dali quase corrido em desavença com o prefeito municipal. Seis meses após a morte do criador do museu, uma bela exposição aconteceu e nós todos, gregos e troianos, estamos lá em sessão especial da Câmara Municipal escrevendo ao Presidente da República: ajude-nos a ajudar o Museu do Marajó a resgatar a Cultura Marajoara. Foi portador Paulo Rocha, que hoje é senador. A resposta veio com o Iphan, com Cristóvão Duarte, em visita a Cachoeira levando móveis de escritório como ajuda inicial. Mas, sabe como é, as autoridades são efêmeras e são trocadas de repente. Veio então Maria Dorotea Lima cheia de boa vontade, verba curta e poucos auxiliares. Mesmo assim, ela foi incansável para produzir o Inventário Nacional de Referências Culturais - Marajó. O diabo da coisa pública é que uma autoridade não dá prosseguimento ao trabalho dos antecessores...

Tudo isto porque, desde o tempo do Barão de Marajó, o patrimônio arqueológico marajoara é comparável à casa da mãe Joana... Quem ler a Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes, ou Marajó (1783) compreenderá o carma da Amazônia Marajoara. Será? 

Quem escreve sobre a história das coisa deve buscar a verdade, sabendo de antemão que a não encontrará ainda que viva 100 anos. De todo modo, tenha certeza de que não poderá jamais agradar a todo mundo.

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