Da utopia ecumênica do payaçu dos índios Antônio Vieira à encíclica verde do Papa Francisco





Estúdio caboco do blogueiro marajoara por acaso tendo em foco a obra tropicalista "São Francisco Marajoara" esculpida em madeira em 1998 por Ismael (Ismaelino Ferreira), artista de Ponta de Pedras - Marajó-PA, já  falecido. Coleção particular de José Varella Pereira (Belém-PA), detalhes ecléticos da diversidade cultural da oficina com estatuetas de Buda e Dom Quixote de la Mancha juntas à imagem do santo de Assis ornado pela biodiversidade da flora e fauna amazônica (foto de João Victor Noronha).







Bem-vindos todos e todas à Idade do Espírito Santo!

Ou a era da Inteligência Coletiva
(codinome global: Net) apud Pierre Levy.

Religando conhecimentos conforme a complexa filosofia antropoética de Edgar Morin. De volta à Idade Média sob capa pós-moderna ou marchando ao encontro do Futuro planetário.

Podem chamar de era pós-colonial, pós-imperial ou pós-qualquer coisa aos novos tempos que se anunciam em meio ao parto do "desenvolvimento sustentável" concertado na série de Conferências Mundiais do Clima pelas Nações Unidas e, mais recentemente, sob acordes evangélicos numa paisagem de gelo e fogo onde se destaca a encíclica ecológica "Louvado seja", do Papa Francisco como um grito de perigo.

Salvo engano, pela primeira vez em um documento papal a defesa da Amazônia e do Congo como biomas chaves da mãe Terra (supostos "pulmões do mundo'), livres do cavalo de Troia da internacionalização, está tão claramente expresso sem sofisma. 

Com certeza, não há grandes novidades no discurso de Sua Santidade inspirado num santo canonizado pela igreja romana em 1228. Exceto quando o Bispo de Roma no século XXI diz amém também à ciência da Terra e do Homem.

Aí é que, talvez, está a graça do santo Espírito na visão evolucionária do padre cientista Pierre Teilhard de Chardin.

Perspectiva que enche de entusiasmo a um ateu graças a Deus. E já se sabe que o entusiasmo é próprio de quem seja possuído de dom divino qualquer conforme o pensamento dos antigos gregos. Aquilo que desperta ânimo e alegria aos outros que se acham à toa na vida: Juno, Javé, Alá, Oxalá, Tupã... Os vários nomes do uno conforme a diversidade das línguas e crenças do Homo sapiens.

Tenho pra mim que toda igreja tem religião, mas nem toda religião tem igreja: o panteísmo marrano e xamanismo, por exemplo... Os bancos e as igrejas fizeram muitas guerras e muitos males à humanidade. Urge socializar os bancos e converter as igrejas ao Príncipe da Paz. Quando a paz vence a guerra a Terra toda fala a língua internacional da fraternidade onde todas crianças do mundo são reis e rainhas, não há mais fronteiras, separação de classes nem Fome, trabalho escravo, medo de doenças, da velhice e da morte: tal qual o sonho dos profetas da Terra sem males... 

Então, a Utopia já não é miragem e o entendimento do espirito se alarga infinitamente, o todo atraente avatar Krishna não fica estranho a Buda; nem este estado cósmico de consciência plena resta alheio ao Cristo cósmico emanado do Pai/Mãe natureza, encarnado no Filho do Homem.

Com a palavra a Linguística: "O mapa não é o território". Nem a nuvem é Juno... Tudo vale a pena se a alma não é pequena. 

Com testemunho do primeiro jesuíta no Brasil, Manoel da Nóbrega, chegavam aos campos de Piratini de tempos em tempos caraíbas ou pajés-açus, profetas da Terra sem mal "fingindo trazer santidade" (cf. Ronaldo Vaifas, "A heresia dos índios") aqueles homens misteriosos vinham de longe e despertavam frenesi às populações indígenas... 

Os frades franceses do Maranhão, ignorantes da mitologia tupi-guarani e ainda mais da psicanálise de Freud que ainda não havia nascido, diabolizaram Jurupari; o espírito telúrico dos Tupinambás. 

Esta excomunhão colonizadora branca se somou à condenação sumária dos deuses africanos chegados ao novo mundo com os "negros da Guiné", e ainda hoje no apartheid americano continua a obrar o Mal e produzir ódio entre lesados da Terra além da melanina.

Quando a frota do fidalgo Pedro Álvares Cabral, cavaleiro da Ordem de Cristo, chegou a Porto Seguro já lá estavam há muitos anos os índios andejos da mítica Terra sem males. Assim duas poderosas mitologias do velho e do novo continente se toparam uma a outra pela frente até hoje. 


O deus de Espinoza, de quem Edgar Morin fala, acaba não sendo estranho nestas mal traçadas linhas minhas. De médico e louco cada um tem um pouco: idem para poeta e profeta segundo a filosofia sebastiana de Agostinho da Silva.

O papa Bergoglio, acredito eu, pelo que vem de publicar está na trilha aberta do ecumenismo com Joaquim de Fiori a seduzir a diáspora judia. Esta heresia nutriu o sebastianismo lusitano e teve um ardente seguidor na solidão dos rios e selvas da Amazônia na pessoa do padre Antônio Vieira, no século XVII.

Com a carta secreta "As esperanças de Portugal" escrita em viagem a Cametá, onde se adivinham "As esperanças de Israel" do rabino português de Amsterdã Menassé ben Israel (nascido Manoel Soeiro, na ilha da Madeira), amigo de Vieira, que acreditava ser os índios americanos descendentes das Tribos Perdidas do cativeiro da Babilônia; e a messiânica "História do futuro", onde afloram índios "nheengaíbas" do rio Mapuá (Breves, Marajó) em luta por sua liberdade contra os colonizadores e que em meio de tratativas com a Companhia de Jesus, no papel que hoje corresponde à FUNAI, representando a Santa Sé e a Coroa portuguesa (cf. carta de Vieira a El-Rei Dom Afonso VI, em 11/02/1660); edificaram na floresta virgem a igreja do Santo Cristo consagrada pelo padre grande, a qual compareceram nus e destemidos em odor de santidade a fim de celebrar a paz entre indígenas e portugueses a cabo de 44 anos de guerra da conquista do rio Babel, mais conhecido por Amazonas.

A "História do Futuro" como auto-defesa do autor frente à inquisição do Santo Ofício não evitou a condenação de Vieira pelo cometimento de "heresia judaizante"... Sabemos da materialidade econômica da questão dos cristão-novos na Península Ibérica e sua dispersão pela Europa e mais continentes. E a inacabada "Chave dos Profetas" guarda o mistério da vida humana envolta em brumas dos conflitos entre potências imperiais desde a Antiguidade até fins do século XVII. Nasceu modestamente em Lisboa, neto de uma mulata serviçal da casa do conde de Unhão; criou-se, educou-se e morreu na Bahia este português monumental do mundo em transição do medievo para a modernidade.

Além de toda poesia de Fernando Pessoa para além da pessoa do poeta dispartida em outras pessoas, são estes avisos todos anúncios do Quinto Império ou seja, a Idade do Espírito Santo no reino de Jesus Cristo consumado na Terra. Por outras palavras, o ecumenismo entre os filhos de Abraão... O que significa só um primeiro e significativo passo para Oriente e Ocidente se reconhecerem como partes da mesma família a partir, sem mais dúvidas, da África Negra. 

O sonho de Daniel no cativeiro da Babilônia não é só uma profecia, mas, ao correr do tempo, se comprova pela larga experiência da humanidade filha da animalidade, que todo império tem pés de barro e que não se pode sustentar por toda eternidade.

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