I love Mark Zuckerberg: te cuida Missunga!

Priscilla Chan e Mark Zuckerberg: o casal Facebook



Você pode odiar o capitalismo como eu, Fidel Castro e mais uma galera da velha guarda de lesados da Terra inclusive o Papa Francisco que por dever de ofício acredita na conversão de Wall Street numa futura sociedade de montepio. Porém, de toda maneira, não dá para a gente esnobar o Google, Twitter, Facebook e companhia. Aí depende o que se pode fazer como usuário de produtos dessas gigantescas corporações virtuais de capital aberto. Eu que acredito boamente em Curupira, Saci, Cobragrande, Matinta Perera e outros bichos encantados não creio em Zeus nem Bhrama, porém amo o homem da aldeia de Nazaré chamado Jesus, filho de Maria e do carpinteiro da Galileia segundo o Evangelho de Jesus Cristo. 

Eu amo mergulhar no rio de Heráclito, amo a dialética de Karl Marx da evolução do comunismo primitivo ao socialismo científico, amo Freud com a psicanálise do xamanismo ou pajelança incorporada à energia do Totem na passagem da animalidade à humanidade... Amo sobretudo o comunismo gentil mas não idiota do índio sutil marajoara em Dalcídio Jurandir et pour cause sua Criaturada pela qual me apaixonei: por esta via contraditória de amor e ódio, apinhada de terroadas no caminho dificultoso do lavrado; estou namorando agora a supimpa ideia de responsabilidade socioambiental do Senhor e Senhora Facebook ao fechar parceria com o governo "bolivariano" do Brasil brasileiro. Para levar internet da boa às periferias e cafundós da Pátria Educadora, segundo se pode depreender do filme de divulgação “A Rede Social” contando a vida de Mark Zuckerberg.

Por esta dalcidiana causa estou aqui no blogue da Academia do Peixe Frito, mais uma vez a plagiar Chico Buarque na singela canção Gente Humilde dizendo que eu não creio, mas mesmo assim peço a Deus para abençoar a mocidade independente de Mark e Priscilla querendo que a felicidade do casal aumente e envolva também todos jovens do mundo. Isto é uma cantada para a família Zuckerberg pensar em fazer alguma coisa pela Criaturada de Dalcídio? Não vou negar. 

Tomara meu Deus, tomara... Um dia de festas na Reserva Extrativista Mapuá, município de Breves, lugar de memória das pazes dos sete caciques do Marajó com o bom selvagem Tupinambá e conquistadores portugueses do Pará celebradas pelo padre grande dos índios Antônio Vieira. Presente como convidado especial da Presidenta Dilma Rousseff e do Governador Simão Jatene, o Ilustríssimo Senhor Mark Zuckerberg tendo como principal testemunha do ato solene o Professor da Universidade de Havard e Ministro-Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Doutor Roberto Mangabeira Unger, que vem de visitar a terra dos Tucujus (Amapá) presentes à celebração da primeira missa da improvisada igreja do Santo Cristo na floresta dos Mapuás em 1659.

Pra quê? Rememorando a Pax de 27 de agosto de 1659, lançar projeto de cooperação federativa e internacional para o desenvolvimento integrado do Golfão Marajoara com ênfase nas populações ribeirinhas dos estados do Amapá e Pará (Projeto Aruã-Tucuju). Desta maneira, a empresa Facebook poderia dar contribuição ao desenvolvimento socioambiental sustentável do maior arquipélago fluviomarinho do mundo e regiões costeiras vizinhas do delta-estuário do maior rio da Terra.

Oportunidade ímpar para a Pátria Educadora reunir vereadores, prefeitos e lideranças comunitárias e anunciar, oficialmente, a candidatura do Marajó à rede amazônica e brasileira de reservas da biosfera no programa Homem e Biosfera (MaB), da UNESCO. Ato contínuo, instalar a coordenadoria do Mosaico de Áreas Protegidas do Marajó. Como diria dom Helder, o sonho de um homem é sonho só: o sonho de muitos não é sonho, mas movimento. No caso, Movimento Marajó Forte.

Todavia, embora Mark seja de família judaica americana de classe média, duvido eu que a empresa do casal Zuckerberg queira fazer voluntariamente doações à campanha eleitoral dos Estados Unidos a candidatos como o senador judeu antissionista Bernie Sanders ou à senadora Elizabeth Warren, a qual declarou guerra ao poder imoderado dos lobbies do Dinheiro no Congresso norte-americano. Porém, o inusitado caso de amor platônico de um velho comunista marajoara por moço bilionário capitalista não visa angariar donativos para criancinhas ou velhinhos ribeirinhos, de maneira nenhuma. Mas, se deve ao seguinte fato nunca dantes neste país das palmeiras e muito menos na província dos aruãs e tucujus:

Durante a Cúpula das Américas, ocorrida recentemente no Panamá, o famoso dono do Facebook se encontrou com a Presidenta Dilma Rousseff para propor a ela uma inusitada parceria com a finalidade de levar internet rápida, barata e de boa qualidade aplicada a ações educativas e de responsabilidade socioambiental em favelas e mais bolsões de pobreza de áreas isoladas do Brasil. 

Dá pra fingir que eu não pensei logo no meu "carma" guia (codinome Marajó)? Quando um sujeito que veio ralando lá de baixo dobra o "cabo da Boa Esperança" (os fatais setent'anos de idade), não dá mais para ter múltiplas escolhas nos últimos quarteis de vida nem com a Lei da Bengala votada exclusivamente para infernizar a carreira de pretendentes a cargo vitalício de ministro do Supremo Tribunal. Então, o caboco velho que vós fala teve que ser seletivo e escolher as três últimas coisas de sua vida pra enrolar bandeira e encerrar história: primeiramente Marajó, depois Marajó e, por fim, Marajó ainda... 

O Marajó da minha avó Antônia da Silva, indígena nascida na aldeia da Mangabeira em Ponta de Pedras Marajó Pará, é claro. Pois há diversos Marajós da vida na riqueza e na pobreza. O meu Marajó é rico por natureza, social e culturalmente falando: se melhorar estraga... O problema é como levar a vida com engenho e arte sem deixar esbandalhar mais do que já está o antigo paraíso perdido (velho sonho da Yby marãey, utopia da Terra sem mal onde não existe fome, trabalho escravo, doença, velhice e morte). Já imaginou o IDH deste tempo de sonho? Você poderá argumentar que aquela antiga gente não sabia ler nem escrever, em compensação hoje metade da nossa população também não. E os nativos tinham memória coletiva prodigiosa, conheci um índio Maquiritare em Roraima que, certa noite na beira do rio Uraricoera, me brindou especialmente com a narrativa da história social de seu povo... escrita nas estrelas do céu.

Os caraíbas apesar de andar dia e noite conectados com o espírito Jurupari que fala e ri pela boca dos pajés; não sabiam nadinha de teoria da relatividade do espaço curvo... Então, depois de um tempo enorme de guerras pela guerra e correrias inúteis em busca da utopia selvagem no espaço plano do velho Euclides - os índios já batizados e crismados pelos padres analfabetos das religiões nativas e muito mal exemplados nas patifarias dos diretores dos índios - desandaram os bravos guerreiros a ficar à margem da história na beira do rio de Heráclito... Isto foi uma verdadeira desgraça que deu motivo à leseira amazônica e hoje os descendentes do Bon Sauvage nem imaginam que um dia no passado distante foram os seus maiores inspiração da Revolução Francesa. Palavra dos filósofos Montaigne e Rousseau.

Todavia, o índio com amnésia que se chama "caboclo" extraído do mato pelo Diretório dos Índios se ele levar um choque de educação libertadora ao modo Paulo Freire, poderá com certeza fazer acordo com Einstein e retomar à demanda do santo graal dos índios da América do Sul pela espiral evolutiva da Ciência e Tecnologia através da cultura para a Justiça e Paz: neste novo caminho ou mudança de paradigma civilizacional pela ecocultura: a fome será afastada do mundo para sempre; definitivamente o ócio criativo vencerá o império do trabalho; as doenças da pobreza serão totalmente erradicadas; a velhice não mais será um fardo inevitável para a humanidade e a morte não mais há de fazer terror a quem quer que seja desde o triunfo da Memória coletiva. 

O que a gente não quer, de jeito nenhum, é a miséria desse ínfimo IDH dos Marajós e também não aceita mais ficar parado na beira do rio a ver navios sabendo da continuidade do trabalho escravo e da exploração sexual da infância marajoara por tripulantes dementes de balsas de carga pesada entre a Zona Franca de Manaus ou Macapá para pegar estrada até São Paulo nesse passeio cartorial de produtos eletrônicos made in SUFRAMA. Que se implante a moralidade ou que nos locupletemos todos, já dizia Sérgio Porto. 

De maneira que, quando li na mídia o famigerado O Globo dar pissica às tratativas do Facebook com o governo do Brasil pensei logo, oba! Só pode ser coisa boa que vai ajudar a Pátria Educadora a desbravar os cafundós.

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  1. Dilma se encontra com criador do Facebook no Panamá - G1

    g1.globo.com/.../dilma-se-encontra-com-criador-do-facebook-no-panam...

    10 de abr de 2015 - Presidente e Mark Zuckerberg se reuniram em hotel na Cidade do Panamá. ... Após o encontro, Dilma afirmou ter encaminhado "importante parceria" com ... CONTRA o Brasil, porque a favor do país ela nunca fez e nem fará.
Já se sabe que o que é ruim para mídia alugada aos vendilhões da pátria é bom para o povo brasileiro. Mas, um caboco casca grossa meu parente diria sem pejo: quem liga a peido é penico... Aí está, sem delongas nem mais conversa fiada: Facebook já deu primeiros passos e criou laboratório digital na favela de Heliópolis em São Paulo.


Todavia, eu quero mais. Quero ver Quero-Quero a palha voar e o "balão de ensaio" de mister Facebook empinar no ar rumo ao espingarito das ideias nos altos céus sobre o golfão Marajoara, feito satélite meteorológico geoestacionado no chão de Dalcídio, com âncoras cravadas nos mondongos de campos alagados entre o rio e o mar lá pelas bandas da Contracosta ou em riba da floresta nacional de Caxiuanã às ilhargas de Bagre e da Resex Arióca-Pruanã (Oeiras do Pará), que nem balão de São João impulsionado por alta tecnologia a cabo de fibra óptica e energia solar. Conectar 2.500 ilhas com 500 e tantas aldeias-escola revitalizadas em universidade ribeirinha multicampi - a futura Universidade Federal do Marajó (UnM) integrando o MUSEU DO MARAJÓ tal e qual como integrados estão o Museu Nacional com sua bela coleção de cerâmica marajoara pré-colombiana e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - na mais interessante Reserva da Biosfera do planeta água entre a enorme Amazônia verde e a imensa Amazônia azul.

Sei que na distância do Brasil profundo as elites lá no eixo Sul-Sudeste brasileiro minada, muitas vezes, de patrioteiros bandeirantes tem surto de urticária toda vez que ouvem a palavra "Amazônia" e pensam logo na cobiça estrangeira e planos secretos de 'internacionalização'... Como não tê-los afinal de contas? O problema para os invasores é que a Amazônia é grande e além de Deus ser brasileiro o Brasil é maior que o abismo... Que nação industrial não desejaria dominar um bioma destes que é um mundo de biodiversidade e diversidade cultural, ainda, apesar de 300 e tantos anos de saques no "celeiro do mundo"? 

De fato, a região já foi "internacionalizada" desde o "testamento de Adão" de 1494, em Tordesilhas, quando nem Portugal havia revelado, isto é, "descoberto" o Brasil... De acordo com o arranjo tordesilhano desde a costa-fronteira do Pará para oeste toda a Floresta Amazônica com a ilha do Marajó em diante seria castelhana. Mas não combinaram com o povão indígena do rio Babel. E a gente marajoara queria porque queria, desde sempre, botar os pés na Terra Firme, país do Arapari (constelação do Cruzeiro do Sul) donde a marcha da Nação Tupinambá a tinha obrigado a recuar para as ilhas... 

Portanto, não foi tão difícil negociar a paz com os portugueses do Pará quando estes depois de três tentativas de ocupação das ilhas dos Marajós pelas armas foram rechaçados sem nada obter e tiveram que sentar para conversar em paz. Quem sabe desta velha história "inverossímil", declarada sem interesse acadêmico por medalhões de nossos cursos de História? E a Adesão de Muaná à Independência do Brasil foi esquecida sob a festividade do feriado do cambalacho neocolonial anglo-lusitano de 15 de agosto que pariu a guerra-civil amazônica apelidada de Cabanagem, pelo acadêmico Basílio de Magalhães na corte carioca, com seus 40 mil mortos numa rarefeita população de apenas 100 mil almas... 

Só se ama o que se conhece... Para conhecer a Amazônia Brasileira é preciso começar pelo começo que foi o Grão-Pará a partir de Belém e Marajó, como fez o sábio de Coimbra Alexandre Rodrigues Ferreira, na Viagem Philosophica, no século XVIII; e o co-fundador da teoria da Evolução Alfred Russel Wallace, autor de Viagens pelo Amazonas e Rio Negro. Se Marajó é a porta dos Estreitos de Breves para entrada ao Amazonas, o Rio Marajó-Açu é a chave que abre esta porta com seu chanceler (guarda dos selos) índio sutil Dalcídio Jurandir dando passaporte para viagem iniciática ao Arari secreto sob a sombra dos "índios bravios, desertores e escravos fugidos vivendo pelos centros da ilha" (os jebristas de hoje, ladrões de gado e piratas) que o museu do Gallo revela a olhos bovinamente desinteressados. 

Oh, Criaturada grande quem te conhece? Quanto a Pátria Educadora chegará ao sítio do último caboco ribeirinho num universo perto de 300 mil e 'tontos' analfabetos esperando Godot desde as pazes de Mapuá (Breves), há mais de 350 anos?

E, quando acaba, até para arrumar médico para tratar desses mais de 20 milhões de brasileiros das "nossas" regiões amazônicas foi preciso pedir ajuda de Cuba e outros países, porque há mais médicos brasileiros que odeiam o SUS por metro quadrado próximo a Copacabana que por quilômetros e quilômetros de Floresta Amazônica e costa marítima onde, imagina-se, reina o tal "espaço vazio" dos geopolíticos coloniais. 

Da parte que me toca deste latifúndio, digo e repito que o que falta, de verdade, é nacionalizar a Amazônia brasileira. Então, a brava gente marajoara se ainda é brasileira é porque sempre quis e não vai deixar de querer. Vejam esses tantos marajoaras que vieram de longe - exemplo geral do Gallo - se naturalizar na ilha dos marajós... O perigo da família Facebook vir até estas paragens do extremo norte das periferias da Periferia é a dita família se aculturar, engolida pela cobra grande Boiuna, e sair com uma versão amazônica de Facecaboco (nota importante: vermelho e preto são as cores tradicionais da antiga Cultura Marajoara).

Em 2004, Mark Zuckerberg fundou o Facebook juntamente com Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris Hughes, quando todos eram estudantes da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. No ano de 2010, Zuckerberg foi escolhido pela revista Time (espelho da rede Globo brasileira) como Personalidade do Ano. Facebook é a rede social mais conhecida e acessada do mundo. O seu criador adquiriu muito dinheiro com seu programa, inclusive rendeu até filme. Dinheiro não é problema: problema é o que se faz com ou sem dinheiro por causa do dito cujo.
O filme “A Rede Social” conta a vida de Mark Zuckerberg. Quem quiser saber mais não deixe de ver filme. E não esqueçam de procurar saber também a história de vida da senhora Zuckerberg, professora e médica pediatra de profissão, descendente de refugiados chineses que deram muito duro para sobreviver. Um bom exemplo para a juventude? Como diria minha avó: ele é assim, mas não é má pessoa.
QUEM TEM MEDO DE MISSUNGA?

Missunga, senhorzinho em língua banto angolana é herdeiro de terras da fictícia fazenda Paricatuba no romance de Dalcídio Jurandir "Marajó". Personagem central no drama malthusiano em todo Brasil agrário - donde promana a violência e o êxodo rural levando à superpopulação urbana, violência secundária e posterior emigração - se acha retratado artisticamente na canção Morro Velho, de Milton Nascimento. Na paisagem insular marajoara o papel de Missunga reproduz a ilusória igualdade racial onde o filho do branco e do preto que brincam e correm juntos pelos caminhos do latifúndio até chegar a hora da apartação de direitos e poderes: o "branco", não importa a cor da pele contanto que seja herdeiro do regime de propriedade de terras, vai estudar quase sempre na cidade e o "preto", independente do teor de melanina, vai pro eito tocar a propriedade ainda quase feudal. No romance a transformação social de Missunga  no papel do fazendeiro Manoel Coutinho ocorre com a morte do morgado pai, coronel Coutinho; para continuação do morgadio na pessoa do herdeiro da fazenda. Em torno da colonialidade deste velho drama ultramarino de ilhas portuguesas do Atlântico gira o vasto e complexo mundo afroamazônico da Criaturada dalcidiana.

"Quando volta já é outro, trouxe até sinhá mocinha prá apresentar
Linda como a luz da lua que em lugar nenhum rebrilha como lá
Já tem nome de doutor, e agora na fazenda é quem vai mandar
E seu velho camarada, já não brinca, mas trabalha."
( Milton Nascimento / Morro Velho).

Devemos nos lembrar do caso relatado pelo naturalista inglês Henry Bates no Pará, na segunda metade do século XIX, onde entre duas viagens ele constatou como a rara mudança econômica na vida de um preto que teve sorte de ficar rico o tornou socialmente "branco" e a crítica social na música de Caetano Veloso com que o apartheid brasileiro se disfarça:

"De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo

Onde os escravos eram castigados".
(Caetano Veloso / Haiti).
 

Hoje na Amazônia Marajoara o personagem Missunga / Manoel Coutinho representa as duas faces da vida real na terceira ou quarta geração do morgadio português importado pela colônia com as primeiras cabeças de gado e cavalaria de Cabo Verde no Grão-Pará, indeciso em abdicar o trono da casa-grande no reizado de fazenda e embarcar com o derradeiro embarque de gado no êxodo rural. Seguir o caminho aberto por filhos e netos de antigos escravos de suas famílias tradicionais, "libertos" pela Lei Áurea para tentar a sorte na periferia e invasões da cidade grande. Ou fincar os pés na lama pisando estrume dos currais, se tornar também ele fazendeiro herdeiro dos Contemplados, escravo de velhos usos e costumes do antigo modo de produção feudal do morgadio português transladado às colônias. 

Muitos destes senhores herdeiros das sesmarias dos barões de Joanes foram embora sem olhar pra trás. Porém, longe dos despossuídos do Diretório dos índios recuperar o espaço perdido; ultimamente são arrozeiros expulsos da terra indígena Raposa-Serra do Sol, em Roraima, favorecidos pelo agronegócio na nova ordem econômica, que vieram ocupar o vácuo deixado pelos reis do gado e desembarcaram de mala e cuia na ilha do Marajó começando nova invasão aparentemente para ficar.

Não foi por acaso que Vicente Salles identificou no romance de Dalcídio Jurandir o romanço ibérico de Dona Silvana e os pesquisadores de primeira hora sabiam da influência da antropologia cabocla de Manuel Nunes Pereira nas entrelinhas de "Marajó", aliás "Marinatambalo" no título original de 1939.

"Missunga, quando este, depois de assumir a administração dos negócios, após a morte do pai, ensaia sua nova condição, como que anunciando uma nova gênese: Depois de examinar as contas da marchantaria conversou longamente com o advogado, o gerente, os caixeiros e com Manuel Raimundo. Respirou alegremente cansado, e afirmou que aquele era, em verdade, o seu primeiro dia de trabalho em toda vida. – É o meu primeiro dia de criação (JURANDIR.1992. 308), grifei. “No segundo dia de criação, decide visitar o seu domínio com o administrador”. Na ida, rio acima, se dá conta do real tamanho das posses que herdara. É aí que vai-se dar um agon entre Missunga e Manuel Raimundo, quando o filho do Coronel fala que sua vontade seria estudar veterinária, fazer um plano de drenagem, uma charqueada. Na categórica resposta de Manuel Raimundo percebe-se o conflito natureza (Manuel Raimundo) x cultura (Missunga) numa espécie de seqüência daquela cena de brutalidade pré-cultura, pré- civilização a que me referi. Veja-se a incisiva colocação do administrador: – Ponha estes projetos de lado e consiga o seu diploma, menino. Em Marajó quem manda é a providência. Isso só melhora quando Deus mandar. No princípio do mundo não foi o dilúvio? Você perdia dinheiro e não fazia nada. Não acredito em doutores de gado (JURANDIR. 1992. 311)". --  Marajó: “A isto é que se chama um mundo!” Audemaro Taranto Goulart (∗ Professor da PUC Minas 1 O texto relativo à participação no Seminário, “Marajó sob o signo da antropologia e da estética”, publicado em Escrita literária e outras estéticas, organizado por Amarílis Tupiassú, Belém: Unama, 2006, volume 1 da Coleção Linguagens: estudos interdisciplinares e multiculturais).

MEMÓRIA E IDENTIDADE EM MARAJÓ, DE DALCÍDIO JURANDIR - Elizabeth de Lemos Vidal*

"A presença de Rosália nas reminiscências de Missunga dá conta do espaço ocupado pelas mulheres no interior da estrutura social criada no romance, estabelecendo uma ligação entre a memória individual e a memória social do sujeito que rememora. O mundo da Ilha do Marajó, é apreendido por Misssunga através das lembranças que combinam signos em movimento, em que os atos de “bater, cantar, conversar, ensinar, ralhar, mexer, tirar”, evocados pela lembrança, adquirem vida, luz, cor, consistência, cheiro, sons e calor. Nesse instante, entram em ação as “antenas” de que fala Antônio Sérgio Bueno ao considerar que “através dos sentidos o corpo acolhe extensão, consistência, profundidade, temperatura, luz e cor das coisas e das paisagens do mundo” (Jurandir, 1947: 23), grifei. A seqüência de imagens visuais, táteis, olfativas e auditivas – que se manifesta através da memória dos sentidos, dentro do romance Marajó – estabelece uma conexão entre passado e presente, realizando um percurso pelos espaços da memória que associa a infância à idéia de mobilidade, de ação e de movimento. Enquanto isso, o presente está ligado ao sentimento de fadiga e monotonia que envolve o adulto de volta para casa cujas “imagens do tédio e da infância misturando-se, (...) diante do desejo (...) que todos os desalentos se afundassem, todos os vagos ímpetos morressem para sempre (...) dentro de sua inércia. (...) por que viera da cidade para aquele torpor?” (Jurandir, 1947: 11) Esse estado de consternação e desalento do sujeito diante da vida aproxima a rememoração, presente no romance Marajó, à obra de Pedro Nava, Baú de ossos, em que o sujeito da memória anuncia o sentimento de tristeza que envolve o tempo presente:"

Cenários de filmes como o clássico "... e o Vento levou" desafiam nossa imaginação. Missunga no século 21 precisaria talvez tomar aulas em Havard, como Ciro Gomes fez, para não ter que renunciar ao Ceará. Sorte que um professor brasileiro de Havard está em Brasilia tentando ajudar a Presidenta Dilma a não cair do cavalo e levar mais adiante a história de 2003, um ano antes da criação da empresa de Mark Zucknerberg. Mangabeira Unger saberá, com certeza, lidar com as ambições do casal Facebook. O problema, entretanto, será convencer os fordistas de São Paulo de que a Terra gira em torno do Sol e não ao contrário como se acreditava há 500 anos.






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