A DIALÉTICA DO HOMEM E A BIOSFERA




Ilhas do mundo: re-Evoluções


Pela espiral evolutiva do espaçotempo (simbolizada no célebre sonho de Jacó como uma escada retorcida da terra para o céu); ou seja, da infra terrena para a superestrutura celeste, da física para a metafísica, etc.; eu queria lembrar as ilhas do mundo que parecem a lendária Arca de Noé, tais como Madagascar, Galápagos, arquipélago da Indonésia, Austrália e outras formações insulares de importância ao estudo da travessia da natureza para a cultura; tais quais como no Mediterrâneo, principalmente.

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A árvore das palavras representa a vida, uma vida é apenas uma folha da dita árvore, não é a Vida toda ela inteira.  Pra bom entendedor meia palavra basta... A perigosa idéia de Darwin teve o impacto de um tsunami sobre edificações das certezas do mundo ideológico: mas os fatos estavam expostos à vista de todos desde que o mundo é mundo. Depois disto continuaram abalos do velho edifício do pensamento até hoje sem, contudo, deixarem de coexistir o velho e o novo num tumulto formidável, para o bem e o mal.

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Segundo a Bíblia, na região da Caldeia (Mesopotâmia) o patriarca hebreu Abraão – aborrecido da maldade de seus vizinhos com a falta de pastagem para os rebanhos de todos moradores do lugar, naquele tempo Malthus havia razão – , teve um sonho no qual Javé lhe revelou ser o único deus criador do céu e da terra. E que, mediante aliança eterna com seus descendentes, destinara-lhe uma terra de bonança onde mana inesgotável fonte de leite e mel...

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Claro, havia cláusulas testamentárias terríveis no acordo e o Senhor se mostraria ciumento e vingativo no caminho para os hebreus chegarem até a Terra da Promissão.

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O maldito petróleo árabe ainda não havia aflorado do fundo das areias escaldantes do deserto, de modo que sem olhar pra trás os herdeiros do velho Abraão se esforçavam com denodo para tomar o que era seu por mandato divino. Que nem Francisco Pizarro sob ordem do imperador Carlos V estribado em bula papal intimava o Inca a ceder passagem aos Conquistadores. Toda Cristandade sabe até hoje que o arrogante bárbaro Atahualpa resistiu, dizendo ele que o rei católico deveria estar louco e o Papa bêbedo se realmente tivessem dado ao conquistador tamanha autoridade. Então, sem remédio outro, houve o que houve em Cajamarca (Peru)... E o império das Quatro Partes do Mundo se acabou. Na antiga Filistina Jacó dava fiel cumprimento ao tratado de Deus com o Povo de Israel, quando entre uma batalha e outra teve aquele sonho (Freud explica? Em parte acho que sim): o Diabo é que bons e maus samaritanos ou palestinos habitantes da região desde priscas eras, onde hoje está o beligerante Estado de Israel; não foram devidamente avisados da decisão de um deus estrangeiro para eles, e ainda assim deveriam saber: se quisessem viver em paz com violentos hebreus vindos da outra margem do Jordão cansados de carências mil e migrações sem fim. Neste capítulo da fadiga e da fome, a explicação das compensações de Adler supera de longe a teoria da libido de Freud, eu acho.

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Porém, a compensação evolucionista da milenar hegemonia criacionista é equatorial desde a América do Sul. Por acaso, a Ciência fez morada no Equador a partir das Galapagos. Provavelmente, desde épocas remotas índios sul-americanos se comunicavam de costa a costa através do grande rio Amazonas indo do golfo de Guaiaquil, no Pacífico, ao golfão marajoara, no Atlântico: mesmo caminho do espanhol Orellana e do português Pedro Teixeira.

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Eu gostaria de lembrar também a incrível história do arquipélago do Marajó, na foz do maior rio da Terra, sua ecocivilização de 1500 anos de idade destruída por invasões bárbaras desde 1300, aproximadamente, até a conquista final do rio das Amazonas (em nome de Deus e da santa Religião) pelos civilizados cristãos, no século XVII. O padre grande dos índios, Vieira; pregava aos peixes no deserto verde: rio Babel, rio das Almazonas!... Os bons católicos botaram-no fora com seus confrades a ponta pé e mal acabado de pacificar as ilhas dos Nheengaíbas (Marajó), depois de quarenta e quatro anos de guerra, El-Rei mentecapto (Afonso VI de Portugal) deu de mão beijada a maior ilha fluviomarinha do mundo a seu secretário de estado como capitania hereditária. Ilha da Barataria na boca do Amazonas, aliás capitania da Ilha Grande de Joanes ou Marajó, tendo vocação talvez para ser no Novo Mundo o que no velho havia sido o delta do Nilo.

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Sou um modesto pesquisador e divulgador da história regional tal qual ela me parece ser de verdade, além dos embaraços da babel historiográfica. Neste condão reside meu orgulho que não é pouco. Pois também sou um constante crítico do descaso das autoridades do Brasil e falta de interesse internacional a este respeito, com a louvável exceção de arqueólogos norte-americanos como Betty Meggers (recentemente falecida) e Anna Roosevelt, continuados pela incansável gaúcha Denise Shaan, felizmente. Claro, o fiasco do nosso patriotismo em matéria de cultura pré-colonial amazônica só não é pior graças a diletantes como Domingos Soares Ferreira Pena, Raymundo de Morais; e estudiosos como Curt Nimuendaju, Expedito Arnaud e Heloisa Alberto Torres, os quais pelejaram, mas não levaram a melhor sobre a leniência nacional. Pois de Nunes Pereira, Eidorfe Moreira, Dalcídio Jurandir e Giovanni Gallo já falamos tanto sem sucesso que estamos à beira da idolatria numa quixotesca academia do peixe frito que hoje vive de saudade e teimosia de uns poucos...

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Na curta régua do tempo parece distante a perigosa descoberta de Darwin nas ilhas Galapagos. Sendo que me interesso em contemplar as ilhas do mundo na perspectiva da Arca de Noé agora diante do “dilúvio” da mudança climática causada pela exploração desenfreada de recursos naturais. Na verdade, a super exploração da Terra mãe não poderia ocorrer sem alienação das grandes pessoas e escravidão do trabalho de negros, índios e brancos bastardos durante séculos de monoteísmo e suposta Civilização. Portanto, tudo que vai contra isto ainda é novidade e subversão. Contribui à reação criacionista inclusive o desconhecimento de que a “atrasada” Amazônia foi palco também de descobrimentos biogeográficos importantes para formular a teoria da evolução das espécies, na segunda metade do século XIX, com a viagem do naturalista Alfred Russel Wallace ao Pará e Rio Negro, que acabou sendo colaborador e concorrente de Charles Darwin.

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Poucos se dão conta de que da faixa equatorial da América do Sul – Amazônia e Galapagos – saíram os dados biogeográficos fundamentais que revolucionaram o conhecimento da vida na Terra, curiosamente observados e interpretados por dois naturalistas ingleses tementes a Deus (tampouco podemos nos esquecer da dialética entre ciência e religião na experiência do padre Teillard de Chardin, convertido ao evolucionismo sem renúncia do catolicismo com a paleontologia na China)... Neste caso, a tal “Arca de Noé” teria livrado sua carga não em um único sítio da biosfera, mas sim em várias “ilhas” diferentes antes de encalhar no topo do Monte Ararat, não muito distante do Mar Negro e da Capadócia, donde as guerreiras amazonas e os turcos encantados emigraram para vir inventar a Amazônia lendária no país de Ofir. Vale o que está escrito. Todavia, livre é a leitura do freguês conforme o próprio entendimento e a decisão de crer ou não crer na história é direito de cada leitor. A invenção do pecado e da culpa faz parte do grande arsenal de Terror universal (que inclui o fantasma das duas bombas atômicas de Nagazaki e Hiroxima)... Aleluia! A verdade nos salvará.

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A primitiva diáspora (dispersão humana) aconteceu no coração da África, há milhões de anos antes da lenda do Éden, Dilúvio, torre de Babel, etc: a matéria-prima da primitiva Arca de Noé era o barro e de barro se faz hoje a fornalha de rampas de lançamento de foguetes na corrida espacial, depois da cerâmica da tradição oral da Mesopotâmia é que veio a madeira canônica e posteriormente a idade dos metais. Adão e Eva eram negros descendentes de antropóides (prova-se por DNA, na verdade Lucy e “Adão Preto”...) e a Serpente entrou na história como Pilatos no Credo: mas todos nós brancos, pretos, amarelos ou pardos viemos, realmente, do pó das estrelas (ou da “partícula de Deus” pra não dizer bóson de Higgs, a bordo do Aleph do argentino Jorge Luis Borges) através da espiral evolutiva da Natureza... Ser ou não ser, eis a questão: sem dúvida não há Evolução.

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Todavia, enquanto grupos humanos nômades percorriam os quatro cantos da Terra até os confins do mundo; na verdade o atual Oriente Médio ensaiava a construção das primeiras cidades de pedras com populações trogloditas, fazendo das cavernas embrião da Civilização planetária. Essa gente arcaica colecionando retalhos aleatórios da história oral misturou, inseparavelmente, mitos e relatos de acontecimentos reais que se tornaram sagrados (que nem antigos reis da Núbia (África Negra) se tornaram deuses do panteão Egípcio para, mais tarde, através do helenismo colonizar a antiga Grécia...) e patrimônio da humanidade. Naquele cenário a escrita nasceu e, desde então, a Memória da humanidade evoluiu e expandiu-se enormemente por muitas gerações até a informática que já se insinua como clone do Espírito Santo, segundo profetas pós-modernos a exemplo do filósofo da comunicação Pierre Levy. No Cáucaso, uma mutação genética radical talvez causada por radiotividade natural de vulcões teria dado nascimento a mutantes inviáveis e à célebre “besta loura” de Nietzsche. A torre de Babel fica sendo uma pálida representação da diversidade étnica do mundo e da mundialização de hoje.

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Sem a verruma da curiosidade e a chave-mestra das suposições – que são andaimes da Ciência e Tecnologia – não se pode romper a casca grossa da ignorância que avassala as nações desunidas (vulgata da falta de Educação).

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Contudo, só a experiência científica ou empírica pode separar verdadeiramente o joio do trigo... Toda verdade dada (revelada) é dogmática e, portanto, domínio da religião: esta atitude humana consiste num primeiro passo para amadurecimento da Humanidade. Só a dúvida salva (inclusive a própria Fé de sua irracionalidade congênita e irredutível)! Quando a razão ilumina a fé dá-se o milagre da libertação até nas piores situações como a História prova diversas vezes. O ateísmo militante é tão pueril quanto o proselitismo religioso: porém é preciso partir de um profundo ateísmo para recuperar a idéia de Deus (Oswald de Andrade). Deus ou Natura (Baruch de Espinoza). Todo espírito de igreja fica aquém da religião natural de Voltaire. Mas a Liberdade é a religião da verdade (isto é, Filosofia) que consiste na outra face da responsabilidade de uns para com os outros. Melhor dizendo, solidariedade em amplo senso entre humanos e mais seres da natureza.

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Considere, se a partir de um organismo monocelular que nem uma ameba, através de muito longo tempo de evolução, foi possível produzir um cérebro complexo e uma mente excepcional como no caso de Einstein, isto é um “milagre” (singuralidade) ainda que operado por natureza e cultura, exclusivamente.

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Enquanto houver medo de castigo eterno ou ambição de recompensa após a morte haverá obscurantismo e terror sobre a terra... Exceção feita à aposta metafísica do matemático Pascal (viver honestamente neste mundo de falsidade e enganos, de tal modo que se houvesse outra vida além túmulo; o individuo, conforme o cânone do “Livro dos Mortos”, teria boa surpresa diante do trono de Osíris e/ou suas diversas configurações teológicas; ao contrário dos que vivem o inferno em vida na terra). Mas, que é isto afinal de contas? Moral: ou seja, evolução não mais do mais forte e sim do mais apto.

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Para muitos religiosos, o “fim dos tempos” e o “reino de Deus está próximo”. Aos olhos da ciência política isto é mais que uma metáfora pintada com as delirantes cores do Apocalipse (Livro das Revelações) pelo fato perceptível de que o Céu e o Inferno estão no meio de nós (na mente de cada um: neurociência explica). Ademais, objetivamente para a História a emergência do cristianismo (filho do judaísmo e irmão do islamismo) foi uma guerra-fria formidável travada contra o paganismo, em cujo desfecho um velho império decadente acabou aplicando o golpe e engolindo a revolução ganhando sobrevida até talvez a morte natural do imperialismo, por senilidade (o fim deste mundo e nascimento de outro mundo possível). Atenção, este sucesso histórico não é uma fatalidade astrológica, sim uma possibilidade da liberdade humana real e sustentável.

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Por necessidade e acaso, na América do Sul indígena a utopia da Terra sem males se casou com o messianismo marrano de Joaquim de Fiori, na Dispersão. Na Amazônia o Padre Antônio Vieira em seu labirinto deu o último grito do Quinto Império do Mundo ou Reino de Jesus Cristo Consumado na Terra. O ressurreição de Dom Sebastião no mundo colonial português bebeu nas fontes da magia afro-americana desde as ilhas do Atlântico e Caribe fazendo do Brasil o chamado País do Futuro, onde a mestiçagem de corpos e espíritos reinventou a charmosa palavra Civilização seja lá o que isto queira dizer. A dialética está estabelecida entre os dois hemisférios e as duas margens do Mar-Oceano como um bumerangue, de lá pra cá e de cá pra lá sucessivamente.

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Morreu o crente, lá se vão o Bem e o Mal juntos para o buraco com sua guerra santa interminável. Mas, o maniqueísmo resiste mesmo entre descrentes: a vingança, lei dos homens (Tupy ou não Tupy)... Eis a questão! Matam-se em nome de Deus, do Diabo, da Pátria, da Honra, da Tribo, da Família, da Humanidade, da Natureza, do Mercado, Tradições et caterva... Inútil a tábua da Lei com o mandamento “Não matarás”, se o próprio Senhor dos Exércitos mandou matar os inimigos de seus Eleitos (segundo a Santa Bíblia).

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Para matar a fome do bicho-homem matam-se animais em pangruélicas quantidades, mas vegetarianos que choram a morte de um bezerro e ecologistas que deploram a extinção de espécies da flora e da fauna ameaçadas pela avidez humana, nem sempre se interessam pela fome e a mortalidade de milhões de crianças no mundo.

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Logo, o amor é eterno enquanto dura... Quem deixa apagar a chama do amor conhece penas infernais em vida. Mas, atenção: fazer amor não é exatamente cultivar o amor... Não é para adular a Malthus, mas há uma explosão demográfica da Pobreza incrivelmente estúpida para uma espécie que se empavona de “sábia”... Nunca o mundo fez tanto amor e jamais o amor esteve tão ausente da humanidade como no longo século XIX, com a revolução industrial e suas promessas de progresso para humanidade, que longe ainda está de terminar há mais de 200 anos...

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A Religião (exercício de temor e ajustamento do indivíduo ao desconhecido personificado) precede à Política (arte das possibilidades do Homem) e à Ciência (conhecimento evolutivo da realidade da Natureza) na construção coletiva da sociedade. Na natureza tudo é interligado: só a mente concebe limites ao ilimitado, mesmo sendo a mente uma individuação do animal pré-hominídeo através de um cérebro singular, este cérebro e esta mente temporalmente formados fazem parte de uma longa cadeia de vidas e mortes (biologicamente falando) com base física de toda arquitetura mental... A moderna ciência da computação eletrônica facilita muito a compreensão da interatividade entre Natureza e Cultura, por comparação entre conceitos de “hardware” e “software”.

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Como o dia aparentemente nasce da noite e o cosmo do caos; é preciso uma completa ignorância para iniciar a um processo de conhecimento qualquer.... O pobre “Homo sapiens” fica como besta doméstica aos ditames do amo se não cogitar sobre as origens das coisas: não basta dizer ao homem quem inventou o mundo, é preciso que cada um se pergunte e por si mesmo encontre as respostas.

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A complexidade da existência humana e diversidade de sua cultura contrasta com a rude simplicidade das leis naturais e a confusão da biodiversidade.

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Nascemos entre fezes e urina, porém mal começamos a andar parece que temos o rei na barriga... A Fome universal é nossa mãe e mestra: por ela vivemos e morremos uns dos outros nos complexando no espaço físico até dar sentido ao inevitável tempo. Só quem tem consciência espacial vive de verdade e tem conhecimento da morte.

NOTA BIOGRÁFICA SOBRE OS PAIS DA TEORIA DA EVOLUÇÃO

Charles Darwin (1809 - 1882) nasceu em Shrewsbury (Inglaterra), conhecido por ser autor da teoria da evolução das espécies, através da seleção natural. Darwin deixou a cidade natal aos 16 anos de idade para estudar medicina na Universidade de Edinburgh. Porém, seu pai o obrigou a ir para a Universidade de Cambridge, a fim de torná-lo clérigo da igreja anglicana.

A vida religiosa não agradou o jovem Darwin e alguns anos depois ele aceitou convite para se tornar membro duma expedição científica que mudaria sua vida e o mundo científico. Ele passou cinco anos navegando pela costa do Pacífico e América do Sul, aportando em vários lugares, inclusive no Brasil. Logo depois, Darwin foi chamado para se tornar geólogo, botânico e zoólogo conforme estudos multidisciplinares daquela época.

Darwin reuniu grandes coleções de rochas, plantas e animais (fósseis e vivos), que foram enviados à Inglaterra, onde ele regressou. A partir de suas anotações deu início a sua obra "Origem das Espécies". Assim nasceu a famosa doutrina darwinista da seleção natural, da luta pela sobrevivência ou da sobrevivência do mais apto - pedra fundamental do seu livro publicado em 1859, sob muitas críticas e depois de muitas hesitações.

Segundo alguns biógrafos, uma troca de correspondência com seu contemporâneo Alfred Wallace serviu como pressão para Darwin publicar seus estudos, visto que se não o fizesse poderia perder o privilégio de fundador da nova teoria. Todavia, Wallace publicou suas observações amazônicas (1853), seis anos antes, contendo já elementos convergentes com os dados de Galapagos, fato que faz de Wallace precursor de Darwin embora o prestígio acadêmico deste último tenha lhe assegurado a notoriedade do “darwinismo”.

Charles Darwin continuou escrevendo sobre a sobrevivência das espécies até idade avançada, morrendo com 73 anos de idade e sepultado na abadia de Westminster.

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Alfred Russel Wallace (1823 – 1913) nasceu em Usk, Monmouthshire, na Inglaterra, em 8 de janeiro e morreu em Broadstone, Dorset, também na Inglaterra, a 7 de novembro.

Ao contrário da aristocracia de Darwin, Wallace era plebeu e trabalhou como topógrafo e arquiteto para ganhar a vida. Cerca de 1840 começou a se interessar por botânica e em 1848 iniciou viagem pelo rio Amazonas permanecendo na Amazônia até 1850. Fazia dez anos apenas que a região havia sido arrasada pela guerra-civil (1835-1840), conhecida como a Cabanagem. Percebeu que a astúcia dos índios e tapuios em responder de acordo com a expectativa do forasteiro, teria sido responsável pela lenda das “amazonas” divulgada por frei Gaspar de Carvajal no relato de viagem de Orellana.
Para custear suas pesquisas teria feito, como tantos outros naturalistas, venda de peças coletadas para instituições acadêmicas, fato que hoje se pode classificar como biopirataria. A valiosa coleção dessa expedição foi consumida pelo fogo na viagem de volta a Inglaterra, porém Wallace conservou anotações que serviram de base ao livro de suas descobertas evolucionistas na Amazônia (sua primeira obra, “Narrativa de viagens pelo Amazonas e o Rio Negro”, 1853). Viajou depois pelo arquipélago da Malásia entre 1854 e 1862, retornando definitivamente a Inglaterra dedicou-se a pesquisas científicas divulgadas em grande número de obras.

A evolução das espécies

Em 1858, em reunião da Sociedade Linneana de Londres, foram apresentados conjuntamente um resumo da teoria de Charles Darwin sobre a evolução das espécies e um ensaio de Wallace sobre o mesmo assunto, tomando como base a seleção natural. O mundo acadêmico entre maravilhado e assustado tomava conhecimento da revolução do pensamento científico que infira influir diretamente no marxismo e na psicologia de Freud, por exemplo.

O trabalho de Wallace, Sobre a tendência das variedades de se afastar indefinidamente do tipo original, foi publicado com outros ensaios, em 1870. Em 1869, Wallace divulgou a ampla pesquisa feita no arquipélago malaio, onde investigou a distribuição geográfica dos animais e assinalou a diferença de exemplares encontrados nas regiões oriental e austral do arquipélago, por ele separadas através de uma linha imaginária: a Wallace's line.

A sobrevivência do mais forte

A multidisciplinaridade de Wallace o levou a questões políticas como a estatização agrária, que ele defende; e campanha de vacinação que combate. Seu trabalho sobre a evolução das espécies, escrito em fevereiro de 1858, na Malásia, tem como ponto de partida o Ensaio sobre a população, de Thomas Robert Malthus. Anos depois, Wallace se afastaria de Darwin que defende a tese da "seleção sexual", preferindo a explicação da sobrevivência do mais forte e, em seu espiritualismo, aceita a intervenção de causas não identificadas na evolução das espécies. Seus trabalhos sobre a fauna fazem de Wallace um dos fundadores da geografia animal.

Obras

O primeiro livro de Wallace foi Narrativa de viagens pelo Amazonas e o Rio Negro (1853). Nesse, como em O arquipélago malaio, de 1869, o naturalista apresenta os resultados de suas excursões e estudos nas duas regiões.

Em 1870, divulga seus ensaios sobre o problema da evolução em Contribuições para a teoria da seleção natural. Seu livro Distribuição geográfica dos animais, de 1876, além de dar-lhe papel relevante na zoogeografia, torna-o um precursor dos modernos estudos da influência da divisão de terras emersas e da divisão dos mares sobre a genealogia das espécies.

Em 1882, publica Nacionalização agrária, defendendo a necessidade da propriedade estatal da terra. Em Quarenta e cinco anos de registro de estatísticas, de 1885, combate a vacinação, que considera perigosa e inútil.

As críticas de Wallace a Darwin, tanto pela seleção natural como pela seleção sexual, foram reunidas no livro Darwinismo, de 1889.

Wallace também deixou outras obras: O século maravilhoso, no qual estuda os êxitos e fracassos do século 19; O lugar do homem no universo; a autobiografia Minha vida, de 1905; O mundo e a vida, de 1910; e Meio social e progresso moral, de 1912.

Alfred Russel Wallace recebeu, em 1892, a Medalha de Ouro da Sociedade Linneana, prêmio que se concede, todos os anos, a um botânico ou zoólogo cujo trabalho tenha importância significativa para o avanço da ciência (dados da Enciclopédia Mirador Internacional).

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