BELÉM E MARAJÓ: AS DUAS MARGENS DA MESMA PAISAGEM CULTURAL
"tu te tornas responsável por aquilo que cativas" (Saint-Exupéry)
"Assim como Roosevelt, a arqueóloga brasileira Denise Schaan,
trabalhando na área desde 1998, acredita em uma origem local dos povos marajoaras, que se desenvolveram aprendendo a manejar a ecologia da ilha. Ao longo de 10 km às margens do igarapé dos Camutins, cerca de duas mil pessoas aldeadas em 34 tesos construíram lagos e barragens, explorando de maneira intensiva os recursos aquáticos; além disso fabricavam tecidos, trançados, belos objetos em osso, madeira e cerâmica, e realizavam trocas com povos distantes, de onde obtinham machados e adornos feitos de pedras inexistentes na ilha. Os mortos ilustres eram tratados com grande pompa, sepultados após um ritual de descarnificação, limpeza e pintura vermelha dos ossos, dispostos em grandes urnas funerárias decoradas com emblemas de sua linhagem e espíritos protetores."
VER+ http://viajandocomlucianadias.blogspot.com/2010/11/os-antigos-habitantes-da-ilha-de-marajo.html
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2012: O SENTIDO DO ANIVERSÁRIO DE BELÉM DA AMAZÔNIA
Faltando quatro anos para a cidade de Belém do Grão-Pará completar 400 anos desde sua fundação, a capital do Estado do Pará sito à margem direita do Rio Pará resta grandemente devedora de sua antiga Costa-Fronteira, localizada na grande Ilha do Marajó, margem esquerda da baia de mesmo nome.
Belém e Marajó são duas margens opostas da mesma paisagem cultural da qual Macapá é inseparável pelo fato geocultural e ecológico do delta-estuário da maior bacia fluvial do planeta. Ao centro deste golfão a Amazônia Marajoara mergulha em contradição e pobreza inaceitáveis, ameaçando emplacar 2015 - fim de prazo para as Metas do Milênio pactuadas pelos países-membros da ONU - com ínfimo IDH que o povo reclama através de suas lideranças desde fins da década de 1990.
Apesar da festividade que a data de 12 de janeiro enseja todos os anos na margem direita do gigantesco rio, a gente da margem oposta ainda não tem motivos para participar das comemorações. A crônica colonial feita para glorificar as armas e os barões assinalados, sonega miseravelmente a saga dos bravos Tupinambás sem os quais seria impossível estarmos nós agora a lembrar aquele "forte" do Presépio, simples paliçada indígena, que se transformou logo na praça de defesa da orgulhosa e truculenta "Feliz Lusitânia" e depois o nobre Forte do Castelo.
Por acaso, apesar de invisível e incerta a famigerada "linha" de Tordesilhas (1494-1750) cortou perpendicularmente a baía do Marajó, deixando a dita Costa-Fronteira do Pará, na Ilha do Marajó, no domínio dos Reis Católicos e a margem direira no quinhão de Sua Majestade Fidelíssima. Inconformado com o "testamento de Adão" Sua Majestade Cristianíssima instalou a França Equinocial [São Luís do Maranhão] em 1612, tomada pelos portugueses em 1615. Mas, o espanhol Pinzón chegou primeiro a Marajó (1500) antes de Cabral na Bahia; e cuidou logou de arrastar de lá para as Antilhas 36 índios escravos, provavelmente Aruãs... Já pelo caminho das Antilhas e Guianas mercadores holandeses e britânicos se infiltraram até o Xingu e Baixo-Amazônas, até o pau quebrar e os endiabrados Tupinambás à frente dos portugueses tomar destruir Mariocai onde se levantou o forte de Santo Antônio de Gurupa (1623)... Deixando uma riza de setecentos diabos apenas mitigada pela Pacificação dos Nheengaíbas (rio Mapuá, Breves, 27 de agosto de 1659). seguido da fundação das aldeias de Aricará (Melgaço) e Arucaru (Portel), no mesmo ano, pelo padre Antônio Vieira: prova de que o sebastianismo e a "História do Futuro" no que concerne à paisagem de Furos, não foi fantasia do "paiaçu dos índios" expulso a tapas com seus companheiros por defender a extinção dos cativeiros indígenas (lei de 1655).
E assim, pacificados os índios ferozes El-Rei doou aquela ilha ao seu ministro de estado Antônio de Macedo de Sousa como donatário e patriarca dos barões de Joanes. Mas, só em 1680 foi levantado o primeiro curral de gado no rio Arari, por Francisco Rodrigues Pereira, em risco dos "índios bravios, desertores e escravos fugidos" que existiam pelos centros da ilha: ou seja, etnias Aruãs e Anajás e quilombolas já naqueles tempos recuados...
E, no entanto, mil anos antes a Cultura Marajoara havia dado início à ecocivilização amazônica (diz a arqueologia e antropologia marajoara). E pois, em junho próximo, todo mundo estará na Cidade Maravilhosa a dar balanço de duas décadas de blablablá ecologista, na já famosa Rio+20... Mas, é claro que alguém há de falar de Marajó nem que seja por causa da novela das seis que a TV-Globo irá mostrar desde as águas grandes de março vindouro! Quem sabe os caruanas façam uma surpresa aos televidentes da telinha em "Amor eterno amor"?
Mal e porcamente a brava gente marajoara vai esperando uma tal reserva da biosfera pedida em Muaná, 2003, à vista de uma área de proteção ambiental que não ata e nem desata [parágrafo 2º, VI, artigo 13 da Constituição do Estado do Pará] , por acaso um "jabuti" colocado em nome da gente marajoara a fim de impedir que Brasília, diz-que a pedido do Rio de Janeira, mandasse construir na antiga ilha do Nheengaíbas um presídio de segurança máxima para isolar a alta bandidagem tupiniquim...
Oxalá, no próximo ano a gente tenha bons motivos a comemorar! São os votos dos cabocos ribeirinhos.
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