7 DE JANEIRO 2012: 177 ANOS DE CABANAGEM
* A Revolução Paraense *
Conforme tese do sociólogo Pasquale di Paolo, em "Cabanagem - A Revolução Popular da Amazônia", a invasão de Caiena (1809-1817) por tropas paraenses por ordem do rei Dom João VI instalado com a corte portuguesa no Rio de Janeiro, em represália à invasão de Portugal pelas forças de Napoleão Bonaparte; produziu autêntico tiro pela culatra... O fato de que estas tropas do Pará com soldados tapuios, cabocos e negros libertos sob comando militar anglo-lusitano entrar em contato com a população crioula da Guiana francesa e a Revolução republicana na colônia vizinha ocupada, bem como as notícias ali da recente independência do Haiti (1794); emancipado por Toussaint l'Ouvertura; um escravo libertador de outros escravos no primeiro país latino-americano independente da Europa.
Desde então, a retorno das tropas de Caiena ao Pará passou a "contagiar" a população com ideias subversivas da República e da abolição da escravatura. Em Belém, o bairro da Campina passaria a ser reduto da revolução enquanto através do rio Guamá lavradores do Acará, Barcarena, Vila do Conde, Beja e Muaná, na ilha do Marajó; seriam pouco a pouco recrutados pela causa por diversos elementos que buscavam abrigo no interior fugindo da violência e arbitrariedade dos agentes imperiais. As condições peculiares da Amazônia no século da revolução industrial, o isolamento geográfico e a navegação dependente do regime de ventos e correntes marítimas mantinham a dependência de Belém em relação a Lisboa inalterada, e o monopólio do comércio por portugueses e ingleses acentuava os conflitos herdados em dois séculos de colonização. Pode-se compreender o sentimento de frustração e revolta do povo do Pará com o regime imperial do Rio de Janeiro, muito mais a desconfiança mortal criada pela truculência do agente inglês John Pascoe Greenfell mandado por Lord Cochrane obter a Adesão do Pará que, em vez de apoiar os paraenses do movimento popular de 14 de Abril os quais proclamaram a Adesão em Muaná, a 28 de Maio de 1823; colocou-se claramente ao lado dos opressores com a presepada de 15 de agosto. A qual de engano em engano desatou a Tragédia do Brigue Palhaço, em outubro do mesmo ano. Ferida aberta na memória paraense e que, na opinião unânime dos historiadores, se tornariam no estopim da invasão de Belém pelos cabanos de 7 de Janeiro de 1835.
Nunca antes os cabanos se trataram por este nome. Considera-se geralmente que foi Basílio de Magalhães, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) quem, ao estudar a revolução do Pará a comparou com a Guerra dos Cabanos (1832-1835), em Alagoas e Pernambuco. Cabanos eram os moradores de cabanas, a população de mestiços, escravos libertos e indígenas que participaram da Cabanada. E da Cabanagem, no caso paraense.
O Cabano Paraense. Pintura de Alfredo Norfini, 1940. Museu de Artes de Belém.
O cabano paraense ainda hoje, em maior parte, mora em barraca coberta de palha sobre palafitas. O primeiro 7 de Janeiro na história do Povo Paraense é do ano de 1619, a revolta do Tupinambás começada na aldeia Cumã, no Maranhão, pelo pajé Pacamão ultrajado em sua honra de guerreiro pelos filhos do governador Jerônimo de Albuquerque. O índio Amaro, tendo aprendido a ler e a escrever, leu a carta que lhe mandaram levar a São Luís com as notícias de preparativos para atacar e dominar os índios. Daí o assalto ao Forte do Presépio pelo cacique Guaimiaba [Cabelo de Velha]. O primeiro dia sete de muitos janeiros na História do Pará.
Passados 177 anos, vê-se que os mortos da Cabanagem não morreram em vão. Que seus heróis e mártires, pelo caminho das contradições do tempo, hoje estão revificados nos seus continuadores contra as injustiças sociais, o trabalho escravo notadamente que continua a denegrir a imagem do grande Brasil democrático que todos queremos; a miséria intolerável, os preconceitos e tudo mais que atenta contra a dignidade humana e os Direitos Humanos Universais.
A luta continua por via democrática e irá continuar até o dia em que todos e todas neste País, e particularmente no Estado do Pará, beneficiar de plena cidadania.
Viva a Cabanagem! Viva a Democracia popular!
Os Cabanos
ResponderExcluirVentos das mil trajetórias
jamais conseguirão esquecer
aquilo que tá na memória
e que os livros história
tentam em vão esconder
Histórias pra posteridade
tradução oral dos comuns
lembrando o sol da liberdade
socializando sua claridade
à todos, não só pra alguns
Gente de muitas paragens
de Muaná, da Vigia, do Acará
que Barcarenavam nas margens
morando em pobres estalagens
na Província do Grão Pará
Esquecidos nas choupanas
tapuius, casebres palafitais
geravam riquezas nas cabanas
em condições subumanas
Pras elites maiorais
Gente humilde da cidade
Sofrendo abandono total
nunca tendo oportunidade
De viver com dignidade
mesmo morando na capital
Gente simples, mas valente
que fez a Historia, sim
tendo na linha de frente
um com a mais nobre patente:
o sumano caboclo Angelim
Movimento tão verdadeiro
onde Índio se fez irmão
dos Atabaques negreiros,
dos roceiros, barqueiros,
os mais humildes do povão
Parceiros amigos dos Ventos
que puderam, sim, escrever
o mais belo dos movimentos
num inigualável momento
do povo chegando ao poder
Todo Grão Pará viu ousadias
na luta contra a opressão,
nas muitas cartas de alforrias
e no clarear dum novo dia
de euforia, de libertação
Festa na capital cabana
Belém parauara vendo o fim
de uma oligarquia insana
diante da vontade soberana
do povo liderado por Angelim
Alegria por várias semanas
desde o Salgado à Cametá
de onde sumanos e sumanas
em honra a vitória cabana
dançavam pro irmão Tupinambá
Que o tempo nunca apague
Histórias memoriais, assim
E que por Maria Onça propague
nomes como dos irmãos vinagres
Batista Campos, Eduardo Angelim
E no Memorial Á Cabanagem,
onde heróis repousam em paz
a gente vê justa homenagem
à lendária brava coragem
dos manos cabanos imortais
No histórico Memorial bonito
Oscar Niemeyer nos faz ver
que lá pras bandas do Infinito
tudo é registrado, escrito
sobre quem faz a hora acontecer
Jetro Fagundes
Farinheiro Marajoara
Rio Mar!
ResponderExcluirVIVAA!!!!
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