7 DE JANEIRO 2012: 177 ANOS DE CABANAGEM

  * A Revolução Paraense

O nome “Cabanagem” remete à Revolução Paraense durante a guerra-civil amazônica de 1835-1840 a cabo de sucessivos conflitos políticos - 30 mil mortos numa população de 100 mil habitantes! - com antecedentes na pregação liberal do jornal "O Paraense", fundado por Felipe Patroni; e na agitação popular para adesão do Pará à Independência do Brasil, em 1823.

Conforme tese do sociólogo Pasquale di Paolo, em "Cabanagem - A Revolução Popular da Amazônia", a invasão de Caiena (1809-1817) por tropas paraenses por ordem do rei Dom João VI instalado com a corte portuguesa no Rio de Janeiro, em represália à invasão de Portugal pelas forças de Napoleão Bonaparte; produziu autêntico tiro pela culatra... O fato de que estas tropas do Pará com soldados tapuios, cabocos e negros libertos sob comando militar anglo-lusitano entrar em contato com a população crioula da Guiana francesa e a Revolução republicana na colônia vizinha ocupada, bem como as notícias ali da recente independência do Haiti (1794); emancipado por Toussaint l'Ouvertura; um escravo libertador de outros escravos no primeiro país latino-americano independente da Europa.

Desde então, a retorno das tropas de Caiena ao Pará passou a "contagiar" a população com ideias subversivas da República e da abolição da escravatura.  Em Belém, o bairro da Campina passaria a ser reduto da revolução enquanto através do rio Guamá lavradores do Acará, Barcarena, Vila do Conde, Beja e Muaná, na ilha do Marajó; seriam pouco a pouco recrutados pela causa por diversos elementos que buscavam abrigo no interior fugindo da violência e arbitrariedade dos agentes imperiais. As condições peculiares da Amazônia no século da revolução industrial, o isolamento geográfico e a navegação dependente do regime de ventos e correntes marítimas mantinham a dependência de Belém em relação a Lisboa inalterada, e o monopólio do comércio por portugueses e ingleses acentuava os conflitos herdados em dois séculos de colonização. Pode-se compreender o sentimento de frustração e revolta do povo do Pará com o regime imperial do Rio de Janeiro, muito mais a desconfiança mortal criada pela truculência do agente inglês John Pascoe Greenfell mandado por Lord Cochrane obter a Adesão do Pará que, em vez de apoiar os paraenses do movimento popular de 14 de Abril os quais proclamaram a Adesão em Muaná, a 28 de Maio de 1823; colocou-se claramente ao lado dos opressores com a presepada de 15 de agosto. A qual de engano em engano desatou a Tragédia do Brigue Palhaço, em outubro do mesmo ano. Ferida aberta na memória paraense e que, na opinião unânime dos historiadores, se tornariam no estopim da invasão de Belém pelos cabanos de 7 de Janeiro de 1835.

Nunca antes os cabanos se trataram por este nome. Considera-se geralmente que foi Basílio de Magalhães, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) quem, ao estudar a revolução do Pará a comparou com a Guerra dos Cabanos (1832-1835), em Alagoas e Pernambuco. Cabanos eram os moradores de cabanas, a população de mestiços, escravos libertos e indígenas que participaram da Cabanada. E da Cabanagem, no caso paraense.


O Cabano Paraense. Pintura de Alfredo Norfini, 1940. Museu de Artes de Belém.

O cabano paraense ainda hoje, em maior parte, mora em barraca coberta de palha sobre palafitas. O primeiro 7 de Janeiro na história do Povo Paraense é do ano de 1619, a revolta do Tupinambás começada na aldeia Cumã, no Maranhão, pelo pajé Pacamão ultrajado em sua honra de guerreiro pelos filhos do governador Jerônimo de Albuquerque. O índio Amaro, tendo aprendido a ler e a escrever, leu a carta que lhe mandaram levar a São Luís com as notícias de preparativos para atacar e dominar os índios. Daí o assalto ao Forte do Presépio pelo cacique Guaimiaba [Cabelo de Velha]. O primeiro dia sete de muitos janeiros na História do Pará.

Passados 177 anos, vê-se que os mortos da Cabanagem não morreram em vão. Que seus heróis e mártires, pelo caminho das contradições do tempo, hoje estão revificados nos seus continuadores contra as injustiças sociais, o trabalho escravo notadamente que continua a denegrir a imagem do grande Brasil democrático que todos queremos; a miséria intolerável, os preconceitos e tudo mais que atenta contra a dignidade humana e os Direitos Humanos Universais.

A luta continua por via democrática e irá continuar até o dia em que todos e todas neste País, e particularmente no Estado do Pará, beneficiar de plena cidadania.

Viva a Cabanagem! Viva a Democracia popular!

Comentários

  1. Os Cabanos

    Ventos das mil trajetórias
    jamais conseguirão esquecer
    aquilo que tá na memória
    e que os livros história
    tentam em vão esconder

    Histórias pra posteridade
    tradução oral dos comuns
    lembrando o sol da liberdade
    socializando sua claridade
    à todos, não só pra alguns

    Gente de muitas paragens
    de Muaná, da Vigia, do Acará
    que Barcarenavam nas margens
    morando em pobres estalagens
    na Província do Grão Pará

    Esquecidos nas choupanas
    tapuius, casebres palafitais
    geravam riquezas nas cabanas
    em condições subumanas
    Pras elites maiorais

    Gente humilde da cidade
    Sofrendo abandono total
    nunca tendo oportunidade
    De viver com dignidade
    mesmo morando na capital

    Gente simples, mas valente
    que fez a Historia, sim
    tendo na linha de frente
    um com a mais nobre patente:
    o sumano caboclo Angelim

    Movimento tão verdadeiro
    onde Índio se fez irmão
    dos Atabaques negreiros,
    dos roceiros, barqueiros,
    os mais humildes do povão

    Parceiros amigos dos Ventos
    que puderam, sim, escrever
    o mais belo dos movimentos
    num inigualável momento
    do povo chegando ao poder

    Todo Grão Pará viu ousadias
    na luta contra a opressão,
    nas muitas cartas de alforrias
    e no clarear dum novo dia
    de euforia, de libertação

    Festa na capital cabana
    Belém parauara vendo o fim
    de uma oligarquia insana
    diante da vontade soberana
    do povo liderado por Angelim

    Alegria por várias semanas
    desde o Salgado à Cametá
    de onde sumanos e sumanas
    em honra a vitória cabana
    dançavam pro irmão Tupinambá

    Que o tempo nunca apague
    Histórias memoriais, assim
    E que por Maria Onça propague
    nomes como dos irmãos vinagres
    Batista Campos, Eduardo Angelim

    E no Memorial Á Cabanagem,
    onde heróis repousam em paz
    a gente vê justa homenagem
    à lendária brava coragem
    dos manos cabanos imortais

    No histórico Memorial bonito
    Oscar Niemeyer nos faz ver
    que lá pras bandas do Infinito
    tudo é registrado, escrito
    sobre quem faz a hora acontecer

    Jetro Fagundes
    Farinheiro Marajoara

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